Governo de Xi Jinping teme pelo resultado das eleições em TAIWAN

As eleições em Taiwan são, hoje, a maior preocupação internacional para Xi Jinping e para seu governo comunista.

A China comunista e a ilha de Taiwan possuem uma relação ao mesmo tempo estranha e tensa. A grande pergunta que paira no ar é: ambos os territórios são países separados e independentes, ou formam, juntos, uma mesma nação? A verdade é que, por mais que, para nós, espectadores externos, a separação entre China e Taiwan seja muito clara, isso não é tão evidente assim para os próprios moradores desses países.

A chamada China Continental ‒ ou seja, todo o território chinês situado de forma contínua no continente asiático, e que é governado pelo Partido Comunista Chinês ‒ acredita que a ilha de Taiwan é apenas uma província rebelde, protegida por interesses internacionais. E a recíproca é mais ou menos verdadeira: durante muito tempo, o governo de Taipé afirmava ser o legítimo soberano da totalidade da China. Na verdade, o nome oficial de Taiwan é “República da China”. Pois é.

Nós já falamos, de forma mais específica, a respeito dessa estranha e conturbada relação entre os dois países, no vídeo: “A estratégia PORCO-ESPINHO de TAIWAN para se DEFENDER da AMEAÇA CHINESA” ‒ link na descrição.

Porém, um acontecimento que irá se desenrolar em breve tem tudo para colocar ainda mais lenha na fogueira dessa confusão. Em poucos dias, serão realizadas novas eleições presidenciais em Taiwan ‒ e não é exagero afirmar que Xi Jinping está muito preocupado com o desenrolar desse processo eleitoral. Acontece que, na prática, o fator decisivo nessa disputa para presidente será a tendência de aproximação ou afastamento de Taiwan em relação ao governo de Pequim. Ou melhor: em qual sentido o povo taiwanês quer caminhar.

Atualmente, a ilha é governada por Tsai Ing-wen, do Partido Progressista Democrático (PPD), a primeira mulher a governar o país. Como Tsai está em seu segundo mandato, ela não pode se candidatar novamente, de acordo com as regras eleitorais do país. Por isso, o seu atual vice-presidente, Lai Ching-te, é o seu candidato ‒ aparecendo muito bem cotado, inclusive, nas pesquisas eleitorais.

E é aí que o caldo começa a engrossar, porque, se a atual presidente é considerada uma forte defensora da soberania de Taiwan, seu vice é ainda mais intransigente. Lai é considerado um defensor “linha-dura” da total independência da ilha em relação à China continental. Por isso, o governo comunista de Pequim tem afirmado, repetidas vezes, que a eleição de Lai, com a manutenção do PPD no poder, seria uma verdadeira declaração de guerra por parte dos taiwaneses.

Embora questões econômicas, como a alta da inflação, tenham seu peso nas eleições em Taiwan, a relação do país com a China será, de fato, o fiel da balança. Ou seja: trata-se de uma eleição com não apenas um, mas com ambos os olhos no exterior. E os olhares do lado de lá do Estreito de Formosa também se voltam para a campanha eleitoral em Taiwan, cujas emissoras de TV são inundadas com propaganda patrocinada pela China, há muito tempo.
Mas as tensões entre ambas as nações realmente parecem caminhar para um extremo que, até então, nunca havia sido alcançado. A China comunista tem realizado sucessivos exercícios militares na faixa de mar que separa os dois países, de meros 180km. Existe um acordo tácito entre China e Taiwan, que estipula uma linha imaginária no meio daquele estreito e que, em tese, não poderia ser ultrapassada por nenhum dos lados, para fins militares. Obviamente, a China tem violado esse acordo quase diariamente com seus navios e aviões de guerra. Mais do que isso: Xi Jinping afirmou categoricamente, poucos dias atrás, que a unificação de Taiwan com a parte continental da China é “inevitável”.

De qualquer forma, a situação eleitoral em Taiwan não é tão simples quanto possa parecer. As pesquisas demonstram que Lai, o atual vice-presidente, deve ganhar a disputa, porém com uma vantagem muito pequena. Isso representaria, de fato, um terceiro mandato do PPD. Acontece que, nas eleições anteriores, o partido havia vencido seus oponentes com folga, tendo 57% dos votos válidos, e levando, de lambuja, a maioria no Congresso. Então, é bem provável que, ainda que o partido vença as eleições pela terceira vez seguida, seu novo governo será mais difícil.

O grande adversário da situação em Taiwan é o partido Kuomintang (ou KMT), que tem por característica principal justamente ser mais próximo de Pequim. O KMT, inclusive, mantém portas abertas para que ambos os países se unam, em algum futuro próximo. Em terceiro lugar, correndo por fora, há ainda o Partido Popular de Taiwan (PPT), mais focado em questões internas, e mais ambíguo quanto às relações com a China.

A verdade, contudo, é que o ponto a respeito da independência de Taiwan é o mais importante nas atuais eleições. O que a pequena ilha está testemunhando é, na prática, um embate de gerações. A geração mais antiga tem uma tendência a ser mais vinculada ao continente. Afinal de contas, estamos falando de pessoas etnicamente idênticas à maioria do povo chinês, falantes do mandariam e que, em muitos casos, chegaram a ver a China totalmente unificada, antes do comunismo. Já a geração mais nova, nascida e criada em Taiwan, é acostumada a desfrutar de mais liberdade e das benesses do capitalismo, e possui uma mentalidade mais progressista, que não combina em nada com o comunismo do continente.

Porém, após analisar esse cenário, precisamos responder a uma pergunta que, sem dúvidas, está incomodando o espectador mais atento. Afinal de contas, por que a China continental tem tanto interesse assim em Taiwan? O que o acréscimo de 36 mil km² e 23 milhões de pessoas representaria para um país que possui, atualmente, uma área de 9,5 milhões de km² e a maior população do mundo? O que a China ganha pressionando tanto aquele território, considerado uma província rebelde pelo continente?

Bem, trata-se de um puro interesse do partido comunista reinante em fortalecer seu próprio poder interno, bem como manter sua influência numa região que, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, tem se aproximado do Ocidente. Em primeiro lugar, manter a tensão sobre Taiwan ajuda Xi Jinping e seus pares comunistas a manter seu próprio poder junto ao povo chinês. Afinal de contas, estamos falando de um país que, há alguns anos, vem enfrentando sérios problemas econômicos ‒ principalmente no que se refere ao mercado imobiliário. Até hoje, foi a pujante economia do país que garantiu uma sobrevida ao Partido Comunista Chinês; e, agora, essa bonança econômica está em risco.

E, em segundo lugar, a China busca fortalecer seu status de potência não apenas local, mas também mundial ‒ praticamente se alinhando à Rússia nesse intento, para formar um verdadeiro eixo do mal. Aliás, é por isso mesmo que outra aliada da China, a Coreia do Norte, vive brincando de soltar foguetinhos nessa região.

A verdade é que as guerras são, em grande parte dos casos, medidas diversionistas, criadas e tomadas por governantes que precisam, de alguma forma, manter seu poder. Não apenas o conflito em si é interessante para esses ditadores; a própria ameaça de guerra já traz seus resultados. Veja, por exemplo, o caso da Venezuela, com Nicolás Maduro mantendo, no ar, a possibilidade de invadir a região do Essequibo. Para Xi Jinping, portanto, é muito importante manter uma constante ameaça sobre Taiwan.

Mas e se, no fim das contas, as eleições deste ano representarem uma aproximação ainda maior de Taiwan em relação ao Ocidente? Bem, esse é o maior temor dos comunistas chineses: perder sua atual influência sobre a ilha. É que essa situação abre margem para comparações bastante incômodas ‒ até porque estamos falando de dois países que possuem, basicamente, o mesmo povo. Logo, perguntas surgiram na parte continental da China: por que o povo de lá não quer se juntar ao comunismo? Será que o paraíso comunista não é tão bonito assim?

De qualquer forma, e independentemente do resultado das eleições em Taiwan, a história nos mostra que todo ditador esperneia muito antes de cair. Veja o exemplo da citada Rússia: a invasão desastrosa e criminosa da Ucrânia não é nada além de uma medida desesperada por parte de Vladimir Putin, que temia pela manutenção de seu próprio poder. É bem provável que o comunismo de Xi Jinping, já desgastado por décadas de controle social e econômico, esteja passando por esse mesmo efeito. Se isso vai redundar em guerra, ou não, só o tempo dirá.

Veja que esse caso também reforça o que sempre falamos a respeito das fronteiras. Essas linhas imaginárias não passam de uma violação da verdadeira fronteira natural ‒ os limites da propriedade privada. As linhas que delimitam a soberania dos países são apenas a demarcação da região em que determinada máfia estatal pode impor suas vontades aos habitantes daquele lugar. Pense apenas no que aconteceria se a China continental avançasse sobre as linhas imaginárias de Taiwan: a vida dos taiwaneses se converteria, automaticamente, em um grande inferno.

Por isso, torcemos para que a pequena ilha se mantenha firme, e caminhe cada vez mais para sua independência e para o afastamento do regime ditatorial de Pequim. Afinal de contas, nós já sabemos bem o que vai acontecer com Taiwan caso a China consiga se apoderar de seu território. Veja o que aconteceu com Hong Kong, outro tigre asiático muito bem desenvolvido, para você perceber que a anexação não faria bem para os taiwaneses. Aguardamos as cenas dos próximos capítulos, enquanto torcemos para que as ameaças chinesas não passem disso: meras ameaças, bravatas de um governo comunista decadente.

Referências:

https://www.brasil247.com/mundo/eleicao-em-taiwan-e-primeiro-teste-em-2024-para-os-eua-estabilizarem-relacoes-com-a-china

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2024/01/eleicoes-em-taiwan-sao-importantes-para-a-paz-regional.shtml

https://www.youtube.com/watch?v=fK61NUmszPk&pp=ygUlZWNvbm9taWEgZGUgdGFpd2FuIHZpc8OjbyBsaWJlcnTDoXJpYQ%3D%3D