Banco Central do Brasil não abaixa taxa de juros, e governo fica furioso!

O Banco Central do Brasil disse, categoricamente, que quem quiser corte, que compre a própria faca.

Acredito que todos já tenham perdido a conta de quantas vezes ouvimos, tanto do atual presidente quanto do ministro da Economia, que as taxas de juros no Brasil devem ser menores para fomentar a economia. Pois bem, a última ata do Banco Central do Brasil reforçou a credibilidade da entidade, mostrando que não ficará de joelhos para o atual governo.
Segundo o próprio Bacen, não há possibilidade de que as taxas de juros no Brasil sofram cortes nos próximos meses. E mais, disse que existe a possibilidade de elas aumentarem, em vez de cair. Isso foi um grande baque para o governo, já que ele esperava uma queda dos juros para fomentar a economia, que está em frangalhos devido ao aumento consistente dos impostos. O aumento das taxas de juros, nas atuais conjunturas, apenas colocaria uma pá de cal sobre a economia brasileira.
Para aqueles que não entendem muito sobre economia, afinal, ninguém é obrigado a compreender os meandros deste tema, vamos explicar de maneira simplificada o que isso quer dizer. A taxa de juros pode fomentar ou contrair a economia de um país, haja vista que ela é o preço utilizado, principalmente pelos bancos, mas não limitado a eles, como balizador para fornecer os juros de empréstimos e financiamentos. Quando a taxa de juros está baixa, significa que fica mais barato para as pessoas e empresas tomarem crédito. Isso estimula a sociedade a pegar empréstimos para melhorar seus empreendimentos ou para aumentar seu patrimônio, seja atualizando máquinas, seja criando novos postos de trabalho, seja comprando um imóvel.
Quando as taxas de juros estão altas, consequentemente, os empréstimos ficam mais caros, fazendo com que todo mundo pense duas vezes antes de pegar dinheiro emprestado, afinal, com as parcelas maiores devido aos juros também maiores, ficará mais difícil pagar. O atual governo está focando em aumentar os impostos, isso significa que sobra menos dinheiro na mão das empresas e pessoas. Taxa de juros mais alta apenas garante que as pessoas não irão se endividar, esfriando ainda mais a economia. Por isso que o atual governo quer que o Bacen corte os juros, pois assim todos podem tomar empréstimos mais facilmente, já que iriam conseguir pagar mesmo com menos dinheiro entrando devido ao aumento dos tributos.
Entretanto, o Banco Central não cedeu às vontades do governo gastador e irresponsável do larápio comunista. Isso porque a entidade disse estar focada em levar a inflação à meta estipulada, já que a queda no juros-base inunda automaticamente a economia com dinheiro novo, e eleva consequentemente a base monetária, que, por fim, aumentaria o preço de todos os produtos. A consequência disso é o que os leigos chamam de inflação. Portanto, as taxas, até o momento, ficarão iguais, em 10,5%. Contudo, se tudo continuar do mesmo jeito, é capaz dela aumentar na próxima reunião do COPOM. Isso pode ser lido na própria ata, que diz: “concluiu-se unanimemente pela necessidade de uma política monetária ainda mais cautelosa e de acompanhamento diligente do desenrolar do cenário”.
O recado deixou o governo receoso, já que, mesmo com a possibilidade de o novo presidente do Banco Central ser mais leniente no combate à inflação, leia-se deixar a inflação explodir, ele tem apenas um único voto dentre o total de nove. Ou seja, mesmo com a saída de Roberto Campos Neto da presidência do Bacen, o resultado provavelmente seria o mesmo, já que a ata mostrou uma entidade unida para manter a inflação no eixo, mesmo com todos os esforços da "mula de nove cascos" e do "Taxxad" para que ela caísse.
O fato que provavelmente pode ter corroborado essa união foi o pânico nos mercados neste início de agosto, provocado pela possibilidade de a economia dos Estados Unidos desacelerar e entrar em recessão, além do fato de o Japão começar a elevar suas taxas de juros. O FED, o Banco Central Americano, pouco antes do anúncio do COPOM, elevou em 0,25% a taxa de juros-base americana. Jerome Powell, presidente da instituição, tentou acalmar o mercado, dizendo que, na próxima reunião, é bem provável que as taxas voltem a cair. Entretanto, depois da divulgação da geração de empregos nas terras do Tio Sam, é bem provável que isso não aconteça.
Em concomitância a isso, o Japão, que durante muito tempo estava com as políticas de juros negativos, elevou a sua taxa de juros a 0,25%. Isso é o suficiente para que os investidores globais tirem o dinheiro do Brasil, que estava sendo beneficiado pelas diferenças entre os juros, e coloquem em algum lugar mais seguro. Essa corrida de capital para fora do Brasil pode ser sentida com o Dólar batendo os R$ 5,86 Reais, fechando um pouco abaixo deste valor, em R$ 5,73 Reais. Para a alegria do atual governo, o Dólar voltou a recuar nos dias posteriores, depois que o Banco Central brasileiro disse que vai manter as taxas no mesmo patamar para garantir que a inflação se mantenha controlada. Mas a alta do Dólar também não passou despercebida pelos membros do Bacen, já que disseram que se o preço continuar alto, terão que incorporá-lo nas pautas para tomarem a decisão sobre a taxa de juros brasileira. Em outras palavras, Dólar alto, pode significar aumento dos juros.
Por fim, pode ser lido na ata que a entidade está alerta sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço, pontuando que o país necessita de uma política fiscal crível, e comprometida com a sustentabilidade da dívida soberana. O Bacen está dando um puxão de orelha no atual governo para que mantenha o pé no chão e não aumente a dívida.
Mas qual seria a visão libertária sobre este caso?
Primeiro, precisamos reiterar de que o Banco Central de qualquer nação não deveria existir, e que as taxas de juros deveriam ser escolhidas por cada entidade, individualmente, e não pelo governo. Por ela ser uma autarquia, isto é, uma entidade de direito público, com autonomia econômica, técnica e administrativa, mas fiscalizada e tutelada pelo estado, não deveria existir.
Entretanto, se levássemos em conta que ainda não vivemos em um ancapistão, a decisão do Bacen de não cortar as taxas de juros é mais do que correta. Apesar de taxas de juros mais baixas serem melhores para aquecer a economia, pois fomentaria a geração de emprego e melhoria das empresas, numa visão mais ampla, isso seria uma catástrofe para todos os brasileiros, pois isso significaria uma inflação maior, e o dólar nas alturas. Além disso, os investidores institucionais, aqueles que compram bilhões em dívida soberana do Brasil, iriam vender seus títulos, pois o retorno não compensaria o risco. Isso diminuiria a confiança no país, que diminuiria os investimentos estrangeiros, e consequentemente, esfriaria a economia.
Enfim, o Banco Central do Brasil fez o certo ao não diminuir as taxas de juros. O Bacen mostrou que está focado em manter a economia, a inflação e o dólar nos trilhos, provando mais uma vez que a entidade é autônoma e não está recebendo ordens do cachaceiro e de sua trupe. Resta saber por quanto tempo a autarquia continuará peitando o governo, principalmente o Taxxad e sua ânsia em gastar e estourar a dívida brasileira. É provável que com a saída do Roberto Campos, o governo tenha mais força sobre a instituição. Até lá, o recado do Bacen foi categórico: quem quer corte rápido, que compre a própria faca da Tramontina.

Referências:

https://www.band.uol.com.br/bandnews-fm/noticias/juliana-rosa-apos-queda-de-12-bolsa-de-valores-do-japao-sobe-109-202408061256

https://g1.globo.com/economia/noticia/2023/07/26/fed-sobe-juros-dos-estados-unidos-em-025-ponto-percentual.ghtml

https://www.estadao.com.br/opiniao/um-recado-forte-e-unanime-do-bc/