05 Fev. 2024
Escritor: QuintEssência
Revisor: JJ Liber
Narrador: Paulo Wesley
Produtor: Paulo Wesley

Nayib Bukele, o presidente bitconheiro, é reeleito com folga em EL SALVADOR

As eleições presidenciais em El Salvador foram realizadas no dia 4 de fevereiro. E, como previsto, o atual presidente, Nayib Bukele, foi eleito com uma margem muito grande dos votos - 83%, de acordo com uma publicação feita pelo próprio Bukele, no X, antigo Twitter - sendo que todos os outros candidatos obtiveram percentuais pífios. A verdade é que as intenções de voto já apontavam para uma vitória acachapante de Bukele - ou seja, o resultado não foi surpresa para ninguém. Posto que o presidente salvadorenho havia sido eleito, em 2019, com 53% dos votos, fica fácil perceber o quanto o povo do pequeno país centro-americano aprovou seu primeiro mandato.

Acredita-se, inclusive, que o resultado dessas eleições tenha sepultado por completo a oposição política a Nayib Bukele. Afinal de contas, o partido do presidente, o “Novas Ideias”, conseguiu 58 cadeiras no Parlamento do país - de um total de 60 - ainda segundo Bukele; os resultados não foram plenamente apurados, no momento da produção deste vídeo. Na prática, portanto, ninguém segura o homem em El Salvador - pelo menos, no campo da política. Fica, então, a grande questão: quais serão os próximos passos do presidente reeleito?

Nayib Bukele é, de fato, uma figura bastante peculiar, e que destoa bastante daquela conhecida imagem de político latinoamericano, a que estamos acostumados. O jovem presidente, de apenas 42 anos, cuja aparência é relatada pela mídia brasileira como “sobrancelha na régua”, e que nunca usa terno ou roupas típicas de políticos, foi conhecido primeiro por nós, libertários. E isso por conta de seu apoio ao bitcoin. Esse apoio foi muito além de sua foto no perfil do Twitter, usando olhos com raio laser: Bukele transformou o bitcoin em moeda corrente no país, sendo o primeiro presidente a tomar essa iniciativa no mundo!

Porém, o que fez o presidente salvadorenho se tornar notícia internacional foi mesmo a questão do combate ao crime organizado no país. El Salvador era um país loteado por gangues extremamente violentas, que nasceram em grupos de imigrantes nos Estados Unidos, mas que retornaram à sua pátria original nos anos 1990. Os membros dessas organizações são conhecidos por cobrirem seus corpos com tatuagens enaltecendo a família criminosa a que pertencem. A ação desses grupos, dentre os quais se destacam a Mara Salvatrucha 13 e a Barrio 18, transformou El Salvador no país mais perigoso do mundo em 2015, quando o índice de homicídios atingiu a absurda marca de 106 morte para cada 100 mil habitantes.

Logo após chegar ao poder, em 2019, Nayib Bukele prometeu combater o crime organizado. Mas suas ações se tornaram mais intensas no início de 2022, quando uma onda de violência varreu o país e ceifou a vida de 87 pessoas. Em resposta, Bukele instaurou um regime de exceção, com a suspensão de direitos civis - situação que dura até hoje, e que, ao que tudo indica, será prorrogada neste novo mandato. Na sequência, o governo salvadorenho iniciou uma verdadeira guerra contra as gangues, encarcerando nada menos que 75 mil pessoas que, supostamente, tinham algum vínculo com as organizações criminosas. Esse número representa mais de 1% da população salvadorenha.

Para comportar tanta gente, Bukele ordenou a construção de uma prisão de segurança máxima - o Centro de Confinamento do Terrorismo, - com capacidade para 40 mil detentos. Como consequência direta dessas ações, a taxa de homicídios no país desabou para 7,8 mortes para cada 100 mil habitantes, em 2022. No ano seguinte, o número foi reduzido para 1,7 homicídios - uma taxa digna de um país nórdico. É bem provável, contudo, que o combate ao crime organizado continue firme no novo mandato de Bukele. Afinal de contas, seu governo estima que ainda existam 43 mil membros de gangues à solta no país.

Por conta de todo esse cenário, e mesmo restringindo direitos individuais e constitucionais, Nayib Bukele conseguiu a façanha de ter 90% da aprovação do povo salvadorenho. Raras vezes na história de países livres, um presidente conseguiu ter tal índice de endosso da opinião pública. Quem seriam os outros 10%, que desaprovam seu governo? Familiares dos bandidos presos? Enfim, como já afirmado, Bukele tinha cerca de 80% das intenções de voto, em pesquisas eleitorais realizadas nos últimos dias. Ou seja, ele provavelmente venceria até mesmo se fosse candidato a Rei de El Salvador. Quem diria que destruir o crime organizado faria com que o um político caísse nas graças do povo, não é mesmo?

Contudo, é óbvio que nem tudo são flores nessa história - e o mandato de Nayib Bukele está envolvido em muita polêmica, desde o início. O principal fator é, por óbvio, o encarceramento em massa de pessoas supostamente envolvidas com o crime. A verdade é que o próprio governo libertou cerca de 7 mil pessoas logo após sua prisão - o que representa uma taxa de erro na casa dos 10%. Só que organizações internacionais de direitos humanos afirmam que esse número é ainda maior. Estamos falando, portanto, de inocentes, privados de sua liberdade e encarcerados junto de criminosos de altíssima periculosidade.

Mas a coisa vai além. Existe a suspeita de que o governo Bukele havia negociado uma trégua com as gangues, em 2020, com a finalidade de reduzir a taxa de homicídios no país. Algum tipo de acordo havia sido selado entre as partes; porém, em algum momento, o governo Bukele não cumpriu com o combinado, o que desencadeou a crise de 2022. Alguns afirmam, inclusive, que Nayib Bukele tomou todas essas decisões já prevendo uma escalada do crime - algo que lhe daria a possibilidade de governar o país com poderes quase ditatoriais.

E é difícil afirmar que Bukele não ultrapassou as 4 linhas constitucionais de El Salvador. Em 2020, o presidente salvadorenho ordenou que o exército invadisse o Parlamento do país, forçando os congressistas a aprovarem suas medidas. Na mesma época, Bukele destituiu vários juízes da Suprema Corte, substituindo-os por nomes mais favoráveis à sua gestão. Na prática, portanto, ele tem o controle total dos 3 poderes no país. E se você quiser colocar ainda mais lenha nessa fogueira, saiba que existem suspeitas de que Bukele havia recebido dinheiro sujo do petróleo venezuelano, no início de sua carreira política.

É claro que, no caso salvadorenho, vale o debate: será que o preço que as instituições republicanas do país pagaram foi muito alto, se comparado aos benefícios da redução da violência? A verdade, contudo, é que, talvez, a popularidade de Bukele não se resuma ao combate ao crime. Tudo bem, o caso de El Salvador é uma realidade muito diferente; afinal de contas, estamos acostumados a casos como o do esquerdista López Obrador, presidente mexicano acusado de receber dinheiro do crime organizado. Ou então, como o do Brasil, governado por um partido conhecido por ter um diálogo cabuloso com uma certa organização que… bem, o jurídico proibiu comentários.

Só que, ao que tudo indica, as medidas de Bukele têm o potencial para fazer a liberdade florescer de verdade em El Salvador. A verdade é que é simplesmente impossível haver qualquer tipo de ordem social - ainda que espontânea - num país que, por conta de governos anteriores fracassados, foi tomado por organizações criminosas. Não se engane: nenhum país chega ao nível de violência que havia em El Salvador, ou que há, ainda hoje, no México, no Equador, e até mesmo no Brasil, sem a conivência de forças estatais. Analise bem esses casos, e você verá que isso é uma verdade inquestionável.

A soma de combate à criminalidade e estabilidade social, aliada a um pensamento de livre mercado e a adoção do bitcoin como moeda - algo que fez o governo salvadorenho lucrar bastante nos últimos meses - parece ser uma combinação bastante promissora. Conforme o país conseguir estabilizar sua situação de paz social - conseguida há menos de 2 anos, diga-se de passagem, - a tendência é que os investimentos estrangeiros comecem a afluir para lá. Você sabe como são as coisas: tem muito gringo tirando dinheiro do Brasil, por motivos óbvios; e esse dinheiro de risco tem que ir para algum lugar. E nada é mais capaz de enriquecer rapidamente um país, do que o investimento estrangeiro.

Talvez, esse seja realmente o grande foco de Nayib Bukele, em seu segundo mandato. E, como sempre, será fácil medir a repercussão de seu sucesso: se a grande mídia brasileira estiver esperneando muito, é porque seu governo está indo muito bem, obrigado. No fim das contas, o caso Bukele deixa uma lição para todos os defensores da liberdade que querem se aventurar na política: no caso de uma vitória (que eventualmente acontece), é preciso tomar ações rápidas e enérgicas. O sucesso de Bukele, em El Salvador, e de Milei, na Argentina, demonstram que, para lutar contra o sistema, o político tem que, no mínimo, agir muito fora da caixinha.

Referências:

https://crusoe.com.br/diario/com-eleicao-em-el-salvador-bukele-deixa-oposicao-a-beira-da-extincao/ https://g1.globo.com/mundo/noticia/2024/02/04/eleicoes-em-el-salvador-nayib-bukele-presidente-que-promoveu-encarceramento-em-massa-deve-ser-reeleito-com-mais-de-80percent-dos-votos.ghtml https://www.opendemocracy.net/pt/bukele-pacto-informal-gangues-maras-el-salvador/ https://www.opendemocracy.net/pt/nayib-bukele-el-salvador-dinheiro-venezuelano/

Visão Libertária

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