O Presidente Fujão e a Morte do 1º de Maio: Como Lula Escancara a Obsolescência do PT

Enquanto os sindicatos sorteavam carros para atrair plateia e discursavam para um vazio constrangedor, o presidente que um dia inflamou massas preferiu o silêncio do Palácio do Planalto.

O líder máximo da República, o painho, o molusco, o homem que supostamente representa os trabalhadores, simplesmente não teve coragem de encarar aqueles que ele diz defender, no Dia do Trabalho. Isso mesmo, meu amigo, o presidente Lula da Silva brilhou pela ausência nos tradicionais atos de 1º de Maio, preferindo se esconder no conforto do Palácio do Planalto a confrontar a realidade da sua crescente irrelevância perante a classe trabalhadora brasileira. E não é para menos: no ano passado, quando teve a coragem de comparecer, o fiasco foi tão grande que até os petistas mais ferrenhos tiveram que engolir a seco.

A desistência do barbudinho não foi um simples caso de agenda cheia. Foi uma decisão estratégica, calculada friamente pelos auxiliares palacianos, apavorados com a possibilidade de um novo fiasco como o do ano passado. Segundo o que vazou dos corredores do Planalto, os assessores avaliaram que sua presença no evento representaria uma "exposição desnecessária" - traduzindo do politiquês: seria um tiro no pé! E com razão. Afinal, o Monitor do Debate Político da USP contabilizou apenas 1.635 pessoas no ato de 2024, com margem de erro de 12% - ou seja, mesmo sendo generosos, não chegou nem a 2 mil pessoas num evento que já chegou a reunir centenas de milhares. As imagens aéreas do evento foram tão constrangedoras, principalmente ao serem comparadas com os atos recentes do ex-presidente Bolsonaro, para desespero da turma do PT.

Já neste ano, os trabalhadores que apareceram na Praça Campo de Bagatelle, na zona norte de São Paulo, estavam claramente mais interessados nos cupons para concorrer aos carros sorteados do que nas palavras entediantes dos sindicalistas caducos, que insistem em falar uma língua que ninguém mais entende. É o sindicalismo do século passado tentando desesperadamente se manter relevante com brindes e prêmios, como um tio-avô que tenta comprar o carinho dos sobrinhos com balas.

Essa não foi a primeira vez que o presidente se ausentou do 1º de Maio, é verdade. Ele também não compareceu em 2007, 2008 e 2023. Mas a repetição do sumiço não torna o fato menos sintomático. É uma ausência que escancara, de maneira cristalina, a monumental dificuldade de Lula, seu governo, o PT e os dinossauros sindicais em estabelecer qualquer conexão com os trabalhadores reais do Brasil de 2025.

A verdade incômoda que o PT se recusa a encarar é que a tal "classe trabalhadora" monolítica, a que Lula se refere em seus discursos pré-fabricados, simplesmente não existe mais. O Brasil não está mais em 1979, quando um bigodudo sindicalista inflamava multidões de metalúrgicos no ABC Paulista. O mundo mudou, o trabalho mudou, mas o software mental do petismo continua rodando no MS-DOS, incapaz de processar a complexidade do mundo contemporâneo.

O que temos hoje é uma teia intrincada de distintos interesses, convicções e aspirações em diferentes categorias profissionais. Temos os entregadores de aplicativo, os desenvolvedores de software, os microempreendedores, os trabalhadores remotos, os freelancers – uma infinidade de modalidades que não se encaixam na ultrapassada narrativa da luta de classes que ainda alimenta os sonhos molhados da velha guarda petista.

No fiasco do 1º de Maio do ano passado, ao se deparar com uma plateia tão rarefeita quanto suas ideias, Lula não se segurou e teve um de seus famosos chiliques.

Irritado com a falta de público, afirmou não ter havido o esforço necessário "para levar a quantidade de gente que era preciso levar" e repreendeu publicamente o ministro Márcio Macêdo, da Secretaria-Geral da Presidência, o coitado que tinha a ingrata missão de diálogo com os movimentos sociais. Clássico movimento do petismo: nunca é culpa da mensagem ultrapassada, sempre é culpa do mensageiro. Na semana passada, ao receber líderes sindicais em Brasília, cobrou-lhes que "ocupem mais as ruas". É como ver um grupo de senhores idosos discutindo como fazer sucesso no TikTok – completamente desconectado da realidade.

Um simples olhar para a foto desse encontro era suficiente para perceber o abismo geracional entre os líderes sindicais e os trabalhadores que pretendem representar. Ali estava reunida a gerontocracia sindical brasileira, um clube do Bolinha grisalho que não faz a menor ideia de como se comunicar com o brasileiro que entrega comida de bicicleta ou que trabalha remotamente para uma empresa no exterior. Até os próprios cardeais do sindicalismo tupiniquim reconhecem, embora tarde demais, que o modelo está "engessado" - palavra usada pelo secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, em entrevista recente.

Sem ter absolutamente nada de relevante para dizer, o presidente então se refugiou no que sabe fazer de melhor: demagogia pura e destilada. Em seu pronunciamento em rede nacional, defendeu a redução da jornada de trabalho sem redução de salário – ignorando completamente a já baixíssima produtividade do trabalhador brasileiro. É a velha fórmula mágica do lulopetismo: prometa o paraíso, ignore a matemática e depois culpe o "mercado" quando a conta não fechar.

Também prometeu a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais – aquele mesmo projeto cuja pretensão é taxar os mais ricos para compensar as perdas, numa versão tupiniquim do "Robin Hood" que sempre acaba só na parte de roubar, nunca na de distribuir. É o velho truque de tirar do bolso direito para colocar no esquerdo, fingindo que está criando riqueza.

O pronunciamento foi todo produzido com estética de programa eleitoral, supervisionado pelo ministro e marqueteiro Sidônio Palmeira, repleto de brasileiros sorridentes e satisfeitos – uma realidade paralela que não encontra correspondência nas pesquisas de opinião sobre o governo Lula. Nessa fantasia petista, o Brasil é um país de trabalhadores felizes e realizados, não o país real onde milhões cortam um dobrado para conseguir pagar as contas no fim do mês.

A ausência de Lula no 1º de Maio não é apenas física – é intelectual. Faltam ideias, faltam propostas, falta conexão com a realidade. Se tivesse algo substantivo a dizer, o presidente certamente estaria em cima do palanque, fazendo o que mais gosta: ouvir sua própria voz. Preferiu um pronunciamento protocolar, bem adequado a uma data que, nas mãos do PT, foi esvaziada de significado e convertida em apenas mais um feriado para quem pode descansar.

Sem saber como resolver o problema, as centrais sindicais agora fazem reuniões de emergência para tentar ressuscitar o cadáver do movimento. Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores, admitiu que "precisamos ter sensibilidade de compreender o mundo em que estamos vivendo" - uma revelação tão chocante quanto descobrir que a água molha. Outros sindicalistas, em seus devaneios nostálgicos, relembram com saudade as épocas em que conseguiam atrair multidões com sorteios de carros e apartamentos e shows de artistas famosos. Ou seja, o sindicalismo brasileiro virou isso: uma espécie de programa de auditório decadente que precisa dar prêmios para que alguém se digne a ouvi-lo.

E para completar a comédia, as centrais sindicais divulgaram um comunicado à imprensa - assinado por UGT, CSB, Força Sindical, CUT, CTB, Nova Central Sindical, Intersindical e Pública - isentando o governo Lula pela falta de público. Uma declaração tão crível quanto o Papai Noel dizendo que não tem nada a ver com o Natal.

Enquanto isso, os trabalhadores brasileiros seguem sua luta diária, cada vez mais distantes e descrentes desse sindicalismo jurássico que insiste em falar sozinho, como aquele tio-avô no almoço de família que ninguém tem coragem de interromper, mas que todo mundo ignora assim que possível. O único consolo para o PT é que, com tantos governos que já comandou, ao menos seus líderes estão bem de vida e podem aproveitar o feriado em seus sítios – aqueles mesmos que o brasileiro médio só conhece por foto no Instagram.

Referências:

https://www.estadao.com.br/opiniao/lula-nao-tem-o-que-dizer-aos-trabalhadores/
https://www.cartacapital.com.br/politica/por-que-o-1o-de-maio-fracassou-e-como-retomar-a-capacidade-de-mobilizacao-segundo-as-centrais/#:~:text=Entre%20os%20pontos%20listados%20para%20justificar%20o%20baixo,falta%20de%20tempo%20h%C3%A1bil%20para%20fazer%20a%20convoca%C3%A7%C3%A3o.