Nada é mais caro do que algo que o governo diz ser grátis. Dessa vez, a promessa é gás de cozinha grátis pra 17 milhões de famílias. Traduzindo: senta, que lá vem imposto!
O governo federal está para lançar uma medida provisória que vai entregar gás de cozinha “de graça” para cerca de 17 milhões de famílias no Brasil, através de um programa chamado “Gás para Todos”. A ideia é apresentada como um alívio para quem sente no bolso o preço alto do botijão, e olha, não é para menos. Cozinhar virou um peso no orçamento de muita gente, especialmente nas casas em que falta dinheiro e sobra mês. Há um lado bom nesse aumento do uso de gás, afinal, deixar de usar lenha é importante. Muitas pessoas ainda cozinham no fogão a lenha, expostas à fumaça, correndo risco de doenças no pulmão (principalmente crianças e idosos). Então, melhorar a vida dessas pessoas é uma causa justa. O problema é que, quando o governo anuncia algo “de graça”, a gente já sabe: alguém vai pagar. E esse alguém não é o político que assina o decreto. É você, eu e todos os brasileiros produtivos. São os que trabalham, pagam contas e impostos todo mês, mesmo quando o salário não dá.
A conta é direta e pesada. Se estamos falando de 17 milhões de famílias recebendo um botijão de gás por mês, a um custo médio de 130 reais cada, o valor total chega a 2,2 bilhões de reais mensais. Em um ano, isso representa mais de 26 bilhões de reais desembolsados pelo contribuinte. Esse dinheiro não surge do nada, não é gerado por mera vontade política, nem cai do céu como maná. Ele sai diretamente dos impostos pagos por quem trabalha, produz, empreende e cumpre com suas obrigações fiscais. Em outras palavras, é o cidadão comum, muitas vezes também apertado no orçamento, quem, no fim das contas, financia mais essa promessa governamental. E é sobre esse ponto que precisamos refletir com mais atenção. Até onde podemos continuar acreditando em benefícios gratuitos sem enxergar o custo real que eles carregam?
É a mesma velha fórmula que a gente já conhece de tanto ver: primeiro, o governo cria o problema. Coloca impostos altos, regula demais, atrapalha o mercado, e, claro, tudo fica mais caro. O gás de cozinha é só mais um exemplo disso. Ele não é caro por acaso. É caro porque tem uma carga tributária pesada em cima, porque o sistema de distribuição é engessado, porque o estado interfere demais, e coloca diversos tributos no preço. E aí, após ajudar a empurrar o preço lá para cima, quem aparece como herói? Ele mesmo, o estado. Com cara de bom mocinho, anuncia que vai dar o botijão de graça. Parece piada, mas é exatamente isso: criar o incêndio e depois se apresentar como bombeiro. Só que o que parece solução, na verdade, só piora tudo. Em vez de cortar impostos e deixar o preço cair de verdade, preferem jogar dinheiro público em cima do problema, criando mais uma armadilha de dependência. A gente ajuda a família hoje, mas amanhã ela vai estar ainda mais refém do estado, e nós, palhaços que trabalhamos, pagando a conta.
O “Gás para Todos” não é só mais um programa caro. É um retrato vivo de como políticas com boas intenções, ou que pelo menos se dizem ter boas intenções, podem causar estragos profundos e silenciosos na vida de todos. O maior prejuízo, e o mais injusto, é que quem trabalha, produz, empreende e paga altos impostos no final do mês é obrigado a bancar isso tudo. Para manter esse gasto de 26 bilhões por ano, o governo vai ter que fazer escolhas duras: ou aumenta impostos, e aí tudo fica ainda mais caro, ou corta verbas de áreas importantes como saúde e educação, já que não vai cortar os penduricalhos para os trastes de Brasília, ou ainda, se endivida mais, o que também pesa no bolso de todo mundo, com juros e inflação. Nenhuma dessas saídas é boa. Todas atrapalham a economia, desestimulam quem produz e atrasam o país. E o pior? Quem mais sofre com isso não é quem recebe o botijão, mas quem nem consegue entrar nessa lista de “beneficiados” e ainda assim tem que pagar por eles. É o cidadão comum, invisível, que sustenta o sistema inteiro e nunca é consultado.
Além disso, há a criação de uma dependência massiva do governo. Quando 17 milhões de famílias passam a depender do estado para algo tão básico quanto gás de cozinha, você cria um exército de eleitores cativos que votarão sempre em quem promete manter o benefício. Isso distorce completamente o processo democrático, transformando eleições em leilões de promessas assistencialistas financiadas por quem não recebe os benefícios. A dependência estatal também destrói incentivos para melhoria de vida. Por que uma família se esforçaria para aumentar sua renda se isso significasse perder o direito ao gás gratuito? O programa cria uma “armadilha da pobreza” na qual melhorar de vida economicamente significa perder benefícios, resultando em perda líquida de bem-estar. É mais racional permanecer pobre e dependente do que trabalhar para prosperar. Concomitante a isso, existe a distorção do mercado de gás de cozinha. Quando o governo se torna o maior comprador de um produto, isso artificialmente inflaciona a demanda e pode levar a aumentos de preços que prejudicam novamente quem não recebe o benefício. As famílias de classe média que pagam do próprio bolso podem acabar pagando mais caro para subsidiar o consumo de outros.
Há também o problema da ineficiência inerente aos programas governamentais. A distribuição de gás gratuito exigirá uma burocracia gigantesca para cadastrar beneficiários, verificar elegibilidade, controlar distribuição, fiscalizar fraudes. Essa máquina burocrática custará bilhões adicionais e será uma fonte permanente de corrupção e desperdício. Estudos comprovam que programas assistencialistas frequentemente gastam mais em administração do que efetivamente entregam em benefícios. Adicionalmente, existe o desestímulo à inovação e eficiência no setor energético. Quando o governo garante demanda artificial para um produto específico, remove incentivos para que empresas desenvolvam alternativas mais baratas ou eficientes. Em vez de buscar formas de reduzir custos de produção e distribuição de gás, ou desenvolver tecnologias alternativas, o setor se acomoda sabendo que tem um cliente garantido pagando preços artificialmente altos.
Por fim, outra consequência negativa é o impacto sobre a responsabilidade pessoal e familiar. Quando o estado assume responsabilidades que tradicionalmente cabiam às famílias, isso enfraquece os laços familiares e comunitários. Por que filhos adultos ajudariam pais idosos com despesas básicas se o governo já faz isso? Por que comunidades se organizariam para ajudar vizinhos necessitados se existe um programa estatal para isso?
Do ponto de vista libertário, o programa “Gás para Todos” é um exemplo clássico de como o estado cria problemas e depois oferece soluções que pioram a situação original. A abordagem libertária para tornar o gás de cozinha mais acessível seria exatamente oposta: reduzir impostos, eliminar regulamentações e permitir que o livre mercado opere sem interferências. O libertarianismo reconhece que não existe almoço grátis. Quando o governo promete algo “gratuito”, está simplesmente transferindo custos de uns para outros, através da coerção fiscal. Isso viola o princípio fundamental da não-agressão, já que força pessoas que não consentiram a pagar por benefícios que não recebem. É uma forma de roubo legalizado, no qual o estado usa sua força para tomar dinheiro de uns e dar para outros.
A solução libertária seria eliminar todos os impostos que encarecem o gás de cozinha e demais produtos e serviços. ICMS, PIS, COFINS, impostos sobre combustíveis que encarecem o transporte, todos esses tributos poderiam ser eliminados, tornando o gás naturalmente mais barato para todos, não somente para beneficiários de programas assistenciais. Isso beneficiaria tanto pobre quanto classe média, sem criar distorções ou dependência estatal. A desregulamentação do setor energético também reduziria custos significativamente. Permitir que mais empresas entrem no mercado de distribuição de gás criaria concorrência real, forçando redução de preços e melhoria de serviços. Eliminar monopólios regionais e facilitar a importação de gás de outros países aumentaria a oferta e reduziria preços.
O libertarianismo também defende que a caridade verdadeira deve ser voluntária, não coercitiva. Se as pessoas querem ajudar famílias necessitadas com gás de cozinha, devem ter liberdade para fazer isso mediante organizações privadas, igrejas e ONGs. Essa caridade voluntária é mais eficiente, mais direcionada e não cria dependência da mesma forma que os programas estatais. Quem acredita em liberdade entende uma coisa simples: os mercados livres, quando deixados em paz, são o melhor jeito que a gente já encontrou para tornar coisas básicas acessíveis a todos. Quando empresas podem competir de verdade, sem barreiras artificiais, têm interesse real em baixar custos, inovar e chegar a mais pessoas, inclusive quem ganha pouco. Olha ao seu redor: quantas coisas que antigamente eram luxo só para poucos hoje estão ao alcance de quase todo mundo? Celular, geladeira, internet. Isso não aconteceu porque o governo distribuiu de graça. Aconteceu devido à inovação, a concorrência, ao esforço de quem produz e quer vender mais. Quando o mercado funciona, ele naturalmente se adapta, e o resultado é que produtos e serviços vão chegando a todos, não como favor, mas como conquista.
O libertarismo também leva a sério a responsabilidade individual e o papel da família. Em vez de criar uma cultura de espera pelo estado, a gente deveria investir em instituições que fortalecem a autonomia das pessoas: boas escolas, trabalho que valoriza quem produz, e um ambiente onde empreender não seja um obstáculo burocrático. Quando alguém tem a chance de estudar, trabalhar com dignidade ou abrir um pequeno negócio sem ser sufocado por impostos e regras, não precisa depender de programa. Ele pode, com seu próprio esforço, construir uma vida melhor. E isso não é só mais digno, é mais sustentável. Depender do governo vira um ciclo difícil de sair. Já crescer com oportunidades reais? Isso liberta.
A solução para a pobreza energética, então, não está em mais um programa de distribuição, mas em um caminho mais profundo: crescimento econômico real e duradouro. Quando a economia cresce de verdade, não por conta de manobra contábil, mas por liberdade, produtividade e confiança, os empregos aparecem, os salários sobem, e as famílias conseguem pagar suas contas com o que ganham, sem precisar esticar a mão. Isso leva tempo, exige paciência e não dá manchete fácil. Mas é o que funciona de verdade. Porque tratar o sintoma com ajuda emergencial pode aliviar por um tempo, mas curar a raiz, com liberdade, trabalho e oportunidade, é o que muda vidas para sempre. Por fim, o libertarianismo reconhece que esses programas são fundamentalmente injustos porque violam direitos de propriedade. Forçar o trabalhador a financiar benefícios para outros é uma forma de trabalho forçado, você é obrigado a trabalhar parte do seu tempo para sustentar pessoas que você nem conhece, sem seu consentimento. Isso é moralmente indefensável, independentemente das boas intenções por trás do programa. A verdadeira compaixão não é forçar outros a pagar por sua generosidade. É criar condições para que todos possam prosperar através do próprio esforço em mercados livres e competitivos.
https://meutudo.com.br/blog/noticias/2025/08/05/milhoes-de-familias-terao-acesso-a-gas-de-cozinha-gratuito
https://www.gov.br/mme/pt-br/assuntos/noticias/com-o-programa-gas-para-todos-mme-assume-protagonismo-a-frente-do-combate-a-pobreza-energetica
https://www.tandfonline.com/doi/pdf/10.1080/10349952.1998.11876679
https://www.heritage.org/welfare/heritage-explains/welfare