Como um texto escrito no início do século XX previu o resultado experimental da Utopia dos Ratos e, até hoje, consegue dialogar com autores como Fenando Ulrich e Nicholas Taleb, e com obras como a Bitcoin Red Pill de Renato Amoedo e Alan Schramm?
Ortega y Gasset foi um célebre escritor espanhol. Ainda no início do século XX, ele escreveu o famoso ensaio A Rebelião das Massas, publicada pela primeira vez em 1930. O texto, profético e atual, traz luz aos problemas que acompanharam a chegada das massas ao poder, substituindo o antigo protagonismo de uma elite intelectual e cultural, e inaugurando uma era de igualitarismo intelectual e mediocridade.
Para o autor espanhol, dificuldades, perigos e escassez eram traços presentes na vida do homem médio do passado e que foram praticamente eliminados da vida do homem moderno. Isso fez com que o homem moderno se sentisse no apogeu de um novo aeon, abandonando qualquer tipo de reverência pelo passado.
Tal mudança de paradigma, caracterizada pelo abandono do passado, fez com que esse novo homem deixasse de aproveitar as experiências acumuladas ao longo do tempo, fazendo-os suscetíveis a erros ingênuos, até então superados.
Como consequência, emergiu a figura do homem-massa. Em resumo, tal figura é descrita com um homem de segunda classe, cuja vida carece de projetos; que mesmo tendo enormes possibilidades, nada constrói. Não passa de um mimado pelo mundo que o cerca; um homem que pensa ter todos os direitos e nenhum dever.
Ortega y Gasset demonstrou ser um visionário ao comparar o comportamento passivo das massas à dinâmica observada nos ratos machos não dominantes no experimento denominado Universo 25, ou Utopia dos Ratos, evidenciando a inércia e falta de perspectiva.
No referido experimento intergeracional, criado para estudar o comportamento social dos ratos, se apurou que quando os ratos eram submetidos a um ambiente sem escassez, tendiam a não construir nada. Eles tiveram desempenho social inferior do que o desempenho que teriam em ambientes sociais de escassez, como na natureza.
No início do século XXI, passados quase 100 anos da constatação de Ortega y Gasset, e cerca de 50 anos após o experimento com ratos conduzido por John B. Calhoun, o escritor libanês Nicholas Taleb escreveu seu célebre livro 'O Antifrágil: As Coisas Que Se Beneficiam Com O Caos'.
O livro, que possui viés econômico, acaba tendo uma abordagem generalista. O conceito apresentado, chamado pelo neologismo de antifragilidade, tem aplicação praticamente universal, e é explicado desde o porquê as bactérias se tornam mais resistentes ou o motivo de aviões serem mais seguros do que os carros.
Em sua obra, Taleb tenta buscar e explica o conceito daquilo que ele define como antifragilidade. Na opinião do autor, diferentemente do que pensa a maioria das pessoas, o contrário de frágil não seria robusto, mas antifrágil.
Para ele, a condição do que é robusto tende a ser estática, meio-termo entre o frágil e o antifrágil. Por sua vez, o frágil sucumbiria catastroficamente ao mínimo estresse e variação. Já o antifrágil, seria explicado como aquilo que, diante de uma quantidade razoável e suportável de estresses e variações, aguentaria passar por novo ciclo com quantidades um pouco maiores de estresse e variação, e assim por diante.
Para entender melhor aquilo que pode ser classificado como a principal teoria do livro, em estreita síntese: enquanto a exposição a estresse e variação arruinaria o frágil e tenderia a ser indiferente ao robusto, tais condições dariam início a sucessivos ciclos virtuosos de resposta adaptativa no antifrágil.
Não obstante, dentre outras coisas, o livro também enfatizava a importância do tempo como um teste que tem o potencial de expor as fragilidades do novo e das novidades: sejam elas teorias, tecnologias, livros, etc.
Para exemplificar o que diz sobre o tempo, o autor libanês elenca alguns exemplos da medicina, que no passado chegou a usar radiação para o tratamento de acne, prática que foi abandonada pelos riscos. Outro exemplo é que era comum receitar a nociva gordura trans para a alimentação por, naquele momento, achar que ela era uma gordura superior a gordura animal, que era consumida por humanos desde os primórdios.
Com base no pensamento de Taleb, pode-se dizer que Ortega y Gasset, quase um século antes, alertou para a mudança de paradigma decorrente da modernidade e sua novidade, que poderia ser descrita como a troca da antifragilidade social pela fragilidade social. Devido à substituição dos conhecimentos adquiridos no passado por aqueles que ainda estavam por vir no futuro.
Ante o exposto, não é de se surpreender que a modernidade retome com ideias já sabidamente fracassadas, dando a elas um verniz de modernas, como ocorreu com a ideia da diluição da moeda. Nos dias de hoje, se trata da criação de novo dinheiro em computadores e sua consequente inflação.
O teste do tempo demonstrou que a ideia da diluição da moeda tem consequências, no mínimo, problemáticas – para não dizer catastróficas. Essa fraude monetária tira a sociedade de um cenário de maior estabilidade para um cenário de maior instabilidade econômica, moral e social.
Também no século XXI, Satoshi Nakamoto, de nacionalidade desconhecida, criou o sistema de moeda eletrônica, o Bitcoin, projetado para ser protegido contra a influência de líderes carismáticos e pra lá de autoritários. O seu token, o Bitcoin, não se propõe a seguir o fluxo de diluição das moedas da modernidade. Ao contrário, ele representa um retorno a sólida tradição econômica da escassez, do limite de gastos, da verdadeira segurança monetária que aproveita a experiência acumulada ao longo do tempo.
Conforme se pode sintetizar do pensamento de Fernando Ulrich, no conhecido livro ‘Bitcoin: A Moeda na Era Digital’, essa moeda digital é paradigmática por trazer justiça. Ela possui tecnologia inovadora, abarcando vários conceitos de vários conhecimentos humanos. Trata-se de uma forma de dinheiro puramente digital, que não pertence a nenhum governo e que tem valor determinado livremente pelo mercado.
Aperfeiçoado ao longo do tempo pelo trabalho conjunto e descentralizado de toda a comunidade, de programadores a holders, o famoso ouro digital é um projeto monetário radicalmente ortodoxo; de caráter permanente, visa extirpar a possibilidade de incidência no erro ingênuo da diluição - ou falsificação -, que se encontra definitivamente superado.
Nas palavras de Ulrich, o Bitcoin é a maior inovação tecnológica desde a internet. Para ilustrá-lo, afirma que aquilo que o e-mail fez com a informação, o Bitcoin fará com o dinheiro, propiciando a perspectiva de restaurar a universalidade e solidez do padrão ouro, porém, de forma mais aprimorada.
Os também brasileiros Renato Amoedo e Alan Schramm, ao escreverem o livro ‘Bitcoin Red Pill: O Renascimento Moral, Material e Tecnológico’, pretendem despertar a sociedade para a grande inovação que é o Bitcoin. Eles dão a entender que esse ouro digital não é apenas o resultado das idas e vindas históricas, de degeneração e tentativas de regeneração monetária, moral e social. Os autores também explicam que o Bitcoin é o único mecanismo existente para viabilizar tal renascimento amplo.
Para a dupla de autores baianos, a impressão e falsificação da moeda levam à menor motivação para o trabalho e o esforço, a menores poupanças e investimentos, a menos cooperação social e, principalmente, à diluição da moral – tendo como consequência a motivação à vagabundagem, ao consumo, à parasitagem, ao vitimismo e ao oportunismo.
Assim, entendem que o Bitcoin é o bote salva-vidas contra o leviatã estatal cada vez mais falido moral e financeiramente, que gasta mais do que arrecada e joga a conta nas costas do povo por meio do roubo institucionalizado. Seja através dos impostos ou do aumento da inflação.
Para ambos: ou o sistema Bitcoin tirará do governo o poder de criar moeda, de se endividar, de controlar taxas de juros, propiciando um renascimento moral, tecnológico e material, com mudanças brutais nas preferências temporais derivadas do acesso a boas reservas de valor. Ou a humanidade experimentará decadência moral, tecnológica e material em um período de totalitarismo sem precedentes, com governos recebendo informações de grandes corporações e usando gamificação para motivar competição agressiva por obediência e eliminação de dissidentes.
Ao fim e ao cabo, é surpreendente e fascinante pensar como pessoas, de diferentes nacionalidades e de diferentes épocas, de diferentes culturas e ramos do conhecimento, conseguiram detectar um problema, se debruçar sobre ele e, por fim, solucioná-lo de forma descentralizada.
Logo, conforme evidenciado, o Bitcoin resolve o problema apontado por Ortega y Gasset, restaurando a antifragilidade social perdida na modernidade. Como novo paradigma de uma moeda não fraudável, ele representa um Renascimento moral, material e tecnológico sem precedentes para a humanidade, decretando o fim da grande Utopia dos Ratos, o fim da era do homem-massa.
A Rebelião das Massas:
https://ia801000.us.archive.org/16/items/LaRebelionDeLasMasas/La%20rebelion%20de%20las%20masas.pdf
O Antifrágil: As Coisas que se Beneficiam com o Caos:
https://livrogratuitosja.com/wp-content/uploads/2021/03/Antifragil-Coisas-que-se-beneficiam-com-o-caos-by-Nassim-Nicholas-Taleb-Taleb-Nassim-Nicholas-z-lib.org_.pdf
Bitcoin - A Moeda do Futuro:
https://www.youtube.com/watch?v=YqtgfA4Hg7U
Bitcoin Red Pill - O Renascimento Moral, Material e Tecnológico:
https://rothbardbrasil.com/wp-content/uploads/2022/06/Bitcoin-Red-Pill-_2a-Edicao_-O-Renascimento-Moral_-Material-e-Tecnologico-by-Renato-Amoedo-Nadier-Ro.pdf