O Carnaval brasileiro foi ROUBADO pelo ESTADO, mas o livre mercado o resgatou

Saiba como os desfiles de escolas de samba foram cooptados pelo governo de Getúlio Vargas para se transformar em máquina de propaganda fascista.

Ah, o Carnaval: a mais brasileira de todas as festas! Amado por muitos, odiado até a tampa por outros tantos. Muitos afirmam que o ano, no Brasil, só começa depois do carnaval; outros, contudo, celebram o fato de que, no Brasil, é carnaval o ano todo. Seja como for – e independentemente de sua opinião –, a verdade é que o carnaval está aí, com todas as suas possibilidades. No geral, trata-se de uma ótima oportunidade de superar padrões sociais bem estabelecidos – como a vergonha de mijar em público –, além de ser também uma chance única de contrair um grande rol de DSTs.

Cada parte do Brasil tem o seu próprio carnaval. Existem os famosos bloquinhos, que compõem o carnaval de rua; enquanto isso, na Bahia proliferam os famosos trios elétricos. Existe o carnaval da praia e o carnaval do interior. Por aí, encontramos até mesmo carnaval fora de época! Contudo, a verdade é que a grande imagem que representa o carnaval brasileiro é mesmo o desfile das escolas de samba, com especial destaque para aquele que acontece na Sapucaí. De fato, se existe uma imagem consolidada, fora do Brasil, a respeito dos costumes carnavalescos dos brasileiros, é a imagem da avenida repleta de passistas muito bem fantasiados - ou quase pelados, no caso de algumas beldades.

Olhando por esse lado, e levando em conta os desfiles organizados pelas escolas de samba, quase podemos acreditar que o carnaval brasileiro é uma coisa centralizada, quase que institucionalizada. Por óbvio, isso não chega nem perto da realidade de 99% do carnaval aqui do Brasil - descentralizado, espontâneo, irreverente e, em muitos casos, um exercício de violação de leis estatais inúteis. Mas, se a coisa é realmente assim, porque os desfiles da Sapucaí continuam sendo a cara do carnaval brasileiro?

Bem acredite ou não, o Brasil deve esse fenômeno ao fascismo - pelo menos, ao fascismo à la brasileira, da década de 1930. E isso está ligado, é claro, ao ditador Getúlio Vargas - que sim, era um fascista; ou você não sabia disso? A esquerda brasileira, que ama de paixão o gordinho, gosta de varrer, para debaixo do tapete, essa parte da nossa história. A verdade, porém, é que Getúlio Vargas era um grande admirador do fascista italiano Benito Mussolini, chegando ao cúmulo de usar uniformes militares, emulando os ditadores europeus da época.

Ao gordinho fascista, devemos várias bombas que atormentam nossa vida, até hoje - por exemplo, a famigerada CLT, e também a lei de desapropriação de imóveis. Contudo, o atual modelo de desfiles de escolas de samba, tão celebrado na atualidade, no Brasil e fora dele, também foi concebido durante a ditadura varguista - e, o pior de tudo, por desejo do próprio Getúlio Vargas.

Grupos populares já se fantasiavam pelas ruas do Rio de Janeiro nos anos 1920, mas foi apenas no fim dessa década que as primeiras escolas de samba surgiram na Cidade Maravilhosa. Em 1932, Mário Filho idealizou a primeira competição entre escolas de samba, que viria a ser organizada, em 1935, pelo governo municipal. Até aí, contudo, os desfiles eram espontâneos, sem as características formais que hoje representam as tradicionais escolas de samba do Rio e de São Paulo.

Porém, as décadas de 1920 e 1930 não representaram, apenas, o nascimento das escolas de samba no Brasil: esse também foi o período de florescimento do fascismo na Europa, e em outras partes do mundo. Essa nefasta ideologia ainda não havia sido derrotada na Segunda Guerra Mundial; portanto, muita gente - incluindo aí, o próprio Getúlio Vargas - achava que essa forma de totalitarismo era plenamente viável. Foi por isso que, até mesmo no que se refere ao carnaval, Getúlio quis copiar os exemplos europeus.

Nesse período, tanto a Itália de Mussolini, quanto a Alemanha de Hitler, tentavam criar uma nacionalidade que, para todos os efeitos, não existia. Ambos os países tinham sido unificados há meros 60 anos - enquanto que o Brasil já tinha um século de independência, nessa época. Por isso, os governos fascistas buscavam, a todo custo, criar uma identidade nacional, por meio do uso de símbolos, forjando costumes e, com muita frequência, por meio da força.

Vargas queria replicar isso aqui, no Brasil. Agora, imagine bem a dificuldade em criar uma identidade nacional num país com dimensões continentais. Se essa era uma tarefa difícil em países pequenos, como a Itália e a Alemanha, imagine no Brasil! De qualquer forma, Getúlio Vargas levou à frente seu plano maquiavélico de capturar o carnaval, que já era considerado uma marca do brasileiro, a fim de dar a ele um uso nacionalista. Por meio de sua influência direta, ou mesmo de suas ordens, os desfiles das escolas de samba passaram, a partir de 1935, por uma profunda remodelação.

Em primeiro lugar, aquele estilo espontâneo e folião foi deixado de lado. Agora, os desfiles de carnaval assumiram ares de desfiles militares. As agremiações passaram a ser divididas em alas - como acontece em apresentações militares, até hoje em dia. O tempo das apresentações passou a ser cronometrado, devendo respeitar as durações mínima e máxima. Cada escola de samba passou a ter uma bandeira, que seria portada por alguém de destaque - como também acontece nos desfiles das Forças Armadas. Coisas como o ritmo e a evolução das escolas seriam avaliadas - mais uma vez, como se fosse uma marcha militar.

Para fins de avaliação, as escolas passariam na frente de uma banca de jurados - semelhante àquela ocupada por políticos, nos desfiles do 7 de setembro. As apresentações, por fim, receberiam, dos jurados, notas de 0 a 10, e a escola que marcasse mais pontos seria a vencedora. Ou seja: já não vencia a escola mais criativa, a mais emocionante, ou que fosse qualquer coisa do gênero. Agora, a vitória seria concedida à escola de samba que melhor se submetesse às regras impostas pelo estado.

E quanto à música, que sempre acompanhou os desfiles de carnaval? Bem, não era possível, àquela altura do campeonato, trocar o samba por qualquer outra coisa menos contraventora - ele já estava muito arraigado à cultura carnavalesca do Brasil. O que fazer, então? Bem, o governo decidiu criar o “samba-enredo” - que leva esse nome até hoje. Nessa nova concepção, o ritmo era mantido, mas as letras sofreram profundas modificações. Agora, elas precisavam enfatizar o Brasil, sua história e seus personagens mais marcantes – incluindo, é claro, o próprio Getúlio Vargas! Quanto mais nacionalista fosse um samba-enredo, mais pontos ele receberia na avaliação final.

Veja, portanto, que o carnaval dos desfiles foi transmutado em um produto fascista, com a finalidade de enfiar, goela abaixo dos brasileiros, um nacionalismo inexistente. Ou seja, a coisa se tornou muito diferente daquele modelo inicial, que era espontâneo, descentralizado e muito mais orgânico. Ainda assim, a verdade é que essa imagem da Sapucaí - que se tornou o local oficial dos desfiles em 1984, - é a que ficou presente no imaginário popular - e também no exterior - quando se fala em carnaval brasileiro.

É claro que, nesse sentido, o sucesso dos desfiles carioca e paulista se deve, em grande parte, à grana despejada por governos, e também pela grande mídia. No fim das contas, esse é um produto que custou muito caro para chegar ao atual patamar. Mas qual é o fim dessa história? Será que Getúlio Vargas venceu, e seu estilo de carnaval fascista e nacionalista prevaleceu no Brasil? Bem, a verdade é que a coisa não é bem assim.

Hoje vivemos a era da informação descentralizada e distribuída. Já foi aquela época em que a Dona Globo mandava e desmandava no carnaval, e que a Globeleza dançando pelada na TV era o símbolo maior do espírito carnavalesco brasileiro. Agora, a Globo encontra cada vez mais dificuldades para vender as cotas de patrocínio para a cobertura televisiva dos desfiles; afinal de contas, cada vez menos gente assiste à TV aberta. De maneira geral, o carnaval formal, seguindo padrões estatais, está ficando cada vez mais fraco. Ok, ele está longe de acabar por completo; mas, vamos ser sinceros: os desfiles parecem ter, hoje, tanta repercussão como tinham, no passado?

Por outro lado, contudo, o carnaval espontâneo, de rua, continua aí, firme e forte, no Brasil inteiro - para o bem ou para o mal. Se essa modalidade representa ou não a cultura brasileira, isso pouco importa - na verdade, essa preocupação com o carnaval só existia mesmo na cabeça fascista de Getúlio Vargas. A verdade é que, sendo cultura ou não, o carnaval livre, sem regras estatais, está tão pulverizado por este Brasil como sempre deveria ser: uma manifestação espontânea da vontade livre dos indivíduos. Na prática, trata-se de um livre mercado de opções carnavalescas: tem alternativas tanto para os foliões, quanto para quem quer apenas sossego, longe da bagunça.

A ética libertária não se foca em aspectos morais ou culturais. Não faz diferença, para o libertarianismo, se o carnaval é ou não a festa da promiscuidade, ou se uma série de depravações serão cometidas nesses 4 dias. Também, não faz a menor diferença se o carnaval é uma produção legitimamente brasileira, ou se foi importada da Europa - como o futebol, outro grande ícone nacional. O que importa, de verdade, é se as pessoas que frequentam os bloquinhos, os trios e os desfiles o fazem espontaneamente – e, principalmente, se todas as outras pessoas não são obrigadas a bancar essa festa.

Getúlio Vargas tentou meter suas mãos fascistas em praticamente tudo neste país. Nós devemos, ao gordinho do pijama manchado, décadas de atraso no desenvolvimento econômico brasileiro. Contudo, é interessante ver como, até mesmo no aspecto cultural, o governo ditatorial de Vargas conseguiu fazer das suas traquinagens. Não se engane, meu amigo: o estado sempre tentará tomar tudo de nós: não apenas o nosso dinheiro, mas também nossa cultura, nossa identidade e, especialmente, nossa liberdade.

Referências:

https://f5.folha.uol.com.br/televisao/2024/02/globo-aumenta-arrecadacao-publicitaria-com-carnaval-em-2024-mas-fica-longe-de-meta.shtml