Brandy Deason, moradora da cidade de Houston, metrópole situada no estado americano do Texas, tinha dúvidas se o lixo reciclado da cidade estava realmente sendo destinado para seu reaproveitamento. Para sanar essa dúvida, ela teve uma ideia genial: comprou doze AirTags, um dispositivo da Apple que funciona como um rastreador, e os colocou em plásticos filme, sacolas de compras, frascos de xampu, e outros itens plásticos que normalmente não são reciclados pelas empresas de gestão de resíduos. Assim, a ambientalista conseguiria rastrear o percurso e o destino dos seus dejetos, permitindo saber se eram destinados à reutilização ou não.
Sua desconfiança começou quando a cidade americana lançou um programa chamado “WHEN?”, que basicamente aceitava certos tipos de plásticos conhecidos por não serem recicláveis, como, por exemplo, o isopor. O programa foi lançado em dezembro de 2022, em conjunto com as empresas ExxonMobil, LyondellBasell e Cyclyx International, que salientavam que os moradores poderiam descartar todos os tipos de plástico em lixeiras de reciclagem.
O resultado da sua empreitada mostrou que seu receio tinha fundamento. Apesar de três dos seus dispositivos perderem a conexão, mais da metade dos nove restantes foram descartados ao ar livre. Os rastreadores mostraram que os resíduos foram parar nas instalações de uma empresa chamada Wright Waste Management, a 32 quilômetros da cidade. A empresa foi a ganhadora da licitação para reciclar o plástico, que era jogado fora pelos americanos residentes da cidade de Houston. Entretanto, a empresa é focada apenas em reciclagem de papelão.
Inclusive, a organização não tem permissão para armazenar este tipo de lixo reciclado. Além disso, a companhia falhou no controle de prevenção a incêndios três vezes, e também tinha muitas baterias em meio aos plásticos, já que os AirTags ainda estavam enviando informações para os servidores da Apple. Inclusive, o chefe da área de resíduos da cidade admitiu que em dois anos, foram recolhidas 250 toneladas de plástico que não foram recicladas, até porque a própria empresa não tem tecnologia para reciclagem do material. A CBS, um canal de notícias americano, usou um drone para analisar o local onde estavam guardados os dejetos, e mostrou que havia pilhas de plástico com mais de 3 metros de altura cada.
Mark Wilfalk, assecla governamental da referida cidade, disse que o município está ciente do problema, mas informou que planeja estocar o plástico, por enquanto, para ver o que acontece. A Cyclyx, uma das empresas que encabeçou o novo programa de reciclagem, disse que abriria uma instalação de triagem para armazenar e tratar o plástico, transformando-o em pellets recicláveis, que nada mais são do que pequenas esferas de plástico. Contudo, nada foi feito até o momento.
Quem recolhe o lixo da cidade é outra empresa, a Houston Recycling Collaboration, organização mancomunada com o governo da cidade. Isso implica dizer que agentes governamentais estão envolvidos no processo de coleta de resíduos, e sabiam o que estava acontecendo há muito tempo. Segundo as empresas parceiras, o plástico acumulado na Wright Waste Management só conseguirá ser reciclado em 9 meses.
Isso prova mais uma vez que a ideia de concessão para empresas privadas nada mais é que um método para que os amigos do rei possam abocanhar dinheiro fácil dos pagadores de impostos. “Ah, mas o problema não é do município, mas das empresas que ganharam a licitação”. Será? Os agentes governamentais não seriam os responsáveis por avaliar se a referida empresa teria capacidade de reciclar os dejetos dos moradores da cidade de Houston? Vimos através da reportagem que os asseclas estatais sabiam dos problemas e nada fizeram para uma possível solução ser encontrada, haja visto o que foi falado por Mark Wilfalk. Estocar o plástico e ver o que acontece não parece ser uma boa solução para o problema, não é mesmo?
Obviamente, o resultado é bem melhor do que aquele encontrado no Brasil, haja visto que aqui nas terras tupiniquins saneamento básico e tratamento do lixo são coisas impensáveis para a maioria da população. Não vamos nos alongar sobre o assunto, afinal, já fizemos um vídeo sobre este tema, intitulado “Prazo para EXTINGUIR os LIXÕES terminou este mês, mas 40% dos RESÍDUOS ainda são jogados lá”. Caso queira se aprofundar no tema, o link para o vídeo está aqui na descrição.
Apesar disso, é importante mostrarmos que as soluções que muitas pessoas acreditam resolver o problema, na verdade, criam outros que são mais difíceis de serem resolvidos. No caso citado de Houston, a cidadã do município teve que gastar uma boa quantidade de dinheiro com os dispositivos da Apple para mostrar que o lixo estava sendo descartado de maneira incorreta. É um erro acreditar que fornecer concessão para empresas privadas de um determinado produto ou serviço estatal irá acabar com os problemas. Licitações normalmente são meios burocráticos de colocar os amigos do rei para mamar nas gordas tetas do governo, das quais provém o dinheiro dos pagadores de impostos. Quem aqui não se lembra da licitação de arroz importado da qual a arrematante era uma empresa pequena de queijos do interior de Macapá, que teve seu capital social alterado de oitenta mil para cinco milhões uma semana antes do leilão? Não estamos dizendo que havia alguma falcatrua, mas convenhamos que é muito estranho essa mudança abrupta do tamanho da empresa, não é mesmo? Se quiser saber mais sobre o assunto, veja o nosso vídeo sobre o tema, “Leilão para compra de ARROZ é ANULADO após DENÚNCIAS”, o link está aqui na descrição do vídeo.
Então qual seria a solução? Sinceramente, não há uma solução simples para um problema complexo como o descarte de lixo humano. Seria muita imprudência ou soberba acreditar que a solução seja fácil e prática. Contudo, o que podemos dizer com propriedade é que o lixo de um, é o tesouro de outro. Se esse setor não fosse altamente regulamentado e não houvesse o estado para intervir, é bem provável que as pessoas teriam que pagar um valor para que empresas de coleta de lixo fizessem o recolhimento dos seus dejetos diariamente. Como os caminhões de lixo teriam que descartar tudo em algum lugar, e por mais que este local fosse descomunalmente grande, pelas leis da física o lugar suportaria uma quantidade limitada de lixo. Por isso, as companhias que estivessem focadas em realizar tal serviço, iriam reciclar o máximo possível da matéria-prima recolhida, e descartar posteriormente o restante. Porém, é importante ressaltar que já é possível transformar o lixo não reciclado em energia, seja pela sua queima através da incineração, seja pela captação de gases liberados ao enterrá-lo.
Existe uma cidade japonesa, de nome Kamikatsu, que consegue reciclar 81% do seu lixo, sendo o restante incinerado. Contudo, estamos falando de uma cidade de pouco menos de mil habitantes, e Houston possui mais de 2,3 milhões. Entretanto, o fato de ser possível para cidades pequenas, significa que empresas de menor porte podem trabalhar com dejetos de alguns poucos bairros. Por isso, é provável que em um livre mercado, houvesse várias empresas, cada uma situada próxima ao bairro que faz a coleta, haja visto que a logística dos dejetos é algo complexo, e provavelmente seria custoso para as grandes cidades. Mas o que ninguém fala, é que esses incineradores poderiam utilizar-se da queima do lixo para criar energia elétrica para as proximidades. Além disso, como grandes indústrias utilizam-se de caldeiras, elas poderiam unir o útil ao agradável, diminuindo assim os custos de produção ao adicionar a captação de resíduos domésticos de uma determinada área.
Enfim, soluções que envolvem o estado sempre resultarão em lobby, corrupção, poucos benefícios à população e ganhos escusos para os participantes desta orgia envolvendo dinheiro dos cidadãos. Soluções de livre mercado sempre existirão, mesmo que não sejam uma bala de prata para todos os problemas relacionados, entretanto, somente com a total liberdade e a ausência de governo conseguiríamos resolver de jeitos totalmente diferentes os problemas relacionados à vida em comunidade.

Referências:

https://br.ign.com/tech/129139/news/homem-coloca-airtags-no-lixo-e-acaba-descobrindo-fraude-a-nivel-governamental-que-gerou-escandalo

https://www.apple.com/br/airtag/

https://www.dailymail.co.uk/sciencetech/article-13809473/Texas-woman-uses-AirTags-recyclable-plastics.html

https://www.youtube.com/watch?v=myCmKeCTCrQ

https://www.youtube.com/watch?v=BYkpCG4KgLw