ROBERT PREVOST é ELEITO PAPA LEÃO XIV: a IGREJA CATÓLICA está SE MODERNIZANDO?

Habemus Papam! A Igreja Católica tem um novo Sumo Pontífice! Mas o que nós temos a ver com isso?

Se você é um pouco mais antigo, certamente você se lembra do meme do “um papa americano”. Alguns mais exaltados afirmam que essa “profecia da internet” foi cumprida com Francisco que, sendo argentino, foi, de fato, um papa americano. Contudo, os mais puristas esperavam a eleição de um pontífice estadunidense - apenas para usar o jargão preferido da esquerda brasileira. Pois bem: para esses, o dia finalmente chegou - porque, em 08 de maio de 2025, após um brevíssimo conclave, o cardeal norte-americano Robert Francis foi eleito papa, assumindo o nome de Leão 14.
Justiça seja feita: o famoso site The New York Times já havia previsto essa possibilidade - embora os cardeais Parolin (o italiano) e Tagle (o filipino) aparecessem como os favoritos na maioria das casas de apostas. A propósito: se você fez sua fezinha na eleição do novo papa, não se preocupe! A pena de excomunhão para apostas no nome do novo pontífice, estipulada por Gregório 14, no fim do século 16, já não está mais em vigor. Mas duvido muito que você tenha ganhado essa… é como se diz: quem entra no conclave como papa, sai como cardeal.
Mas, afinal de contas, quem é o novo papa da Igreja Católica? Robert Prevost nasceu em 1955, em Chicago - cidade que, atualmente, é constituída por 1/3 de católicos. Aos 22 anos, o jovem Prevost ingressou na Ordem de Santo Agostinho. Já em 1982, foi ordenado sacerdote, tendo se juntado, 3 anos depois, à missão agostiniana no Peru. Após um breve retorno à sua cidade natal, o agora Frei Prevost voltou ao país latino-americano, onde passaria mais uma década se dedicando ao trabalho missionário.
Em 1999, Frei Prevost retornou aos Estados Unidos para se tornar o provincial de sua Ordem em Chicago, alcançando o cargo de prior dos agostinianos em 2001. Saltando no tempo: em 2014, Prevost foi ordenado bispo, por ordem do Papa Francisco. Nos anos seguintes, o novo bispo participou ativamente da vida eclesiástica no Peru. Em 2023, D. Prevost recebeu uma missão de Francisco nos altos escalões da Igreja, se tornando o chefão do Dicastério para os Bispos - algo como um ministério no governo do Vaticano, destinado a escolher novos bispos e monitorar os já atuantes.
Por causa dessa função, Prevost foi criado cardeal-diácono ainda naquele ano. Poucos meses atrás, já no final do pontificado de Francisco, Robert Prevost foi elevado a cardeal-bispo - uma honraria bastante rara, detida, atualmente, por apenas 12 cardeais. Foi como cardeal que Prevost entrou no recente Conclave, tendo saído, finalmente, como Papa Leão 14, o novo Bispo de Roma, Sumo Pontífice da Igreja Católica. Para os apostadores, um azarão; para os cardeais, nem tanto - e sua rápida eleição nos prova isso.
O novo papa traz, consigo, algumas peculiaridades. Em primeiro lugar, sua rápida trajetória episcopal: dentre os últimos papas, Prevost foi o que menos tempo atuou como bispo - menos de 10 anos. Para efeitos de comparação: Francisco e Bento 16 foram bispos por mais de 20 anos. Já João Paulo II, eleito papa antes dos 60 anos, serviu como bispo por 16 anos. Prevost também teve uma curta experiência como cardeal - menos de 2 anos. Novamente comparando: Francisco e João Paulo II serviram como cardeais por mais de 10 anos. Bento 16, por sua vez, foi cardeal por quase 30 anos. De fato, o cardeal Prevost participou de um único conclave: o que o elegeu como Papa. Ele nunca chegou a votar na eleição de nenhum outro papa, que não a sua própria.
E quanto ao nome escolhido? Ainda é cedo para sabermos o motivo alegado. Contudo, tipicamente o nome adotado por um novo papa tem relação com algum de seus predecessores, ou com algum santo famoso. O primeiro papa de nome Leão, que recebeu a alcunha de “Magno”, é famoso por ter barrado a entrada de Átila, o Huno, nos portões de Roma, no ano 452. Será que isso significa que o Papa Prevost vai trabalhar para impedir que o Oriente (ou seja, o Islamismo) avance sobre Roma (ou seja, sobre a Igreja Católica)? É pouco provável que seja isso.
Talvez, o novo pontífice se considere um sucessor das ideias de Leão 13, que foi papa na virada do século 19 para o século 20. Este Leão anterior é conhecido como “Pai da Doutrina Social da Igreja Católica”, defensor dos trabalhadores e crítico dos sistemas econômicos em voga, no seu tempo. Mas não, ele não era um socialista. Na verdade, suas ideias são algo que qualquer libertário consideraria ao menos razoável. Leão 13, também, é bastante conhecido pelo caráter missionário de suas nomeações de bispos e cardeais.
Na verdade, o novo papa parece ser um “caminho do meio” - nem tão progressista, nem tão tradicionalista. Ao que tudo indica, Prevost não vai ser muito parecido com Francisco. A escolha de seus trajes para a sua primeira aparição pública - usando as vestes tradicionais, coisa que Francisco dispensou - e a concessão da bênção Urbi et Orbi - coisa que Francisco omitiu - num latim muito bom para um norte-americano, indicam isso.
Seu histórico, contudo, demonstra que ele não será, por exemplo, o papa que o cardeal Robert Sarah seria. Em resumo: Leão 14, provavelmente, será um papa que valoriza a tradição e a continuidade histórica, mas que também está aberto às mudanças dos novos tempos. E, afinal de contas, não seria justamente disso que a Igreja Católica hoje precisa? Um verdadeiro conservador.
Contudo, muita calma nessa hora: existem sim alguns entraves em relação à imagem de Prevost, datando da virada deste século, que se referem - adivinha só! - a casos de possível acobertamento de abusadores. Nada muito bem explicado, é claro; mas isso certamente vai ser um espinho na carne do novo pontífice, em não muito tempo.
Exposta a capivara do novo Bispo de Roma, porém, cabe fazer, neste canal, a mais importante das perguntas: o que é que o libertarianismo tem a ver com isso? Bem, em primeiro lugar, precisamos pontuar que até o mais ateu dos libertários precisa aceitar que a eleição do novo papa mexeu com o mundo inteiro, de uma maneira formidável. O conclave foi o principal assunto dos últimos dias; e, sem dúvidas, o Google, o ChatGPT e outras fontes de consultas devem estar sobrecarregados com pesquisas a respeito do novo papa.
Veja, contudo, que a Igreja Católica não possui, atualmente, um verdadeiro poder coercitivo - exceto, é claro, pelos poucos metros quadrados que compõem o Estado do Vaticano, onde o Papa é Rei. Dessa forma, se o mundo parou diante das TVs e dos monitores no dia 08 de maio, para ver uma fumaça de uma cor específica sair de determinada chaminé, isso foi feito de forma plenamente voluntária. O poder que o papa e tudo o que a ele se relaciona hoje exalam é um poder fundamentado em sua imagem e na imagem da Igreja Católica - na tradição, e em suas características transcendentais. Não há exércitos, não há um STF, não há ameaça de cadeia: o poder da Igreja e de Leão 14 é um poder persuasivo e legítimo, e não o poder coercitivo de uma gangue de mafiosos.
Nós já falamos, de forma mais aprofundada, sobre essa característica, no vídeo: “O presente das religiões é o futuro dos Estados” - link na descrição. E a eleição do novo papa nos mostra isso, de forma bastante clara. Sim, o papa pode decretar a excomunhão de alguém. Mas, convenhamos, que diferença isso faz para quem não é católico? 
A verdade é que só aceita a jurisdição do papa quem quer - ou seja, quem, voluntariamente, segue a doutrina católica. Por mais que o Código de Direito Canônico possa parecer complexo, exigente, retrógrado, ou o que mais você quiser, a verdade é que ninguém é obrigado, coercitivamente, a segui-lo. “Ah, mas sou ameaçado com o inferno, se não seguir a fé católica”. Acontece que isso não é uma ameaça real, pelo menos na ética libertária. Portanto, isso não pode ser visto, absolutamente, como algo factível, no plano material - que é o que realmente importa, para o libertarianismo. 
Portanto, diga-se o que quiser da Igreja Católica - o fato é que ela é uma instituição que, exceto, talvez, pelo pedaço de terra chamado Vaticano, funciona plenamente de acordo com a ética libertária. Mesmo não sendo coercitiva, ela possui, atualmente, 1,4 bilhão de seguidores. Isso é maior, por exemplo, que o número de falantes do inglês no mundo. É difícil pensar em um estado que, voluntariamente, conseguiria tantos adeptos de suas leis…
Não é possível determinar, por agora, quais serão os rumos tomados por Leão 14, em sua nova missão religiosa. As características de seu nome, de seu histórico, e mesmo das roupas que ele já usou como papa, nos dão alguns vislumbres - mas não é possível bater o martelo, nesse sentido. O que é inegável, contudo, é que o poder da tradição, da cultura, da espiritualidade, da liturgia e da iconografia da Igreja Católica conseguem superar, inclusive, o poder dos estados. Se líderes estatais de todo o mundo viajaram para dar um último adeus a Francisco, e se o mundo parou para ver a eleição de Leão, isso não se deu por meio de coerção estatal. Antes, a escolha do novo papa nos dá - isso sim! - um belo vislumbre de um mundo em que tudo - até mesmo a adoção de um código de leis - será totalmente voluntário.


Referências:

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/05/08/bets-do-conclave-favorito-a-papa-pietro-parolin-movimenta-us-18-milhoes-em-apostas-online-nos-eua.ghtml

https://www.brasilparalelo.com.br/noticias/o-que-a-igreja-diz-sobre-apostas-no-conclave

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/04/21/raio-x-da-igreja-catolica-veja-o-numero-de-seguidores-no-brasil-e-no-mundo.ghtml

Um papa americano:
https://www.youtube.com/watch?v=QeGoOevwsGk

O presente das religiões é o futuro dos Estados:
https://www.youtube.com/watch?v=4IDMeschXzk