Ministra do governo anunciou um investimento surpreendente de inacreditáveis 30 milhões em base aeroespacial. Achou que eram 30 bilhões? Ou 30 milhões de dólares? Que nada! São 30 milhões de reais, isso mesmo, reais! Uma verdadeira fortuna...
Cabo Canaveral, na costa da Flórida, é um dos maiores centros de lançamento de foguetes e espaçonaves do mundo. Começou a trajetória como um local de testes e lançamentos militares, mas logo se tornou o ponto de partida das missões espaciais da NASA. Claro, é lá que está o famoso Centro Espacial John F. Kennedy, um dos principais centros para os lançamentos de foguetes, satélites e missões tripuladas. Esse centro tem um papel fundamental para os Estados Unidos no setor aeroespacial, sendo o palco de momentos históricos, como o lançamento da Apollo 11, que levou o homem à Lua pela primeira vez. E, se acha que Cabo Canaveral parou no tempo, pense de novo. Hoje, continua sendo crucial para os Estados Unidos. O complexo conta com a presença de empresas privadas como a SpaceX, de Elon Musk, que realiza lançamentos nos Complexos 40 e 39A, adaptados para lançamentos modernos, como os da cápsula Crew Dragon e para reabastecer a Estação Espacial Internacional.
Talvez o espectador neste momento esteja se perguntando: por que Cabo Canaveral? O que torna esse local tão especial? Bem, a escolha da Flórida tem uma explicação simples, mas, para alguns, pode ser um pouco difícil de engolir. Acontece que, devido à rotação da Terra, a famosa bola giratória que a ciência insiste em chamar de “planeta”, os lançamentos feitos na Flórida aproveitam a velocidade da rotação para dar um empurrãozinho extra aos foguetes. Isso torna os lançamentos mais eficientes e economiza combustível. Como a Flórida é a região dos Estados Unidos mais próxima da Linha do Equador, ela já está no local onde a rotação é mais rápida. Todos os lançamentos são feitos mirando a direção leste, e o giro da Terra ajuda literalmente a impulsionar os lançamentos. Se utilizássemos esse mesmo conhecimento, saberíamos que construir uma base de lançamento no norte ou nordeste faz todo sentido. A proximidade com o Equador faz o lançamento ser mais eficiente. E é isso que torna o Centro Espacial de Alcântara, no Maranhão, um local tão estratégico.
Alcântara está lá, na costa atlântica do Brasil, exatamente onde precisa estar. Criada para aproveitar essa posição geográfica extremamente privilegiada, a base começou a ser construída em 1982, e o primeiro lançamento aconteceu em 1990. Desde então sendo operado pela Força Aérea Brasileira, o Centro de Lançamento de Alcântara se tornou uma peça-chave no Programa Espacial Brasileiro. O local torna ideal os lançamentos de satélites geossíncronos, exatamente o tipo de lançamento feito na Guiana. Ao longo dos anos, o Centro de Lançamento de Alcântara atraiu a atenção de vários países, incluindo Ucrânia, Israel e até a Rússia, que assinaram contratos para lançar foguetes a partir de lá.
Mas, como tudo no Brasil, Alcântara também enfrentou desafios. Em 2003, por exemplo, um trágico acidente com o foguete VLS-1 resultou na morte de 21 pessoas, o que, como era de se esperar, afetou a confiança na segurança da base e gerou uma variedade enorme de teorias da conspiração. Mas, apesar de tudo, a base continua sendo importante para o Brasil, com planos de expansão da sua infraestrutura visando atrair empresas internacionais, como a Virgin Orbit, que já planeja lançar foguetes por lá. Claro, como não poderia deixar de ser, a base também teve que lidar com pressões externas. Em 2009, um telegrama confidencial do Departamento de Estado dos EUA, vazado pelo WikiLeaks, revelou que o Tio Sam não estava nada contente com o programa brasileiro. Não só se opuseram a ele, como também pressionaram países parceiros a não transferir tecnologias espaciais para o Brasil. E, claro, proibiram o lançamento de satélites norte-americanos, ou qualquer satélite com componentes fabricados nos EUA, a partir de Alcântara. Isso porque não queriam apoiar esse país bananense em seus anseios cosmonáuticos. No entanto, em um giro curioso de eventos, em outubro de 2019, já sob o governo Bolsonaro, a Câmara dos Deputados aprovou um acordo que permite os Yankees a utilizarem a base brasileira para pesquisa científica e lançamentos de foguetes, espaçonaves e satélites que utilizem tecnologias vindas de lá. E, para fechar o ciclo, em novembro de 2019, o Senado Federal aprovou um decreto que sancionou as chamadas “salvaguardas tecnológicas”, que garantiu a participação americana em lançamentos a partir da Base de Alcântara.
Mas agora é o Brasil que vai mostrar sua força no espaço, não é mesmo? Teremos milhares de satélites tocando funk e Barões da Pisadinha no espaço afora para qualquer extraterrestre que queira, ou não, ouvir. O governo da Mula de Nove Cascos promete que o Brasil vai finalmente se tornar uma potência aeroespacial. E para isso, o governo federal anunciou um investimento de… segurem-se nas cadeiras… trinta milhões de reais! Isso mesmo, 30 milhões! Ou, se preferir, o equivalente a um quilo de café de baixa qualidade, ou o suficiente em dólar para pagar uma corrida de dois quilômetros de Uber. Só que, como sempre, o Molusco promete picanha e entrega… apenas as primeiras quatro letras. O governo espera que esse montante financie a construção de uma fábrica de propelentes e o desenvolvimento de veículos lançadores de pequeno porte. Parece promissor, não? Afinal, com 30 milhões de reais, o Brasil vai rapidamente se tornar um player importante no cenário espacial, não é? É só esperar até 2026, quando esse país finalmente lançar seus próprios satélites sem precisar mandar o dinheiro para fora do país. Isso, claro, se o foguete sair do chão. Ou se o dinheiro, em vez de decolar, não for para o buraco negro da corrupção.
A ministra Luciana Santos, do MCTI, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, com o entusiasmo de quem está na fila com seu potinho para o exame de fezes, declarou: “Isso é soberania nacional!”. Bom, com 30 milhões de reais, podemos até acreditar que o Brasil vai dominar o espaço. Afinal, é claro que um valor tão módico vai ser suficiente para resolver todos os problemas tecnológicos do país e transformar essa banânia em uma potência espacial global. Só que a ministra, talvez, tenha esquecido que, no atual governo, foguetes são lançados com a mesma eficiência com que prometeram picanha e cervejinha e entregaram o grosso dentro de cada trabalhador. O governador do Maranhão, Carlos Brandão, do PSB de Kassab, também não perdeu a oportunidade de ressaltar que Alcântara tem uma vantagem estratégica única. Ele destacou, com razão, que a localização privilegiada perto da linha do Equador reduz em até 30% o custo de lançamento de foguetes. Isso é uma vantagem de peso! Mas, com o orçamento que temos, parece que vai ser difícil usá-la para fazer um foguete que realmente decole. Ah, e o MCTI também planeja a criação de um Centro de Pesquisas Espaciais no Maranhão. E, claro, o financiamento? Bem, vamos esperar 90 dias para que uma comissão decida. Haja visto que, no governo Lula, o que não falta é comissão para criar novas comissões. Então, por que apressar as coisas? Melhor deixar tudo para depois.
Até 2026, talvez o Brasil seja uma potência espacial lançando o Funk para os confins de Júpiter, se os integrantes do local conseguirem fazer vaquinhas e rifas para terem o dinheiro necessário para fazer tudo o que estão pensando. Ou talvez, quem sabe, o que realmente decole, seja a esperança dos brasileiros, com uma passagem só de ida para o espaço mais profundo que possamos imaginar.
1. MCTI quer transformar o Maranhão em um novo polo do programa espacial brasileiro: https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/noticias/2025/01/mcti-quer-transformar-o-maranhao-em-um-novo-polo-do-programa-espacial-brasileiro
2. Centro Espacial de Alcântara [https://pt.wikipedia.org/wiki/Centro_Espacial_de_Alc%C3%A2ntara]
3. Base Alcantara [https://www.senado.gov.br/comissoes/cre/ap/AP20090701_Base_Alcantara.pdf]
4. EUA tentaram impedir programa brasileiro de foguetes revela WikiLeaks [http://oglobo.globo.com/mundo/eua-tentaram-impedir-programa-brasileiro-de-foguetes-revela-wikileaks-2832869]