Em mais uma tentativa desesperada de conter a queda nas taxas de natalidade, o governo de Tóquio decidiu adotar uma jornada 4x3 para seus funças. Será que isso vai funcionar?
Se você não estava em Marte nas últimas semanas, sem dúvidas você se lembra daquela conversa fiada a respeito da redução da jornada de trabalho no Brasil, da atual escala 6x1 para uma escala de 4x3. Bem, o tema, que foi uma coqueluche imediata, já desapareceu por completo dos noticiários. Foi o típico papo de político esquerdista: causaram todo um frenesi a respeito do tópico, apenas para ver se conseguiam levantar a bola murcha do PSOL. Depois, toda a bolha esquerdista fingiu demência, o que não é difícil pra essa gente.
Mas, se no Brasil a jornada 4x3 parece mesmo distante da realidade, o mesmo não se pode dizer do Japão. Ou melhor, de sua capital, Tóquio. Afinal de contas, o governo metropolitano determinou que, a partir de abril de 2025, haverá uma redução da jornada para a tão sonhada escala 4x3. Mas isso, ao contrário do que supostamente foi a motivação do debate sobre tal medida em terras tupiniquins, não se dará por interesses da classe trabalhadora. Na verdade, a ideia do governo de Tóquio é reverter - ou pelo menos tentar reverter - o grave decréscimo populacional que o país tem enfrentado.
Esse problema tem castigado o Japão, e também tirado o sono dos políticos de lá, há algum tempo. Nós já falamos sobre isso aqui no canal em vários vídeos, como: "O JAPÃO está a caminho de um COLAPSO DEMOGRÁFICO" e "Governo de TÓQUIO lança TINDER ESTATAL para aumentar a TAXA DE NATALIDADE: vai funcionar?" - links na descrição. Aliás, apenas o título do segundo vídeo aqui recomendado já nos dá uma boa prévia de como o governo da capital japonesa está mesmo desesperado…
Porém, é importante frisar que essa redução na jornada de trabalho não valerá para todos os trabalhadores da maior metrópole do mundo. Isso se aplica, apenas, para os 160 mil funcionários do governo metropolitano. E quantos aos outros 30 milhões de toquiotas? Bem, deixa isso pra lá. Em resumo: o que a capital do Japão está fazendo está longe daquilo que a extrema-esquerda comunista brasileira quis implantar na Terra Brasilis.
Segundo a governadora de Tóquio, Yuriko Koike, a ideia por trás dessa política laboral é criar "um futuro onde homens e mulheres possam prosperar" - seja lá o que isso significa. Ainda de acordo com a governadora, é preciso garantir que as mulheres não tenham que escolher entre carreira e maternidade. Também é difícil entender como uma coisa pode significar a outra, uma vez que qualquer mulher com filhos pequenos continuará tendo dificuldades em conciliar maternidade e trabalho nos 4 dias semanais de trabalho.
Mas, na prática, o quanto isso representa de melhora para os funças de Tóquio? Atualmente, os trabalhadores do governo metropolitano trabalham apenas 5 dias por semana, sendo que cada funcionário tem direito a uma folga extra a cada 4 semanas. Então, trata-se de uma jornada que, sob muitos pontos de vista, já é bastante flexível. A nova regra, portanto, vai apenas fazer essa folga extra se tornar semanal.
Além disso, os funcionários públicos que tenham filhos pequenos também terão a opção de trocar parte de seu salário por uma redução na carga diária de trabalho, podendo sair mais cedo de suas funções. Resta saber o quanto os japoneses estão dispostos, no atual cenário, a abrir mão de suas remunerações… mas já vamos chegar nesse ponto.
É evidente que estamos diante de mais um claro caso de desespero estatal. E o motivo para todo esse desespero é bastante simples: a população japonesa está encolhendo a olhos vistos. De acordo com dados do próprio governo, a população do país pode encolher 30% nos próximos 50 anos, chegando a 87 milhões de pessoas - contra os atuais 121 milhões. Só que a coisa fica ainda pior: daqui a 50 anos, não apenas a população terá encolhido, como também terá envelhecido muito: 40% dos japoneses serão idosos, em 2070.
Esse cenário aterrador é alimentado, como era de se esperar, pela conhecida longevidade dos japoneses. Porém, o grande problema, sem dúvidas, é a drástica queda na taxa de fecundidade - e isso no Japão, como um todo. No ano passado, essa taxa foi de 1,2 - muito abaixo dos necessários 2,1 filhos por mulher, valor fundamental para a manutenção da população. Por isso, apenas em 2023, a população japonesa encolheu em mais de 800 mil pessoas.
Então, a ideia evidente do governo de Tóquio é fazer com que as pessoas trabalhem menos para que, assim, possam ter mais filhos. É a visão de que o trabalho afasta os pais do convívio familiar e que, portanto, o excesso de horas de trabalho seria responsável por retirar os corretos incentivos para o crescimento da prole. Isso pode até fazer algum sentido, tendo um pouco de boa vontade para com o governo da Sra. Koike. Mas será que o povo japonês realmente quer essas duas coisas - a saber, a redução em suas horas de trabalho e o aumento no número de filhos?
Bem, ao que tudo indica, a resposta para ambas as indagações é um sonoro NÃO. Na verdade, o governo japonês já tem incentivado jornadas de trabalho mais curtas pelo menos desde 2021. E não se pode dizer que tal iniciativa tem sido bem sucedida. De lá pra cá, apenas 8% das empresas sediadas no Japão aderiram a uma escala de trabalho reduzida. No caso da Panasonic, por exemplo, a redução na jornada foi oferecida a 63 mil funcionários, mas apenas 150 aceitaram tal redução. Pois é: não dá para dizer que essa iniciativa foi um sucesso entre os japoneses.
Os motivos para a recusa de uma jornada reduzida, como era de se esperar, estão relacionados à renda. Os japoneses, basicamente, querem trabalhar mais, para ganhar mais dinheiro - especialmente com o acúmulo de horas extras, que desaparecem em jornadas menores. E, dado que a economia japonesa tem patinado há décadas, e a situação financeira dos moradores de lá não é nada confortável, fica fácil compreender o fracasso de iniciativas do tipo.
O fato é que, mais uma vez, a origem dos problemas japoneses - demográficos e econômicos - reside na ação estatal. Décadas de intervenção fizeram com que a economia do país se transformasse em um verdadeiro zumbi. Não é por outro motivo que temos visto o Japão apresentar queda em seu PIB em vários trimestres seguidos - o que pode indicar um claro risco de recessão.
Além disso, a moeda do país - o iene - tem se enfraquecido bastante nos últimos tempos. E isso - como todo brasileiro bem sabe, diga-se de passagem - ajuda a elevar o custo de vida - que, por sinal, já é bastante alto no Japão. É óbvio, portanto, que o encarecimento do dia-a-dia tem levado os japoneses a gastar menos dinheiro e a fazer dívidas de longo prazo - como, por exemplo, ter filhos. Sim, eu sei que isso soa cruel e desumano, mas é a verdade econômica. Filhos geram compromissos de longo prazo e que, portanto, tendem a ser evitados em tempos de penúria.
Mas a coisa não se restringe, apenas, às questões econômicas. Durante muito tempo, governos mundo afora incentivaram a redução das famílias - chegando a extremos ditatoriais, como foi o caso da China com sua política do filho único. O controle de natalidade se tornou uma bandeira estatal em praticamente todo o mundo desenvolvido, em algo que se configurou em uma verdadeira cultura de não ter filhos - ou de tê-los em pequena quantidade. Afinal de contas, o mundo não suporta tanta gente assim! Pois bem, estão aí, diante de nossos olhos, as consequências dessas ações estatais. E como resolver isso, uma vez que essa cultura já está enraizada na sociedade? Pois é: isso não é nada fácil; e não será uma canetada estatal que vai resolver esse problema.
A governadora Yuriko Koike afirmou: "Agora é a hora de Tóquio assumir a liderança na proteção e melhoria da vida, dos meios de subsistência e da economia de nosso povo durante esses tempos desafiadores". Parece muito bonito no discurso, não é mesmo? Mas a realidade é muito menos atrativa. Não apenas Tóquio, mas o mundo desenvolvido, como um todo, tem lutado duramente para reverter esse cenário. E, de norte a sul, de leste a oeste, todos os governos têm falhado miseravelmente nesse intento.
Chegamos, assim, ao grande dilema: será que esse problema tem mesmo solução? E, bem, não podemos responder a essa pergunta; afinal de contas, não somos políticos, que fingem possuir todas as respostas, para todos os problemas. Se houver, de fato, uma mudança de mentalidade por parte da sociedade humana, retornando aos padrões de alta taxa de fecundidade, isso não virá pela ação do estado - será algo orgânico, natural. E, talvez, demande muito tempo para acontecer.
Enquanto isso, será que os programas estabelecidos pelo governo de Tóquio conseguirão segurar o decréscimo populacional japonês? É pouco provável. A solução para a crise demográfica japonesa não está na caneta de uma burocrata. Se ela existir, ela não virá pela ação do estado. Se por meio da imigração, da tecnologia, das inteligências artificiais ou através de uma mudança de cultura, a solução para o problema japonês virá das pessoas de forma natural, pelo mercado, pela sociedade, pela economia.
E, para entender a situação calamitosa da sociedade japonesa, em especial dos jovens, veja agora o vídeo Hikikomori: os eremitas modernos do Japão", o link segue na descrição.
Hikikomori: os eremitas modernos do Japão
https://www.youtube.com/watch?v=IZ7Rpvawy_0
O JAPÃO está a caminho de um COLAPSO DEMOGRÁFICO
https://www.youtube.com/watch?v=gB7UeCFURU4
Governo de TÓQUIO lança TINDER ESTATAL para aumentar a TAXA DE NATALIDADE: vai funcionar?
https://www.youtube.com/watch?v=Tz4hmrsO47s
https://en.clickpetroleoegas.com.br/Japan-to-reduce-working-hours-so-workers-can-focus-on-having-children/
https://thenews.waffle.com.br/mundo/toquio-anuncia-semana-de-trabalho-de-4-dias