Se o INSS fosse um serviço particular, ele já teria falido, mas como é estatal, continua falindo a população.
Em outubro de 2025, o governo do amor atingiu um novo recorde: a fila do INSS chegou a 2,86 milhões de requerimentos pendentes. É o maior número da história, nunca tivemos tantos beneficiários na fila como na atual gestão. Lula, em campanha e já no cargo, afirmou que zeraria a fila, só para aumentar em 132,4% o número de pessoas esperando por análise em relação a janeiro de 2023, quando o governo começou. Só no último ano, o crescimento foi de quase 50%, saindo de 1,23 milhão para 2,86 milhões de pedidos parados.
Apesar da avalanche de processos, o INSS garante que está mais ágil, apontando que o tempo médio de análise caiu de 38 dias em 2024 para 35 dias em 2025. Mas na prática, o cidadão ainda espera meses, às vezes mais de um ano, para ter uma resposta, e quando a resposta vem, muitas vezes é negativa, e ele precisa recorrer à Justiça.
Como resposta à crise, o órgão anunciou, em 19 de novembro de 2025, um comitê estratégico para “monitorar e propor soluções”. Mais uma daquelas medidas tapa buraco que ao invés de agir com prevenção, apenas surge quando o problema já está descontrolado. Enquanto comitês se reúnem, aposentados, deficientes e idosos pobres esperam o benefício que deveria garantir o mínimo de dignidade que o estado tanto prometeu.
O maior pico antes da alta de outubro ocorreu no governo Bolsonaro, com 2,03 milhões de pedidos, registrado em janeiro de 2020. Os números de 2025 assustam ainda mais quando observamos o fato de que o pico anterior ocorreu no início da pandemia, onde milhões de pessoas se viram sem suas fontes de renda do dia para a noite e tiveram que recorrer ao auxílio emergencial. Lula não apenas ultrapassou esse número como o distanciou em 40,8%, provando que um governo do PT pode causar muito mais estrago do que uma pandemia global.
Entre os quase três milhões de pedidos acumulados, 897 mil dizem respeito ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), voltado a idosos de 65 anos ou mais e pessoas com deficiência em situação de pobreza. A judicialização desse benefício cresce de forma acelerada, sobrecarregando as contas públicas e tornando o sistema ainda mais lento e disfuncional.
Tudo isso pinta um cenário de paralisia institucional. O populismo petista que prometeu “zerar a fila” pode até ter rendido manchetes e votos, mas agora pode jogar mais uma bomba relógio no colo de Lula. Para entender a impossibilidade da promessa de campanha, precisamos olhar de perto o que é a fila do INSS, o que termos como “governabilidade” significam e como a própria arquitetura estatal torna o INSS uma máquina emperrada.
A fila do INSS representa todos os requerimentos feitos por cidadãos que ainda não tiveram uma decisão: aposentadorias, auxílios, pensões, BPC, benefícios por incapacidade. Cada número nessa fila é uma pessoa à espera de benefícios.
Alguns processos estão em análise, outros parados por falta de documentos, e uma parte considerável está “sobrestada”, ou seja, congelada por decisões judiciais, mudanças legais ou travas em sistemas externos. O ponto central é que essa fila não é homogênea, uma parte dela o INSS até poderia resolver rapidamente, já a outra parte, muito maior, está fora do alcance da sua caneta. E é aí que entra o conceito de governabilidade.
Ela é o grau de controle que o órgão tem sobre seus próprios processos. Quando um pedido depende apenas de documentos já enviados e análise interna, ele está sob governabilidade. Mas quando o pedido exige verificação no CadÚnico, cruzamento de dados da Dataprev, perícia médica no SUS ou até autenticação bancária por biometria, o controle escapa completamente. O INSS vira apenas um intermediário entre sistemas públicos que não se falam.
Em outubro de 2025, o relatório técnico da autarquia mostrava que apenas um terço da fila total estava sob governabilidade direta. Dois terços, cerca de 1,9 milhão de pedidos, estavam travados por fatores externos. Isso significa que, mesmo que o INSS funcionasse com perfeição, ainda assim não conseguiria resolver a maioria dos casos, porque depende de órgãos que também estão atolados, desatualizados ou simplesmente desinteressados.
Dentro desse emaranhado está o BPC, um dos benefícios mais complicados da estrutura previdenciária. Ele é assistencial e não contributivo, ou seja, o beneficiário não precisa ter contribuído com o INSS. O público-alvo são idosos e pessoas com deficiência em extrema pobreza. O benefício é de um salário mínimo, sem 13º.
Para receber o BPC, o cidadão precisa estar inscrito no CadÚnico, passar por uma análise de renda familiar, uma avaliação social, uma avaliação médica (no caso de deficiência) e cruzar dados com a Dataprev. Só depois disso tudo o INSS toma uma decisão. Cada uma dessas etapas pode emperrar o processo, especialmente quando há divergências de informação entre bases de dados.
O relatório de outubro mostra que o BPC é, na verdade, um dos grandes vilões da fila. Apenas 13% dos processos estão sob governabilidade direta do INSS. 82 mil esperam apenas biometria e 660 mil estão parados na Dataprev aguardando um novo cálculo da renda familiar.
Os números do Benefício por Incapacidade Temporária (BI) são igualmente aterradores. Há 1,324 milhão de pedidos na fila, mas apenas 25% podem ser analisados diretamente pelo INSS. O restante depende de perícias médicas, relatórios de terceiros e sistemas que operam em paralelo.
O relatório também mostra que o tempo médio de concessão diminuiu, uma notícia aparentemente boa, mas que não passa de um truque estatístico. O INSS passou a priorizar os processos que ele consegue resolver rapidamente, deixando os mais complexos, e geralmente mais urgentes, para depois. É a lógica dos hospitais que operam primeiro as cirurgias simples para “melhorar a fila”, o número parece bom, mas o sofrimento continua o mesmo.
No fundo, o discurso de “zerar a fila” nunca foi técnico, foi eleitoral. Uma promessa fácil de vender, porque fala diretamente com milhões de brasileiros que dependem desses benefícios para sobreviver. Mas para cumpri-la seria necessário algo que o estado brasileiro não tem: planejamento, estabilidade e eficiência.
A verdade é que o INSS é um espelho da própria máquina pública: pesado, lento e movido por interesses patrimonialistas. Qualquer tentativa de reforma se choca com os mesmos obstáculos de sempre: burocracia, disputas internas, orçamento limitado e, principalmente, ausência de incentivos para eficiência. Não há bônus por produtividade, não há competição, não há punição real por ineficiência, há estabilidade e conveniência.
O INSS é o símbolo daquilo que acontece quando o estado assume funções que ele não consegue sustentar. A população envelhece, a base de contribuintes encolhe, as regras se multiplicam, e o sistema entra em colapso. O mundo inteiro está ou estará enfrentando problemas derivados da baixa natalidade e envelhecimento de sua população ao longo do século XXI. O Brasil não escapará dessa tendência global, embora ainda possua milhões de jovens no mercado de trabalho. Se mesmo assim o INSS já mostra sinais de exaustão, imagine o que acontecerá quando o país atingir o pico demográfico previsto para 2042 e começar a envelhecer de forma acelerada?
Enquanto isso, a confiança do cidadão na Previdência se dissolve em meio a escândalos como o da “Farra do INSS”, que desviou bilhões de reais por meio de descontos irregulares em aposentadorias. Tudo reforça a sensação de que o sistema existe mais para sustentar funças e esquemas do que para proteger quem precisa.
Mesmo que o INSS fosse gerido por profissionais competentes e interessados no “bem público”, ainda assim o sistema apresentaria falhas graves. Pois o problema não consiste em uma “falha de gestão”, é uma falha de concepção, o INSS é um monopólio estatal sem incentivos para melhorar. Ele não precisa competir, não precisa inovar, não precisa prestar contas a ninguém além de si mesmo. Essa estrutura, combinada com a politização crônica de cargos e orçamentos, cria uma máquina destinada à ineficiência. E enquanto governos alternam discursos de “reforma” e “modernização”, a fila continua crescendo.
A solução real passa por uma mudança de paradigma, onde o indivíduo deixa de ser um ente passivo que apenas espera receber a provisão estatal para um agente que ativamente constrói patrimônio para sua aposentadoria. Uma das primeiras soluções que a maioria das pessoas pensam quando os sistemas concorrenciais vêm à mente são as previdências capitalizadas que se provam muito mais eficientes que suas contrapartes estatais.
Mas além delas ainda há a possibilidade de se aposentar com dividendos e fundos de investimento, através do acúmulo de capital e juros guardados ao decorrer da vida economicamente ativa.
Não há dúvidas que essas são opções promissoras e muito superiores ao INSS, mas é necessário se ater aos riscos de cada uma, já que previdências privadas podem falir, ações e fundos podem ter quedas de valor e lucratividade. Mas nenhum desses riscos é tão considerável quanto a própria interferência estatal. Governos de todos os países e períodos históricos se mostraram hostis a qualquer iniciativa que promovesse a liberdade individual e independência do leviatã. Não é atoa que vemos tanta crítica à mera possibilidade de colocarmos outras opções à mesa que não sejam a aposentadoria estatal.
Um governo pode restringir ou proibir a operação de previdências privadas, taxar ou confiscar lucros advindos de operações financeiras. Ter dinheiro em um lugar onde o estado tem livre acesso é o real risco dessas opções. É pensando nesse problema que o Bitcoin foi criado, garantindo a soberania individual e proteção do seu capital contra qualquer estado. Sua arquitetura blockchain garante que ninguém além de você seja dono do seu dinheiro, tudo isso caso você tenha as chaves privadas e pratique auto custódia, é claro.
A previdência estatal brasileira é um castelo de areia, sustentado por discursos populistas e orçamentos deficitários. Ela não se tornará eficiente porque não foi criada para isso. O INSS é o retrato de um estado paternalista que promete cuidar de todos, e por isso não consegue cuidar de ninguém.
https://www.poder360.com.br/poder-governo/fila-do-inss-volta-a-renovar-recorde-com-lula-que-prometeu-zerar/
https://static.poder360.com.br/2025/11/fila-inss-outubro-2025.pdf
https://www.populationpyramid.net/pt/brasil/2042/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Esquema_de_fraudes_no_INSS