Thomas Sowell: desmascarando falácias ideológicas

O que mantém o poder de muitos grupos políticos, sobretudo aqueles perigosos e com objetivos escusos, é o uso de narrativas e falácias ideológicas para enganar seus eleitores. Mas quem conhece Thomas Sowell está vacinado contra as falácias do socialismo.

Os leitores mais ávidos de Thomas Sowell o rotulam de “o intelectual mais completo de todos”, por ter escrito sobre vários campos das ciências sociais de forma tão profunda. O conjunto de sua vasta obra abrange assuntos de economia e história, até migração, desigualdade racial e cultura. Sowell teve uma origem muito humilde, sua família passou por enormes dificuldades mesmo nos Estados Unidos, conhecido como a terra das oportunidades. Antes de nascer seu pai já tinha falecido, e sua mãe teve que entregá-lo aos cuidados de uma parente com maior renda para lhe dar uma vida minimamente digna.

Mais tarde, já acadêmico, ele confessaria ter sido marxista na juventude. O que o fez mudar de opinião foi ter a oportunidade de trabalhar dentro do governo americano, fazendo estágio na área econômica. Mas foi buscando por soluções para perguntas que outras pessoas temiam fazer, e seguindo a pista dos fatos, que ele chegou a conclusões que são pouco divulgadas em departamentos acadêmicos e na mídia. O economista sempre se manteve fiel às suas bem fundamentadas opiniões e sempre esteve aberto ao debate, para demonstrar aos céticos que o que ele defende está enraizado na realidade. Assim, lutando contra as hipocrisias do politicamente correto e dos discursos demagógicos, ele nunca fez concessões pelo bem da polidez social.

Thomas iria passar por vários desafios e funções em sua vida chegando a atuar como fotógrafo militar na guerra da Coreia. E graças a lei GI Bill, que desde o final da Segunda Guerra Mundial garantia aos soldados retornados de conflitos bolsas de estudos; isso o permitiu frequentar universidades de prestígio, abrindo novas possibilidades na vida do jovem. Antes de chegar na Universidade de Chicago, o estudante Sowell chegou a ir para Harvard e depois para Columbia. Mas Sowell, felizmente, foi além do que muitos intelectuais defendiam, e se tornou um escritor prolífico e com visão crítica de várias ideias e dogmas aceitos pelo status quo acadêmico. A vasta obra do economista americano compõe quase cinco dezenas de obras, além de várias coletâneas de escritos, entre eles artigos em colunas e periódicos, monografias e resenhas que tornam sua obra uma grande biblioteca de economia e ciências sociais.

Entre suas as brilhantes obras, podemos citar uma famosa intitulada "Fatos e Falácias Econômicas", de 2008. Ele foi bastante bem-sucedido em nos fazer refletir sobre supostas verdades que são divulgadas a todos e em desmentir políticas distributivistas. Muitas falácias econômicas tem algum grau de aparente lógica e veracidade, mas que não passam de ilusão.
Sua aparente plausibilidade acaba rendendo muito apoio político para a causa, por isso, é preciso analisar de forma mais profunda essas políticas e deixar as paixões de lado. Entre elas está a famosa falácia de soma zero, que se trata da crença de que as transações no mercado são processos de soma zero, em que tudo que alguém ganha, outra pessoa precisa perder. As pessoas deixam de compreender que toda relação voluntária é benéfica aos envolvidos e que os participantes dessas trocas se veem em vantagem após a troca. Outra falácia que podemos citar aqui é a falácia da composição. Se trata da crença de que o que é verdade sobre uma parte, é verdade sobre o todo. Assim, muitas políticas econômicas que visam ajudar determinados grupos são apresentadas como grandes vantagens para toda a sociedade, como se todos os pagadores de impostos fossem beneficiados.

Sowell traz em sua obra a citação de John Adams, que revela os problemas de opiniões subjetivas ou de percepções de senso comum: “Fatos são coisas teimosas; e quaisquer que sejam nossos desejos, nossas preferências, ou os ditados de nossas paixões, eles não podem alterar o estado dos fatos e das evidências”.

O economista americano nunca hesitou em defender a verdade e de nadar contra a maré das ideologias e políticas raciais, que sempre foi um tema delicado nos Estados Unidos, país que teve um passado extremamente racista. Ele também se posiciona contrário às políticas afirmativas relacionadas a desigualdades de renda, entre elas a ideia de que grupos mais pobres devem receber cotas e vantagens específicas. Thomas Sowell expõe todas as falácias e erros dessas políticas que não passam de puro politicamente correto envelopado em frases bonitas e cheias de apelo à emoção dos eleitores.

Apesar de muitas ideias falaciosas serem defendidas por pessoas não instruídas no campo da teoria econômica, muitos economistas podem defender falácias por ignorarem alguns fatos econômicos. Além disso, estudos enviesados, que fazem um recorte seletivo na realidade, acabam sendo fundamento de estudos que reforçam visões distorcidas da realidade. É comum que acadêmicos franceses da área de economia recomendem a adoção de políticas protecionistas. Já nos Estados Unidos, podemos ver concepções da dinâmica comercial como um jogo de soma zero, ou os tão divulgados ideais de “comércio justo” ou “legal” que são defendidas em época eleitoral por candidatos populistas.

Entre outras falácias que Thomas Sowell combate estão as velhas e tão divulgadas mentiras de que os países avançados economicamente só chegaram a tal avanço devido a práticas de colonialismo e tráfico de escravos. Não podemos deixar de mencionar outra falácia aceita como verdade por muitos que é a de que os imigrantes estão roubando os empregos dos cidadãos de determinado país. E é exatamente através dessas falácias que muitos políticos oportunistas e populistas conseguem capturar um grupo de eleitores e os convencer das suas políticas. Podemos ver diariamente como políticos socialistas vivem usando termos como justiça social, reparação histórica e machismo estrutural para enganar seu fiel eleitorado que infelizmente não consegue se aprofundar em nada e sair do senso comum.

Sowell aponta para os problemas dos intelectuais desonestos, como uma classe contaminada por pessoas que só querem aumentar seu poder e impor sua visão de mundo ao resto da sociedade. Os "intelectuais ungidos", como ele chama, vivem se recusando a encarar os fatos e evidências que desmentem suas narrativas e opiniões. São pessoas que acham que podem opinar sobre todos os temas e, mesmo estando errados, nunca admitem suas falhas. Eles sempre acham que suas propostas de políticas públicas são as grandes soluções para os problemas sociais, e que, portanto, elas devem ser seguidas para o bem de todos. Essas pessoas se escondem por trás de seus diplomas, prêmios e titulações para justificar suas mais incoerentes ideias. Seus críticos, dessa forma, não passam de pessoas ignorantes e com más intenções. É importante lembrar aqui que durante as piores tiranias da história, seja na União Soviética sob Stalin, na China sob Mao Tse Tung ou mesmo na Alemanha de Hitler, os intelectuais eram extremamente úteis para justificar as políticas do regime.

Sowell nos avisa os perigos dos intelectuais: “O socialismo tem um histórico de falhas tão gritante que só mesmo um intelectual pode fugir delas ou ignorá-las”. É o tipo de gente que não sofre as consequências de suas ações.

Sowell foi muito participativo nos debates públicos nos Estados Unidos, como até em programas de TV e palestras, onde eram debatidas questões importantes das políticas públicas e das propostas defendidas por tantos intelectuais. Mas Sowell também foi um homem prudente, que evitou chavões e narrativas simplistas que clamam à emoção do ouvinte. Ele buscava se basear em abordagens dos problemas por um método analítico e enraizado nos clássicos da ciência econômica, ou seja, em conhecimentos sólidos construídos ao longo de séculos.

No livro “Ações Afirmativas ao Redor do Mundo”, Sowell analisa experiências de países como Índia, Paquistão e Nigéria que adotaram leis para promover a igualdade, mas tiveram o efeito oposto. Ele também argumenta que não adianta o governo reservar lugar para pessoas de determinado grupo, por exemplo, numa faculdade de medicina, se é improvável que os mais pobres conseguirão de fato entrar no curso. E se entrarem, é improvável que eles irão conseguir se manter com boas notas no curso, já que a grande maioria deles não tiveram o preparo adequado.

Na Índia, o grupo denominado Dalits, ou intocáveis, é uma comunidade historicamente discriminada e marginalizada no país. Cabe lembrar que impera por lá um sistema de castas complexo que dividiu a sociedade em vários grupos, sendo os Dalits o grupo mais baixo na hierarquia. Assim, eles eram relegados a empregos considerados impuros ou de baixo status, como trabalhos manuais e limpeza pública. Sowell revela que os Dalits nada ganharam com essas leis que visavam promover igualdade, e que apenas poucos deles, os mais afluentes, ganharam uma parte dos benefícios. Por outro lado, outros grupos mais afortunados tiveram muito mais prioridade que os Dalits, e a maioria dos lugares reservados aos Dalits sequer eram preenchidos. Além disso, uma das consequências foi o aumento da violência entre os diferentes grupos raciais. Muitos indianos, ao perceberem que os Dalits estavam com uma vantagem que consideravam injusta, passaram a hostilizar esse grupo. Um exemplo disso, foi quando mais de 40 pessoas foram mortas em uma faculdade de medicina em Gujarate.

Sowell aponta também para os problemas do antagonismo gerado por políticas afirmativas. Ele confessa que alguns membros do grupo beneficiado, com muito esforço, conseguem se elevar com base nas próprias competências. No entanto, essas pessoas permanecem numa espécie de “nuvem”, como ele chama, apesar de seus esforços. Por exemplo, se um aluno negro se forma como primeiro da turma em Harvard, ele continuará sendo visto como o estudante que conseguiu esse feito por ser negro. Nesses casos, o que persiste por parte da maioria é uma suposição de que aquele aluno tem competência inferior e foi beneficiado pela política do governo.

Para o economista, os demagogos gostam dessas políticas afirmativas por ser uma forma fácil de culpar os outros por problemas complexos, e aqueles que fazem parte do grupo considerado discriminado e marginalizado se sentem melhor ao identificarem bodes expiatórios. Como podemos perceber aqui, o cerne dessas ideologias marxistas e socialistas está em incutir pensamentos de ressentimento e injustiça nas pessoas, geralmente em jovens universitários, que logo se tornam a militância raivosa.

Entre as mentiras propagadas pelos defensores das políticas afirmativas está uma que diz que essas políticas foram responsáveis por permitir o surgimento de uma classe média negra americana, o que Sowell contesta. Segundo o economista, a classe média negra existiu bem antes das políticas afirmativas se tornarem comuns nos Estados Unidos, e essa classe só não cresceu mais rápido por causa dessas políticas. O exemplo que ele dá é sobre a aprovação da lei dos direitos civis de 1964. Nos 5 anos anteriores à lei, havia um número muito maior de negros que conseguiam se profissionalizar e chegar a altos cargos do que nos 5 anos após a promulgação da lei. E, nas universidades americanas, as políticas afirmativas apenas conseguiram aumentar o índice de reprovação entre os alunos contemplados com as cotas. Mesmo que muitos alunos negros tivessem notas mais altas que os outros alunos americanos em geral, eles fracassaram por estudarem nas melhores universidades do país, mas não por serem incapazes. Estavam competindo com alunos que foram educados a vida inteira nos melhores colégios americanos, e não estavam acostumados com um ritmo bastante acelerado de aprendizado. Por isso, Sowell alerta que não é possível compensar um estudante com poucos anos, aquilo que ele não teve antes.

Sobre a origem por trás das ações afirmativas é interessante trazer aqui uma constatação desse brilhante pensador: “Os intelectuais dão às pessoas que já têm a desvantagem da pobreza outra desvantagem adicional: a de que são vítimas”.

Sowell foi um homem muito humilde, e para quem escreveu tantos livros e foi dotado de uma mente brilhante, ele nunca quis a fama, glamour ou até o poder que alguns pseudointelectuais hoje desejam. O que ele queria é que suas ideias fossem divulgadas e lembradas, pois a verdade e as teorias corretas podem sim melhorar nossa sociedade.
Enfim, é interessante notar como um garoto que enfrentou a pobreza e não conseguiu terminar o ensino médio, acabou se tornando uma das principais referências intelectuais no campo das ciências humanas. Incrível pensar que, anos depois, esse mesmo garoto humilde que não teve acesso às melhores escolas, iria entrar em Harvard e se tornar um dos melhores alunos de sua turma. De fato, Sowell provou que não só temos escolha, como podemos transcender algumas dificuldades e barreiras naturais para alcançar sucesso.
Mas o que importa aqui, é o grande legado deixado por ele e, principalmente, seu amor à verdade e a coragem de não se dobrar ao sistema perverso do politicamente correto, nem à uma vida de mentiras confortáveis.

Referências:

Fatos Falácias da Economia | Thomas Sowell
https://www.youtube.com/watch?v=76qhDvk_Vpc

Thomas Sowell: Bom senso em um mundo sem sentido
https://youtu.be/NG0wiyVWEws

Thomas Sowell analisa as políticas de ação afirmativa ao redor do mundo
https://www.youtube.com/watch?v=r2sn0pIygEI

https://www.42frases.com.br/frases-de-thomas-sowell/
https://www.pensador.com/autor/thomas_sowell/3/