Chainsaw Man é um Anime de Extrema Direita?

O mundo dos animes tem sofrido ataques de esquerdistas que tem tentado espalhar sua ideologia na indústria do entretenimento, mas qual a verdadeira mensagem dessas obras afinal?

O Mangá Chainsaw Man (escrito e ilustrado por Tatsuki Fujimoto) ficou tão popular depois de sua estreia que chegou até a virar um anime, que posteriormente deu ainda mais popularidade para a obra. E até o agora presidente da Argentina, Javier Milei, usou e abusou dos personagens e da obra em memes no Twitter, sendo comparado ao demônio Pochita depois de ter levado uma motosserra em suas manifestações e até ter erguido uma pelúcia do próprio personagem em uma passeata. Após isso é óbvio que os esquerdistas saíram desesperados para dizer que o anime era de "extrema-direita", "ultra-direita" e todos esses rótulos que você já conhece.

Mas você se pergunta: do que série se trata? A história é sobre Denji, um garoto de 17 anos que após ser obrigado a ter que matar demônios para pagar a dívida de seu falecido pai, firma um contrato com Pochita, um pequeno demônio motosserra, o qual se torna seu companheiro e cresce junto do garoto ajudando ele a eliminar outros demônios em troca de quitar suas dívidas com a Yakuza, a máfia Japonesa.

Até que um dia, Denji e Pochita são enganados e mortos em um armazém, com Pochita firmando um novo contrato com o Denji para salvar sua vida, em troca de ele prometer realizar seus sonhos simples que tinha desde garoto, como ter uma vida normal, poder comer pão com geleia e levar garotas para a cama. Assim, Denji renasce como meio humano e meio demônio, podendo se tornar o Chainsaw Man (ou Homem motosserra na tradução literal), sendo então recrutado pelo demônio da Manipulação, Makima, para trabalhar para o governo japonês em troca de ter sua tão sonhada vida boa.

Essa é somente a introdução do Mangá, para quem quiser saber o resto da história, recomendo ler o Mangá ou assistir a primeira temporada do Anime antes, pois citaremos spoilers. Mas continuando para quem já conhece a obra, em um dos capítulos, a personagem Reze introduz a reflexão que define os personagens da série, ao perguntar ao Denji se ele se considerava um rato do campo ou um rato da cidade, o rapaz não entende mas ela explica que o rato do campo seria aquele que trabalha bastante, vive uma vida agitada e animada, porém acaba vivendo pouco, enquanto que o rato do campo é aquele que prefere viver na fazenda, calmo, sem muitas perturbações e com uma vida longa.

Aqui não cabe a nós julgar necessariamente qual seria o melhor estilo de vida, pois essa é uma escolha individual de estilo de vida, então só analisaremos como isso se reflete nos personagens. O Maior exemplo talvez seja a personagem Himeno, o qual embora viva intensamente, seu próprio nome reflete sua ambição, o qual é traduzido para "Princesa do campo", tanto que (ALERTA DE SPOILERS) após a sua morte, ela deixa uma carta na qual revela que o que ela realmente queria era deixar a segurança pública e viver em paz ao lado de um dos outros protagonistas e seu parceiro, Aki.

Mas é claro, tudo não se resume apenas na questão dos indivíduos comuns, pois como bem sabemos também existem os parasitas e burocratas, muito bem representados no papel da vilão principal, Makima, demônio da manipulação e chefe da segurança pública, a qual após matar a própria Reze, responde a pergunta anterior dela dizendo que ela não é nem um e nem o outro, mas que ela é quem destrói o rato do campo, o pega e o subverte a sua vontade e controle de seu poder.

Um ponto interessante de se ressaltar da obra é um em que a Makima vai negociar com os chefões da Yakuza a respeito de ataques dos mesmos ao setor público, o qual o chefão da máfia argumenta que a existência deles é algo necessário, pois outras máfias como a máfia americana e a soviética eram muito mais cruéis que eles, sendo "um mal necessário". Lembra muito os discursos do estado sobre precisar existir para defender o povo de outras máfias ao redor do mundo ou de máfias menores dentro de seu próprio território. A própria Makima acaba respondendo isso depois afirmando que o mal necessário já estava controlado há muito tempo, a Yakuza não era esse tal mal necessário, mas apenas um mal comum na visão dela. Essa cena em específico não é nada mais do que uma máfia maior discutindo com a outra sobre quem de fato é o verdadeiro "mal necessário".

Mas também é óbvio que o próprio estado japonês não deixa de ter culpa em nada disso, pois no início da obra, o objetivo dos nossos protagonistas é derrotar o Demônio da Arma, um poderoso demônio que causava extremo medo na população, em um mundo que o medo equivale a poder para os demônios. Denji quer matar o demônio por causa da promessa da Sra. Makima de conceder qualquer desejo dele caso ele conseguisse, enquanto que o Aki quer matar o demônio para vingar sua família, que foi morta pelo mesmo.

É aí então que nos é revelado um tempo depois pela própria Makima de que o Demônio da Arma já está morto há muito tempo e teve o corpo encontrado na Sibéria, enquanto que os governos do mundo usam do medo da população para aumentar o poder do demônio, com os países disputando os pedaços dele e sendo usados apenas como ameaça de poder entre as nações, semelhante ao método usado pelos Estados Unidos na guerra ao terror como justificativa para invadir outros países.

Ironicamente, no final de seu arco, é revelado que seu verdadeiro plano era usar um poder do demônio da motosserra para apagar todos os males do mundo e fazer dele um lugar melhor. Um pouco familiar não? Mais engraçado ainda é ao final, onde quando ela finalmente alcança o coração de Denji e pega o Pochita, é demonstrado que ela não estava realmente preocupada com isso, mas sim queria apenas ter ele como seu parceiro, atingindo somente seus interesses pessoais, como todo bom ser que se dispõe a querer comandar a sociedade dizendo que sabe o que é melhor para ela.

Mas no final de tudo isso, o que podemos dizer sobre o garoto Denji e seu simples sonho de viver uma vida comum e sendo impedido de alcançar isso por causa de interferência e disputa de poder entre nações e burocratas? O protagonista querer viver sua própria vida torna a obra um conteúdo de direita ou algo do tipo?

Para nós, é claro que existe uma visão ideológica em tudo isso, embora não seja a intenção ou visão do autor, porém a ideia da liberdade individual na vida do protagonista acaba sendo destruído pelas ações do estado, que assim como a Makima, na vida real apenas pega o rato do campo, que quer viver bem e se preocupando consigo mesmo, destrói ele completamente e o transforma em um rato da cidade, trabalhador de CLT, se preocupando com pautas coletivistas e que vive muito pouco para ver os frutos de sua aposentadoria a qual passou a vida inteira pagando.

Desse modo, nos resta muito mais tentar fugir do estado o máximo que puder e resistir enquanto indivíduos, pois o leviatã pode ser até mesmo um demônio, mas não pode conter uma sociedade produtiva enquanto o mesmo se mantém improdutivo.

Referências:

https://www.ndtv.com/world-news/why-is-argentina-president-elect-javier-milei-called-the-chainsaw-man-4591578
https://mangaschan.net/20052503/chainsaw-man-capitulo-151/