REVOLUÇÃO da GEN Z no NEPAL mostra que JOVENS dizem NÃO ao TOTALITARISMO

Todo mundo diz que a Geração Z é fraca, apática e viciada em redes sociais. No Nepal, esses mesmos jovens derrubaram um governo e provaram que a sede de liberdade não tem idade.

Entre os dias 8 e 9 de setembro de 2025, o mundo viu algo inédito na história, pois uma revolução política liderada inteiramente pela Geração Z ocorreu no Nepal, onde milhares de jovens nascidos entre 1995 e 2010 tomaram as ruas com uma força que ninguém esperava. O gatilho foi o bloqueio de 26 plataformas digitais pelo governo comunista, sendo elas o WhatsApp, Instagram, Facebook, YouTube, X, LinkedIn, Snapchat, Reddit, Discord, Pinterest, Signal, Threads e outras. A justificativa oficial era combater “notícias falsas, discurso de ódio e fraudes online”. A verdade, porém, era que o governo queria silenciar uma campanha anticorrupção que explodia nas redes sociais, especialmente com vídeos mostrando filhos de políticos vivendo em iates enquanto milhões passavam fome. Para uma geração que nunca conheceu um mundo sem internet, esse corte não foi somente tecnológico, mas existencial, algo como arrancar o oxigênio do ar. O Nepal tem uma das maiores taxas de uso de redes sociais per capita no sul da Ásia. Para os jovens, as redes são escola, trabalho, voz, e principalmente, sua identidade. Cortá-las foi o equivalente a fechar todos os jornais, rádios e livros de uma vez, e, pior, foi retirar uma parte da vida dessa geração.

Os jovens viram logo de cara que isso não era segurança, mas medo do governo em ser exposto e perdere o poder. Eles já sabiam quem eram seus inimigos: os nepo babies, como começaram a chamar. Filhos de políticos que ostentavam automóveis de luxo, festas privadas e contas bancárias milionárias, enquanto um em cada cinco nepaleses vive na pobreza e quase um quarto dos jovens entre 15 e 24 anos estão desempregados. A resposta ao ato estatal veio rápido. Antes do bloqueio, eles se organizaram pelas próprias redes, migraram para aplicativos criptografados convocando protestos. Coordenaram suas ações e em poucas horas, manifestações surgiram em Katmandu, Pokhara, Biratnagar. Em dois dias, o país parou. Prédios governamentais foram incendiados como a sede do governo, o Parlamento, e a Suprema Corte. Casas de políticos foram destruídas e alguns foram agredidos. As forças de segurança atiraram contra manifestantes, e até o momento pelo menos 30 foram mortos e mais de mil estão feridos. Entre as vítimas, a esposa do ex-primeiro-ministro Jhalanath Khanal, gravemente queimada quando sua casa foi incendiada. Cinco menores de idade foram mortos a tiros e milhares escaparam de prisões.

O primeiro-ministro Khadga Prasad Oli, do Partido Comunista, viu sua própria residência invadida, vandalizada e saqueada. Dias depois, renunciou. O governo, em pânico, revogou o bloqueio das redes sociais, mas já era tarde. Os jovens não queriam só internet de volta. Queriam o sistema inteiro fora. O que torna essa revolução tão extraordinária não é só o resultado, mas como foi conduzida. Não houve líderes hierárquicos, nenhum partido político e nenhuma estrutura central. Tudo surgiu de coletivos informais, grupos autônomos em decisões horizontais. Uma rede viva, descentralizada, distribuída e orgânica, assim como a própria internet. Além disso, a revolta calou a boca daqueles que dizem que a Geração Z é apática. Ela é diferente, realmente. Seus valores não são os de 1968, mas os de 2025, focados na colaboração, transparência, autonomia e resistência à autoridade imposta. Eles não estavam somente contra a censura, mas contra o estado, contra a corrupção sistêmica, contra a falência da democracia de fachada. Eles entenderam que o bloqueio era só a ponta do iceberg, e que o verdadeiro crime era um sistema no qual políticos roubam, mentem, protegem seus filhos, e ainda assim permanecem no poder, assim como em qualquer outra democracia mundo afora. Eles entenderam algo que muitos adultos ainda negam: que informação é poder. E quem controla a informação, controla tudo.

O fracasso do governo nepalês foi total. Ele achou que podia controlar a narrativa, e que cortando o acesso a internet mataria a revolta. Só esqueceu de uma coisa. A tecnologia descentralizada sempre vence o controle centralizado. Enquanto o estado bloqueava, os jovens usavam VPNs, mensagens criptografadas e redes alternativas. A inovação privada, aquela que ninguém manda, que ninguém planeja, simplesmente aparece quando é necessária. E ela salvou a revolução, assim como aconteceu na Tunísia, em 2010, quando um jovem chamado Mohamed Bouazizi, vendedor ambulante humilhado por policiais corruptos, ateou fogo a si. O ato, transmitido pelas redes sociais, acendeu uma faísca. Em semanas, o ditador Zine El Abidine Ben Ali caiu. O movimento, conhecido como Primavera Árabe, espalhou-se por todo o Norte da África e Oriente Médio. E, em cada país, um elemento foi crucial: a internet. Sem ela, o mundo não teria visto as imagens, os protestos não teriam sido coordenados e os regimes inteiros não teriam caído. Mas, ironicamente, após essas revoltas, muitos países voltaram ao autoritarismo, às vezes com apoio ocidental. Por quê? Porque derrubar um ditador não é o suficiente. É preciso mudar o sistema. E, geralmente, o sistema continua. Monopólio estatal, controle da economia, vigilância e burocracia mantém-se vivas mesmo com a queda dos ditadores. A liberdade digital foi substituída por novas formas de opressão. Sem liberdade econômica e individual, a liberdade política é frágil.

No Nepal, os jovens estão aprendendo isso na marra. Eles derrubaram um governo, e, agora, outra pergunta é levantada: o que vem depois? Um novo partido? Outro ditador com discurso moderno? Ou algo realmente novo? No mundo em que nós libertários acreditamos, esse dilema nem existiria. Lá, não haveria governo para bloquear redes sociais, classe política privilegiada, nem impostos compulsórios alimentando corrupção. As plataformas digitais iriam competir por usuários. Se uma tentasse censurar, perderia força para outra em que não houvesse censura. Quem quisesse silenciar vozes contrárias seria expurgado do mercado. Além disso, não haveria “filhos de políticos” vivendo no luxo enquanto o povo sofre, pois não haveriam políticos com poder para enriquecer às custas do povo. Sem monopólio da força, sem controle sobre leis e recursos, o cargo público deixaria de ser um prêmio. Não seria nem irrelevante, pois nem existiria.

A corrupção, tão presente no Nepal, seria praticamente impossível em uma sociedade libertária. Sem contratos públicos para desviar, sem subsídios para roubar, sem licenças para vender, o incentivo para corromper desapareceria. A violência que eclodiu nos protestos, embora trágica, não começou com os manifestantes, mas com o estado. Quando o governo bloqueia a comunicação, prende dissidentes e mata manifestantes desarmados, ele abandona qualquer pretensão de legitimidade. A agressão inicial é dele. A resposta violenta é previsível. A responsabilidade moral não está com quem resiste, mas com quem oprime, como já determina o PNA.

Os jovens nepaleses não inventaram nada novo, apenas mostraram, de forma brutal, que o modelo estatal está falido, que o controle não funciona, que a coerção gera rebeldia e que a liberdade é insubornável. Eles provaram que não precisam de partidos, de líderes messiânicos, de revoluções armadas tradicionais. Basta um smartphone, uma ideia e coragem. A tecnologia descentralizada e distribuída é a arma mais poderosa contra o autoritarismo. E ela está nas mãos de todos.

O único grande erro do Nepal, e de tantos outros países, é acreditar que basta trocar o governo. O problema não é Oli, mas o sistema que permitiu Oli chegar ao poder. É o monopólio do estado sobre força, dinheiro, informação e educação. É a ideia de que alguém pode decidir por você. Quando o poder é descentralizado, a tirania vira obsoleta. Quando o mercado decide, a corrupção some. Quando a liberdade prevalece, revoluções não são necessárias. A Geração Z do Nepal mostrou ao mundo que a liberdade não morreu, apenas estava esperando o momento certo, e, quando chegou, explodiu com uma força que o estado não soube conter. Agora, cabe a nós decidirmos: vamos continuar repetindo os mesmos erros? Ou vamos construir um mundo onde a liberdade seja a regra, não a exceção? Porque a próxima revolução já está sendo planejada. Só depende de onde ela acontecerá: nas ruas, ou na internet. Ou, melhor ainda, nem precisará acontecer, se aprendermos a tempo.

Referências:

https://www.nsctotal.com.br/noticias/a-primeira-revolta-da-geracao-z-como-o-bloqueio-de-redes-sociais-levou-o-nepal-ao-caos
https://www.bbc.com/portuguese/articles/crme73m7ypxo
https://valor.globo.com/mundo/noticia/2025/09/11/manifestantes-do-nepal-apoiam-ex-presidente-da-suprema-corte-como-lder-interina.ghtml
https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2025/09/11/nepal-protestos-movimentacao-saida-pessoas.htm