Páginas de Fofoca deveriam existir?

Será que o estado deveria se meter no que o povão discute e divulga na internet?

No fim de 2023, testemunhamos casos tristes e polêmicos de pessoas que tiraram sua vida por conta da exposição de suas imagens na internet. O Brasil inteiro ficou chocado com o caso Jéssica Vitória, uma jovem de 22 anos, que tirou sua vida após ser apontada como possível ficante do humorista Whindersson Nunes e ter conversas falsas, expostas na internet. Mesmo após a mãe da jovem implorar para que as mentiras e ataques parassem, os canceladores insensíveis da Choquei continuaram debochando da menina e colocando pressão em seu estado psicológico.

O maior responsável pela alta divulgação do caso foi a famosa página “Choquei”, que tem dezenas de milhões de seguidores, que acabou sendo alvo de muitas críticas na internet e quase que exclusivamente responsabilizada pela tragédia ocorrida. E para piorar, em momento algum os responsáveis por essa página de fofoca admitiram o erro ou pediram desculpas à família de Jéssica.

Alguns dias após o caso de Jéssica Vitória, também tivemos a notícia de que PC Siqueira havia tirado sua própria vida; os dois, inclusive, já passavam por problemas de depressão. O influencer conquistou notoriedade online nos últimos anos devido a algumas controvérsias, incluindo a acusação de supostamente compartilhar fotos íntimas de uma criança de seis anos. A denúncia foi feita por uma conta anônima no Twitter, que publicou capturas de tela de um celular mostrando conversas comprometedoras de Siqueira relacionadas às imagens. Embora ele tenha negado as acusações, a Polícia Civil iniciou investigações sobre o caso.

Independente das opiniões pessoais sobre os acontecimentos, o Visão Libertaria não busca desrespeitar os indivíduos envolvidos nesses casos e nem julgar subjetivamente qualquer postura ou ação de qualquer lado da história. O objetivo deste vídeo é explicar como seriam solucionados esses problemas numa sociedade com base nos princípios éticos e morais do libertarianismo.

Debaixo da Ética Libertaria, a liberdade de expressão é considerada um direito fundamental, pois ela está sob o guarda-chuva do direito de propriedade. O libertário acredita que as pessoas têm o direito de expressar suas opiniões, ideias e críticas sem interferência governamental ou censura. No contexto das páginas de fofoca, a liberdade de expressão pode ser vista como um valor que permite às pessoas compartilharem informações e opiniões, mesmo que essas informações possam ser controversas ou sensíveis.

No entanto, é importante notar que a defesa da liberdade de expressão no libertarianismo não significa necessariamente endosso ou indiferença em relação a todas as formas de comunicação. Em relação às páginas de fofoca, surge um debate interessante entre a liberdade de expressão e a ética do respeito à privacidade individual e até às regras de empresas privadas.


No cerne dessa questão está o equilíbrio delicado entre a capacidade de divulgar informações publicamente e o respeito pela esfera privada de um indivíduo. Alguns libertários podem argumentar que as páginas de fofoca são um produto legítimo da liberdade de expressão, proporcionando um meio para a disseminação de informações e a participação no mercado das ideias, e eles estão certos. No entanto, outros podem questionar se essa liberdade está sendo exercida de maneira ética quando invade a privacidade e expõe detalhes pessoais sem o consentimento do indivíduo, e visa prejudicar sua vida.

Dentro desse contexto, algumas vozes libertárias podem destacar a importância da autorregulação social, em que as próprias comunidades e indivíduos estabelecem normas éticas para guiar a expressão livre. A ênfase recai na responsabilidade pessoal e no respeito mútuo, buscando uma abordagem equilibrada que permita a livre troca de ideias, ao mesmo tempo, em que protege a integridade e a privacidade de cada pessoa. Essa interseção entre liberdade de expressão e ética individual é um terreno fértil para discussões e reflexões dentro do contexto libertário.

Autores libertários, muitas vezes associados à tradição liberal clássica, oferecem perspectivas diversas sobre a liberdade de expressão como Murray Rothbard. Esse economista americano discutiu a aplicação específica do princípio da liberdade de expressão em uma sociedade livre e dizia que: "A verdadeira liberdade de expressão significa que você apoia o direito de as pessoas dizerem coisas com as quais você discorda, e não apenas aquelas coisas com as quais você concorda."

Também temos com outro exemplo, o filósofo e economista Hans-Hermann Hoppe, que argumenta a favor de uma sociedade baseada em sua sociedade de leis privadas e critica a ideia de democracia. Ele escreveu, "A verdadeira liberdade de expressão só pode existir em uma ordem de propriedade privada, onde o direito à expressão é ligado ao direito de propriedade."

Tendo em vista tais comentários sobre os principais autores libertários, podemos notar que há um limite para a liberdade de expressão, assim como há um limite para qualquer tipo de liberdade, e esse limite tem por base a propriedade privada. Considerando que o nosso corpo e mente são nossa propriedade ou, como Hoppe chama, a autopropriedade, qualquer fala ou comunicação que seja uma ameaça direta ou indireta fere os princípios libertários.


Atos de fraude e engano, por exemplo, devem ser considerados ameaças, pois violam a ética do livre mercado baseando-se em gerar informações imprecisas e impedir o consentimento voluntário. A ideia é que as ameaças à propriedade e aos direitos individuais devem ser tratadas de maneira voluntária e privada, muitas vezes por meio de agências de segurança privada e sistemas jurídicos baseados em contratos. A ideia fundamental é minimizar a coerção estatal e maximizar a liberdade individual e não o contrário.


A divulgação de capturas de tela sabidamente falsos de Jessica Vitória com Whindersson Nunes pela Choquei, e o suicídio da garota, levantam questões complexas sobre os limites da liberdade de expressão e a responsabilidade inerente ao exercício dessa liberdade. Enquanto a liberdade de expressão é um pilar fundamental em uma sociedade libertária, a ética individual e o respeito pelos direitos à propriedade privada também desempenham um papel crucial para uma organização social sadia.

A divulgação de informações pessoais, especialmente aquelas que podem ter sérias consequências, destaca a importância de uma autorregulação moral em um contexto anarquista. Assim, defendemos que as interações voluntárias e o livre mercado de ideias devem coexistir com responsabilidade individual que arcar pelas consequências de seus atos, sem nenhum tipo de imposição estatal.

O caso de PC Siqueira, que foi alvo de acusações de pedofilia e sofreu julgamento público antes de qualquer investigação formal, adiciona outra camada à discussão sobre a liberdade de expressão. Em uma sociedade anárquica idealizada, onde não existe um ente estatal central que monopoliza o judiciário, a responsabilidade recai inteiramente nos indivíduos, nas empresas e comunidades. E cada comunidade, como defendemos, terá suas normas de conduta e leis internas independente das outras comunidades. O grande ponto defendido por Hans Hermann Hoppe, é que num modelo de sociedade descentralizada, em que cada cidade tem a autonomia interna para criar suas próprias leis e regras, haverá naturalmente uma competição por bons moradores. Essa competição irá estimular a adoção das melhores leis e regras que realmente promovam justiça, para que a cidade em questão não sofra com uma fuga de seus habitantes. A consequência disso é o fim da impunidade e a intenção de repelir os maus moradores.

O suicídio de PC Siqueira sublinha os perigos da justiça pelas redes sociais antes de investigações, e ressalta a necessidade de um equilíbrio delicado entre a liberdade de expressão e a proteção da dignidade individual. Não estamos aqui querendo defender esse polêmico youtuber que tinha opiniões em alguns casos até imorais, o nosso ponto é que todos devemos ser condenados após investigações imparciais. Outro ponto que podemos levantar é que numa sociedade com novos avanços gerados por Inteligências Artificiais, fica cada dia mais fácil criar vídeos falsos com vozes parecidas com a de pessoas reais. Assim, incriminar uma pessoa de uma atrocidade que ela não cometeu se torna um método cada vez mais fácil para criminosos tentarem destruir vidas e reputações. Portanto, uma sociedade acostumada com esse novo tipo de tecnologia precisa ser madura, consciente e deve saber lidar com esse novo desafio.

Em um cenário libertário, a confiança nas instituições sociais descentralizadas e nos mecanismos de responsabilização da iniciativa privada, se torna essencial para preservar uma sociedade justa e com julgamentos proporcionais. Claro, quando um crime é comprovado, não só seu executor será punido, mas a sociedade promoverá boicote social e ostracismo a todos que participaram do crime. E num mercado livre, sem toda a bandidolatria que protege criminosos reais aqui no Brasil, esses criminosos irão perder as condições de se proteger financeiramente e ter algum apoio social.

Por fim, o Livre Mercado que vem por consequência da Ética de Propriedade Privada defendida pela já mencionado Hans Hoppe nos dá um norte em relação às soluções práticas para casos assim. Até mesmo no status quo em que vivemos, o boicote (vulgo: cancelamento) que a Choquei sofreu, denota um aspecto libertário na forma de punir atos que possam prejudicar outros indivíduos inocentes.

Diante dos eventos recentes que envolveram a divulgação imprudente de informações pessoais e o trágico desfecho de vidas, é crucial refletirmos sobre os limites e responsabilidades da liberdade de expressão em uma sociedade anárquica. A liberdade de expressão é um princípio fundamental, mas sua prática deve ser guiada por valores éticos e respeito pelas vidas e dignidades individuais, além de respeitar normas e contratos. O poder das palavras e a disseminação irresponsável de informações podem ter repercussões profundas, indo além do âmbito virtual e atingindo vidas reais, podendo destruir uma família inteira.


A trágica situação envolvendo Jéssica Vitoria e o caso de PC Siqueira ressaltam a necessidade urgente de um diálogo contínuo sobre a importância da responsabilidade individual em uma sociedade livre. Afinal, o livre mercado de ideias e a ausência de uma autoridade central não significam a ausência de valores morais e éticos. Em uma comunidade libertária ideal, a confiança mútua, o respeito pela privacidade e a regulação pela iniciativa privada devem ser cultivados para manter a integridade do tecido social. Evidentemente, práticas como o bullying, fraudes e criação de mentiras que visam destruir a vida de uma pessoa sempre serão avaliadas pelas leis e pelo senso moral das pessoas e devidamente punidas.

Ações impulsivas nas redes sociais podem ter consequências irreversíveis, como evidenciado pelos trágicos desdobramentos dos casos mencionados. Nesse sentido, é fundamental promover a empatia, a compaixão e a conscientização sobre questões relacionadas à saúde mental e como evitar novas tragédias como o caso Jéssica.

Se você ou alguém que conhece estiver enfrentando dificuldades, lembre-se de que a ajuda está disponível. Não hesite em buscar apoio de profissionais ou organizações especializadas como:

Centro de Valorização da Vida Discando 188 ou acessando cvv.org.br.
Você pode acessar setembroamarelo.org.br para obter mais informações.

Enfim, nunca podemos nos esquecer da interconexão entre liberdade, responsabilidade e respeito pela vida em uma sociedade libertária. Que possamos promover uma cultura de apoio mútuo, entendimento e cuidado, construindo um ambiente onde as ideias possam ser trocadas livremente, sem restrição estatal, mas sempre com a sensibilidade necessária para preservar a dignidade humana.

Nosso recado final é: tomem cuidado com os tiranos e aproveitadores que utilizam os casos citados neste vídeo para criar narrativas de que a liberdade de expressão precisa ser limitada e controlada pelo estado. A presença estatal em nossas vidas, ao contrário do que os políticos e seus propagandistas defendem, sempre representa uma ameaça à nossa vida, liberdade e integridade.

Referências:

https://www.libertarianism.org/topics/freedom-speech