Se já não bastasse que o STF meta o bedelho na nossa vida, agora querem que ele canete sobre nossa economia.
O Partido Democrático Trabalhista, conhecido pela sigla PDT, protocolou uma ação no Supremo Tribunal Federal, o STF, no dia 23 de dezembro solicitando que a corte determine ao Banco Central um aprimoramento no processo de decisão sobre a taxa básica de juros. Segundo o partido, o banco central subiu muito e muito rápido a taxa básica de juros, o que seria contraproducente para a nossa república democrática bananense. Atualmente, temos um banco central independente no Brasil, o que é uma grande vitória em um país no qual a taxa de inflação chegou a ser de trilhões entre os anos 1980 e 2000, segundo o próprio IBGE, o Instituto Bostileiro de Geração de Estatísticas Erradas. Naquele tempo, era algo corriqueiro as trocas de preços nos corredores dos supermercados. Não era raro pela manhã ter um preço e à tarde outro. As pessoas gastavam todo seu salário assim que recebiam para não ter tempo da inflação corroer o seu suado dinheiro.
Mas, o que o Banco Central tem a ver com isso? A autarquia é responsável por cumprir as metas de inflação estabelecidas pelo conselho monetário nacional, que também define as políticas monetária, creditícia, orçamentária, fiscal e da dívida pública. Isso significa que seus membros são responsáveis pela impressão de moeda. Em outras palavras, eles respondem a seguinte pergunta: quanto deve ser o aumento da base monetária? Ah, e o conselho é formado pelos seguintes membros: o Ministro da Fazenda, o Ministro do Planejamento e Desenvolvimento e o Presidente do Banco Central. Pode-se observar dois elementos ligados diretamente ao executivo. Basicamente, o banco central deveria imprimir moedas em casos específicos, principalmente para garantir a liquidez dos bancos. Isso significa oferecer a certeza para os cidadãos que todos os agentes bancários teriam dinheiro caso fossem sacar o que é seu na boca do caixa. Porém, quando o governo gasta mais do que arrecada, e tem compromissos a pagar, imprime virtualmente mais dinheiro para honrar seus pagamentos.
Pronto, definimos aqui o motivo pelo qual a inflação acontece atualmente. Vale ressaltar que aquilo que vemos diariamente, o aumento constante dos produtos e serviços, na verdade, é o efeito daquilo que chamamos de inflação, que nada mais é que o aumento da base monetária de uma moeda soberana. Isso ocorre devido ao fato do número se bens e serviços de uma economia ser restrito, seja por capacidade de produção ou de recursos. Quando há um aumento na oferta de dinheiro em uma economia que não é acompanhada de um aumento de bens e serviços, temos o aumento generalizado dos preços, que muitos chamam de inflação.
Mas voltando ao caso exposto no começo deste vídeo. A autonomia do Banco Central pode estar em risco se o pedido do PDT for atendido. Caso o STF reverta a decisão da autarquia, os brasileiros podem esperar o dólar disparar com a inflação. Isso porque não existiria mais uma independência do principal banco do país em definir questões relacionadas à economia, já que tudo pode ser revertido ao bel-prazer dos membros da corte. O atual governo não consegue diminuir os gastos para atender aos termos do arcabouço fiscal criado por eles próprios. Se perdermos a independência do branco central, será como uma pá de cal para a nossa economia já cambaleante e convalescente.
O Bacen é o único órgão ligado à administração pública federal que ainda tenta manter a inflação na meta. A atual taxa de juros é reflexo do total descontrole de gastos do governo. É uma medida técnica para enxugar a liquidez derramada pelo aumento da base monetária, devido ao governo não ter dinheiro para honrar suas dívidas. A ação do PDT só tem viés político, mais precisamente populista. Atitudes como essas normalmente são um excelente exemplo de como pessoas tentam resolver um problema complexo com uma solução simples, rápida e totalmente errada. Não existe solução à base da canetada, e a história recente nos prova isso. Muitos aqui já estavam vivos quando viram que mudanças no nome da moeda, corte de zeros e congelamentos de preços não funcionam para resolver um problema que está no âmago do governo e da economia de uma sociedade.
E não é só agora que os brasileiros estão vendo os poderes brigando entre si. Um ministro do STF a pouco tempo atrás cortou o pagamento de emendas parlamentares no valor próximo a 4,2 bilhões de reais, logo após acordos para a aprovação dos cortes de gastos do governo. O executivo e o judiciário estão de mãos dadas para acabar com o congresso. A política em Brasília está em pé de guerra. O não cumprimento de acordos está levando a perda de apoio e a represálias entre os três poderes. O executivo está fraco, sem apoio do legislativo, e não está fazendo a sua parte nos acordos que foram feitos. E se acha que as coisas não podem piorar, espere por 2025, quando teremos a troca dos presidentes da câmara dos deputados e do senado. Nada está tão ruim que não possa piorar.
Estamos fazendo um checklist para nos transformarmos em uma Venezuela. O executivo está gastando como se não houvesse amanhã. O judiciário está indo além das atribuições e competências. Não há justiça. Não há segurança jurídica. Tudo o que se dá por garantido pode ser revertido com base nas vozes da cabeça de algum ente governamental. O congresso segue acovardado, dizendo amém a tudo o que está acontecendo. O senado nega dar continuidade nos processos de investigação dos membros do governo. Inquéritos são abertos para calar dissidentes. Por fim, a cereja do bolo é o cerceamento da liberdade de expressão através da limitação do que é falado nas redes sociais.
O brasileiro está anestesiado, assistindo tudo de camarote. Como Lima Barreto disse no início do século XX, que se mostra verdadeiro depois de mais de um século: “O Brasil não tem povo, tem público”. A opinião da sociedade não é ouvida, e o cidadão médio não está presente nas discussões, por estar focado em colocar comida na mesa, que se diga de passagem, está cada vez mais difícil. Temos em nossa história momentos de soluços, os quais vemos pequenos grupos descontentes com a realidade sendo massacrados pelos governantes da época. Inconfidência Mineira, Canudos, Revolução Constitucionalista de 1932. Brasileiros que estavam cansados de serem tratados como animais, só querem ser tratados como gente. Foram aniquilados, apesar de conseguirem algo que trouxeram um pouco de esperança para aqueles que ficaram.
Não à toa estamos vendo um êxodo de brasileiros para outros países. Muitos, descendentes de imigrantes que vieram para o Brasil em busca de oportunidades, agora fazem o caminho contrário em busca de uma terra que não os exploram tanto como aqui. Uma das melhores formas de se votar, com os pés. Sair do local onde não se é bem tratado para um que te trate melhor. A outra forma é por meio do dinheiro. Desinvestir onde seu patrimônio não é bem tratado e levá-lo para um lugar que o receba com carinho. Ou quem sabe, deixá-lo fora do alcance de qualquer jurisdição, ao utilizar uma moeda descentralizada e distribuída, como o bitcoin. Infelizmente, são poucas as boas notícias para nós, brasileiros. É uma proporção homeopática. Uma gota de coisa boa em um oceano de manchetes ruins. Ao menos durante os próximos dois anos. Mas, sejamos fortes. Dias melhores virão. Talvez demorem um pouco, mas tudo vale a pena, quando a alma não é pequena.
https://www.ibge.gov.br/explica/inflacao.php
https://blog.nubank.com.br/imprimir-dinheiro-inflacao/
https://maisretorno.com/portal/termos/h/hiato-do-produto