14 Fev. 2024
Escritor: TomFelix
Revisor: Paulo Wesley
Narrador: Paulo Wesley
Produtor: Paulo Wesley

O Plano Utópico para unir a EUROPA em 1920 !

No início do Século 20 e após a Primeira Guerra Mundial, um aristocrata austríaco com descendência japonesa conhecido como Conde Richard Von Coudenhove Kalergi trabalhou bastante durante sua vida em sua ideia de federalismo para unificar a Europa sob uma única bandeira, décadas antes da União Europeia existir.

Ele mesmo foi quem propôs a música “Ode à Alegria”, de Beethoven, como hino da Europa e também foi a inspiração para o personagem Victor Laszlo, um herói da resistência no clássico filme "Casablanca".

Seu pai, Richard, era descendente de uma família nobre austríaca com origens em Flandres e na Grécia, enquanto que sua mãe, Mitsuko Aoyama, era de uma família rica de comerciantes e proprietários de terras japonesas.

Ele vivia na Áustria e vivenciou a Primeira Guerra Mundial junto com a quebra do Império Austro-húngaro em diversas republiquetas. E em 1922, o Conde Richard fundou a "União Pan-Europeia", juntamente com o Arquiduque Otto Von Habsburg, famoso herdeiro do trono austríaco no pós guerra e bastante ativo politicamente.

Um ano depois, publicou o Manifesto Pan-europeu e, um ano após isso, fundou um jornal que funcionou até 1938. Mas anteriormente, em 1926, o primeiro Congresso da União Pan Europeia elegeu ele como seu presidente, o qual permaneceu com esse cargo até sua morte em 1972.

Ele fundou essa ideia de uma nação Pan Europeia temendo uma ameaça futura por parte da Rússia que, naquele momento, tinha recém se tornado a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Sendo ele um anti-comunista ferrenho (mas ainda estatista), o Conde acreditava que a única maneira de deter uma invasão da Rússia seria com a Europa cooperando entre si e unindo forças, tendo em vista que Hitler não havia chegado ao poder ainda e a Alemanha estava na República de Weimar.

Até aí, sua visão não estava errada, pois ele queria uma grande cooperação mútua da Europa para evitar cair nas mãos de um estado comunista muito pior do que as monarquias e democracias daquele tempo.

Se, ao invés de Estados, o projeto fosse uma parceria entre empresas privadas ou até grupos políticos, poderíamos considerar quase algo libertário, uma grande aliança para impedir os indivíduos de cair nas garras do estado. Uma pena que eram somente estados querendo combater outros estados.

O próprio Trotsky em 1923, enquanto era comissário soviético, conheceu os planos de Richard e ficou insultado, apelando para a criação imaginária dos "Estados Unidos da Europa Soviética". Um extremo idealista só que, dessa vez, no lado comunista.

Richard dizia em seus textos sobre o perigo da “hegemonia mundial por parte da Rússia” e projetou de diversas maneiras como seria essa Europa unificada. O mais maluco desses planos, foi sua tentativa de impor uma versão mundial de sua ideia, unificando a maioria dos países do mundo em 5 grandes super-estados com pequenas fronteiras entre países não definidos.

O Primeiro obviamente seria a Pan-Europa, unindo toda a Europa Continental e excluindo a Rússia e o Reino Unido com territórios nas colônias africanas, francesas, italianas, portuguesas, belgas e holandesas, com uma base nas Américas e em partes importantes do Sudeste Asiático.

O Segundo seria a Pan-América, um grande estado incluindo todas as américas sob a bandeira dos Estados Unidos (com exceção do território do Canadá), tendo também as Filipinas, que na época estavam sob controle americano.

O Terceiro seria a Comunidade Britânica, basicamente o plano britânico de Federação Imperial posto na prática, com as colônias britânicas fazendo parte do Reino Unido.

O Quarto e Quinto seriam respectivamente, o Império Russo e o Leste Asiático, não fica implícito sobre se ele se referia à União Soviética ou imaginava que o Império Russo seria restaurado após uma inevitável guerra contra os comunistas. Mas o Leste Asiático seria o menor de todos, porém o mais populoso, com a China, Coreia e Japão, incluindo também o pequeno Nepal.

Alguns países como Turquia, Irã, Afeganistão e Etiópia são colocados com um ponto de interrogação, não sendo definidos a quem seus territórios pertenceriam.

Mas, ainda assim, a ideia por trás dessa visão global é clara, querendo um mundo voltado para zonas de cooperação e que eram viáveis na cabeça de Richard, acreditando que os nacionalismos anteriores e regionais seriam abandonados após a criação deles.

O mapa parece e de fato é uma distopia, um mundo dominado por 5 grandes oligopólios globais. Se já temos problemas em países grandes onde os burocratas de Brasília não atendem as necessidades de São Paulo, do Sul ou do Nordeste, imagine pessoas de Washington passando uma lei para o cidadão na Patagônia. Ou, ainda pior, o parlamento britânico votando uma lei em Londres válida para o cidadão da Malásia no outro lado do mundo.

Talvez até esse seja o mapa que inspirou George Orwell a definir o mundo do clássico ‘1984’, onde três super-estados globais dominando o mundo de maneira semelhante, porém extremamente totalitária. Com a Oceania, a Eurásia e a Lestásia sendo as principais e três únicas divisões no globo.

Mais tarde, o próprio Conde desistiu dessa ideia em escala global e focou somente na versão Europeia. Sua visão para a Pan Europa incluía um grande parlamento e uma mistura ideológica de social-democracia com conservadorismo cristão, provavelmente almejando liberdades sociais com o estado de auxílio para os mais pobres, mas com a religião ainda como um pilar da cultura.

Os seus planos chegaram até mesmo aos olhos de Hitler, e mesmo tendo uma retórica anti comunista, não agradou o ditador alemão, que denunciou o conde como um "mestiço sem raízes, cosmopolita e elitista" com ideais maçônicos. Vale lembrar que os próprios nazistas queriam controlar a Europa, mas não queriam anexar, só queriam utilizar esses territórios conquistados como colônias na própria Europa para sustentar o mercado Alemão.

Tendo posteriormente fugido para o exílio nos Estados Unidos, após o Anschluss em 1938, ele continuou defendendo uma unidade europeia e tendo proposto formar um governo austríaco em exílio, mas sua sugestão foi ignorada por Churchill e Roosevelt por acreditarem que ele não seria relevante o suficiente.

E depois da Segunda Guerra, o Coudenhove-Kalergi apoiou a fundação da própria União Europeia em 1947, tendo sido elogiado pelo seu trabalho por Winston Churchill, por seu discurso em 1946 em Zurique. Tendo recebido em 1950 o primeiro Prêmio anual Carlos Magno.

Em seu túmulo foi gravado uma frase em francês que significa "Pioneiro dos Estados Unidos da Europa", em português. Um título muito grandioso tendo em vista que ele não fundou efetivamente a União Europeia e foi muito mais um militante da causa durante todas essas décadas.

Nem sequer a própria União Europeia, hoje, é a mega federação que ele imaginava, estando mais dividida do que nunca. Seus "Estados Unidos da Europa" nunca viram a luz do dia, somente ficaram na mente de alguns políticos europeus com ideais globalistas e que veem o homem como um grande símbolo.

Muitas ruas e lugares pequenos na Europa ainda tem seu nome como uma homenagem, com os grupos ultra nacionalistas acusando sua figura de querer destruir a cultura europeia com uma imigração em massa, como a que acontece hoje, com a enorme quantidade de africanos e muçulmanos na Europa.

Richard teve apoio até mesmo de um famoso Habsburgo mas ainda não foi capaz de botar seu plano em prática pela simples tendência natural. O mundo cada vez se vê mais dividido e com necessidades regionais que não são supridas por um estado de tamanho continental.

A única vantagem desses é a maior integração econômica no território, podendo uma pessoa facilmente trabalhar em outro lugar do país ou transportar mercadorias sem ser considerado importação, mas esse problema facilmente seria corrigido sem existir fronteiras ou através de acordos econômicos.

Não viveremos mais para ver a criação de outro super-estado, viveremos apenas, talvez, para ver a divisão do mundo em pequenas cidades privadas e no modelo de Ancapistão que tanto conhecemos.

O futuro é libertário e ao estado só resta sua queda.

Referências:

https://pt.wikipedia.org/wiki/União_Pan-Europeia

Visão Libertária

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