Como tirar NOTA MIL na redação do ENEM 2023

Como utilizar repertórios excelentes e deixar a banca avaliadora orgulhosa de seus argumentos na redação?

Mais uma vez, milhões de brasileiros fizeram a famosa prova do ENEM - o Exame Nacional do Ensino Marxista, ops, do ensino médio. Como tem acontecido nos últimos anos, a avaliação foi dividida em dois dias. Também foi nesse primeiro dia que a tão temida redação foi aplicada. E sim, a redação do ENEM tem um peso tão grande no resultado final, que muita gente faz até cursinho preparatório, como foco na construção de textos, nos meses que antecedem a avaliação. Em resumo, a correção das redações do ENEM leva em conta 5 critérios: bom uso do português formal, interpretação do que foi pedido no enunciado, organização das ideias, coesão e coerência e, ainda, uma proposta de intervenção. Cada um dos critérios, supostamente, vale 200 pontos - ou seja, a redação pode receber uma pontuação variada, que chega até 1000 pontos. Em 2022, apenas 32 pessoas atingiram essa nota.

Como você certamente já percebeu, o 5º critério de avaliação é bastante problemático, porque ele, basicamente, normaliza a intervenção estatal. Sim, a tal “intervenção” se refere à ação do estado na sociedade. Aliás, a redação do ENEM não apenas pressupõe a intervenção do estado: ela a exige. A proposta de intervenção pode também envolver outros setores da sociedade como a mídia, o indivíduo e a escola, mas sabemos que as propostas mais completas e bem vistas pela banca de correção são as que envolvem o poder do estado. O argumento proposto é tratado como um problema real e que precisa de uma solução - e nós ainda vamos chegar nesse ponto. Por outro lado, a melhor solução aceita é a intervenção do estado. Quem não responder dessa forma, vai perder até 200 pontos - isso se não for mais!

Agora, falando da redação deste primeiro dia de provas do ENEM: o tema proposto é, em primeiro lugar, mal escrito e confuso - se de propósito ou não, fica a cargo de cada um avaliar. Segue o tema: “Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil”. Pois é, o enunciado se parece muito com a típica escrita paulofreiriana, que está por toda parte nas escolas do Brasil. Aliás, o próprio patrono da educação brasileira seria capaz de escrever algo do tipo. Duvida? Então veja um exemplo de uma de suas brilhantes e nada confusas frases: “A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele”. Genial!

Porém, para facilitar a compreensão, vamos explicar do que realmente se trata a redação do ENEM deste ano. A questão se refere a como o trabalho desempenhado por mulheres, geralmente realizado em sua própria casa, no cuidado de crianças e também de idosos, não recebe a atenção necessária por parte da sociedade. Ou seja, esse trabalho não é valorizado - inclusive do ponto de vista da remuneração e da previdência social.

Para quem fez a prova e quisesse ter um texto bem avaliado pela banca, poderiam ser citadas obras como "Diário de Bitita" e "Quarto de Despejo" da autora Carolina Maria de Jesus, na qual retrata experiências pessoais de uma mulher pobre e negra em que o trabalho do cuidado sempre esteve presente até o fim de sua vida. Mas há ainda obras mais contemporâneas como é o caso de "Dois irmãos" do autor Milton Hatoum que retrata em segundo plano a história de Domingas, uma empregada doméstica que passou a vida cuidando do próprio filho e dos filhos da patroa. Um filme de 2015 intitulado "Que horas ela volta?" também trata da jornada dupla de mulheres, nesse caso, a personagem principal é uma empregada doméstica que passa a vida a cuidar dos filhos dos patrões enquanto vive longe dos próprios filhos.

Entretanto, todas essas citações seriam apenas deturpações interpretativas dessas obras para agradar o viés da banca avaliadora. Afinal de contas, o ponto central dessas obras é outro e o problema desses personagens não é a "invisibilidade do trabalho de cuidado feminino" mas sim a pobreza! É isso o que os personagens de todos essas obras tem em comum: todos são pobres e vivem em um mundo de opressão no qual as alternativas para sair da pobreza são quase inalcançáveis. O contexto histórico de cada obra é relevante e todos eles tem um ponto em comum: é o estado que dificulta o acesso dessas pessoas a empregos e modos de vida mais dignos com a imposição de barreiras de entrada e burocracias. Isso fica bem evidente nas obras de tão amada pelos esquerdistas como a de Carolina Maria de Jesus. Em "Diário de Bitita", por exemplo, existem críticas explícitas à corrupção do estado e suas burocracias. O mesmo ocorre em "Quarto de Despejo". Mas, vocês sabem, se esquerdistas são capazes de "discordar totalmente dos fatos" como vimos em um debate do Spotniks há uns tempos atrás, o que seria ignorar partes de um livro não é mesmo? Nada demais, nesse ponto de vista o que vale é lacrar com o sofrimento alheio e defender sua ideologia sanguinária. Recomendo a leitura das obras citadas, os nomes está aqui na descrição. Há também quem amou o tema da redação parar citar Simone de Beauvoir com suas lacrações feministas, a qual afirma que a mulher foi "criada pela sociedade" para ser oprimida. O ponto central da narrativa que o Enem quis criar é que esse é um problema causado pela sociedade patriarcal opressora e que o estado irá resolvê-lo com a sua caneta mágica! Nada mais errado. Vamos explicar o porquê.

É fato que existe, há muito tempo, uma discussão sobre a tal da “dupla jornada das mulheres” - ou seja, elas trabalham fora de casa para, em seguida, trabalhar novamente, dentro de casa. E é sim verdade que as mulheres tipicamente gastam mais tempo em casa, cuidando dos filhos e dos afazeres domésticos, que os homens - o dobro do tempo, para ser mais preciso.

Este caso não é exclusivo do Brasil. O debate a respeito do trabalho doméstico da mulher também ganha espaço em outros países. A Argentina aprovou, poucos anos atrás, a aposentadoria feminina por maternidade. Ou seja, as mulheres argentinas podem contar como tempo de contribuição os anos gastos na educação de seus filhos. Por lá, houve todo um rebuliço quando da publicação deste decreto. Do ponto de vista econômico, nem precisamos argumentar: é por essas e outras que a Argentina hoje está completamente quebrada.

Dito isso, podemos voltar à famigerada prova do ENEM. A questão proposta pelos avaliadores parte de um erro fundamental. Ao contrário do que eles fazem crer, o cuidado citado pela prova é essencialmente voluntário! É algo feito de forma livre, uma escolha pessoal. Isso se aplica tanto para os filhos, como para outros parentes mais velhos, que eventualmente precisem de algum cuidado.

Esse tipo de cuidado é próprio da natureza humana. Afinal de contas, se hoje nós cuidamos de nossos filhos, existe a expectativa de que, no futuro, quando formos velhos, a coisa se inverta, e nós passemos a exigir seus cuidados. Essa característica do cuidado humano é mais destacada nas mulheres, por conta de questões do próprio instinto natural humano. Eu sei, os progressistas vão pirar por conta dessa afirmação!

Por consequência, esse é um trabalho que, naturalmente, não é remunerado. Entende-se o cuidado com os filhos e com outros familiares próximos como algo que faz parte da nossa vida em sociedade. A remuneração, nesse caso, não é monetária: existe a satisfação pessoal de se criar os filhos, o bem-estar interno por fazer algo reconhecidamente bom, a aprovação do seu círculo social, etc. Classificar isso como exploração do trabalho humano ou como um direito não reivindicado, é desconsiderar a própria característica do ser humano no cuidado com os seus semelhantes, principalmente aqueles que pertencem ao seu núcleo familiar mais próximo. No caso em que o cuidado é feito para pessoas de fora da família, configura-se um trabalho remunerado e as suas regras devem ser feitas com um acordo voluntário entre as parte, como qualquer outro serviço. Ninguém é obrigado a trabalhar para ninguém, assim como ninguém é obrigado a contratar um funcionário.

Porém, o grande erro presente na prova do Enem não é tanto a questão de se avaliar como um problema algo que é basicamente um reflexo da natureza humana. O grande erro mesmo é considerar o estado como agente capaz de resolver esse suposto problema. E a partir daí, você sabe bem qual é o tipo de solução esperada pelos avaliadores da prova do Enem. Mais intervenção do estado com mais políticas públicas, criação de ministérios, secretarias e coisas do tipo.

E aí vem a pergunta nota mil na redação: quem é que vai pagar essa conta toda? Afinal de contas, medidas estatais custam dinheiro. É certo que, dentre os critérios avaliados na redação do ENEM, não está a viabilidade econômica das propostas apresentadas nos textos. Você sabe bem como a coisa funciona: no Brasil, a disciplina de educação financeira não é levada a sério.

Na prática, a solução a ser proposta e esperada pelos avaliadores do Enem é um pedido por mais intervenção estatal, que certamente custará muito caro para os cofres públicos. Como o estado pode viabilizar esse tipo de coisa? Simples: roubando ainda mais dinheiro da população. Para sanar um suposto problema, os avaliadores do ENEM pressupõem uma pesada intervenção estatal, que precisará encaixar no orçamento de alguma forma. Mas fique tranquilo: isso é para o bem das mulheres que cuidam de seus filhos e que são tratadas como invisíveis na sociedade! Vamos todos pagar por isso!

De forma geral, porém, a prova do ENEM é, por inteiro, um grande pedido de intervenção estatal. Em praticamente cada questão, lá está a ideia errada de que o estado precisa intervir na sociedade e na economia para que o progresso e o desenvolvimento possam acontecer. Se você estiver em dúvida a respeito de qual alternativa é a correta, em alguma questão do ENEM, considere responder aquela que pressuponha uma intervenção estatal mais forte. Para os avaliadores dessa prova, o estado é o grande deus e tudo gira ao seu redor.

Por isso, ao contrário do que o debate de direita costuma abordar em relação a essa avaliação, nós não acreditamos que o Enem tenha questões erradas. O Enem é, em sua própria concepção, completamente errado. Essa avaliação funciona como uma medida da doutrinação imposta aos alunos em seus incontáveis anos escolares. Só é aprovado, só recebe uma boa nota aquele que de fato aceitou o cabresto estatal sem reclamar. Dada a capacidade do brasileiro de se adaptar às situações mais inóspitas, já se tornou praticamente uma tradição daquele aluno que não pensa dentro da caixinha estatal vestir a camisa do Che Guevara e colocar um boné do MST para fazer a avaliação. Afinal de contas, enganar a máquina estatal não pode ser pecado, não é mesmo? No Enem a sua opinião não importa, você deve escrever aquilo que a banca avaliadora quer ler.

Este ano de 2023 encara um dos temas mais esquerdistas já propostos para a redação do Enem. Num enunciado praticamente ininteligível, encontramos de tudo: desconsideração das relações familiares como algo natural na sociedade humana; criação artificial de algo que, na prática, não é encarado como problema por ninguém; e, principalmente, a necessidade de se considerar o estado como o agente solucionador desse problema. Infelizmente, só quem pensar dessa forma, só quem aceitar que o estado é a solução de problemas que sequer existem é que, de fato, poderá receber uma boa avaliação quando da correção de sua prova. O tema da redação do ENEM 2023 conseguiu reunir tudo o que há de pior na educação brasileira: doutrinação esquerdista, um enunciado quase incompreensível e a ideia formada de que o estado é a solução de todos os problemas.

Referências:

https://oglobo.globo.com/brasil/educacao/enem-e-vestibular/noticia/2023/11/05/enem-2023-tema-da-redacao-e-desafios-para-o-enfrentamento-da-invisibilidade-do-trabalho-de-cuidado-realizado-pela-mulher-no-brasil.ghtml?utm_source=Twitter&utm_medium=Social&utm_campaign=OGlobo
Obras citadas:
"Diário de Bitita" e "Quarto de Despejo" de Carolina Maria de Jesus
"Dois Irmãos" de Milton Hatoum
"Que horas ela volta?" - filme de 2015