Maduro jogou a cartada da 'libertação' como se a própria Venezuela fosse um exemplo de país que precisa ser libertado.
No auge do Festival Internacional Antifascista em Caracas, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, proferiu declarações que rapidamente ganharam destaque nos noticiários internacionais e reverberaram nas relações internacionais. Com uma postura combativa, Maduro não só condenou o imperialismo americano, mas também sugeriu uma medida audaciosa: a "libertação" de Porto Rico da "colonização" dos Estados Unidos.
Em seu discurso, o ditador da Venezuela denunciou a presença de uma "agenda colonialista" no norte, a qual deveria ser enfrentada por uma "agenda libertadora", fundamentada nos princípios bolivarianos e apoiada pelo seu governo. De forma ainda mais preocupante, propôs que a Venezuela pudesse contar com o auxílio de forças brasileiras para alcançar esse propósito, referindo-se especificamente ao Batalhão General Abreu e Lima, da Polícia Militar de Pernambuco, como um elemento que contribuiria para a tarefa.
A retórica de Maduro acendeu uma faísca em um cenário já tenso e repleto de disputas históricas. Afinal, o presidente venezuelano não estava apenas lançando uma provocação contra os Estados Unidos, mas também marcando posição frente ao segundo mandato de Donald Trump. A resposta de Porto Rico a tais declarações foi imediata. Jenniffer González, governadora da ilha, reagiu prontamente às ameaças de Maduro, declarando que as declarações do presidente venezuelano representavam um risco à segurança nacional dos Estados Unidos e uma provocação que não poderia ser negligenciada. González condenou vigorosamente o que qualificou como "ditador assassino", solicitando ao governo dos Estados Unidos, sob a liderança do presidente eleito Donald Trump, que adotasse ações firmes para salvaguardar a integridade do território americano e de seus habitantes, em resposta direta à ameaça de Maduro. A apreensão não era exagerada: as declarações de Maduro poderiam ser vistas como uma ameaça à soberania de um território que, mesmo possuindo um status político único, é de fato parte integrante dos Estados Unidos.
Porto Rico, sob controle americano desde 1898, após a Guerra Hispano-Americana, tem uma história complexa e uma ligação única com a potência americana. Por causa da guerra, a Espanha cedeu Porto Rico, junto com as Filipinas e Guam, anteriormente sob controle espanhol, aos Estados Unidos, conforme o Tratado de Paris. A soberania sobre Cuba foi transferida da Espanha para Cuba, que posteriormente se tornou independente. Os Estados Unidos e Porto Rico iniciaram um vínculo de longa data como metrópole e colônia. Na virada do século XX, a ilha foi incorporada aos Estados Unidos, passando por uma sequência de reformas políticas e econômicas que moldaram a sua condição atual. Atualmente, a ilha detém a condição de "Estado Livre Associado" desde 1952, possuindo um alto nível de autonomia, embora não possua os mesmos direitos que os estados da união.
No que diz respeito à governança, Porto Rico possui um governo local formado por um governador eleito, responsável pelas funções executivas, e uma câmara legislativa de dois membros. O Senado e a Câmara dos Deputados são encarregados de elaborar leis para a ilha, contudo, tais leis não podem violar as leis federais e a constituição americana. A administração federal norte-americana detém autoridade em diversos campos, tais como defesa, imigração e impostos, contudo, as políticas locais são majoritariamente administradas pelo governo de Porto Rico. Um aspecto polêmico é que, mesmo sendo cidadãos americanos, os porto-riquenhos não possuem representação completa no Congresso e não podem votar nas eleições presidenciais, a não ser que residam em um dos 50 estados da federação. No momento, a qualidade de vida dos porto-riquenhos é incrivelmente elevada para os padrões latino-americanos, com um IDH de 0,845 e um PIB per capita que supera os 50 mil dólares. Esses números superam consideravelmente os da Venezuela, que tem um IDH de 0,691 e um PIB per capita de aproximadamente 1627 dólares.
A ilha continua lidando com problemas estruturais, como uma grave crise fiscal e uma elevada dívida pública. No entanto, a gestão americana tem garantido um alto padrão de vida, o que favorece uma forte identificação popular com os Estados Unidos. Um sinal evidente de que a ilha se sente vinculada aos Estados Unidos é o referendo realizado em 2020, onde mais de 52% dos votantes optaram por fazer de Porto Rico o 51° estado da União. No entanto, essa defesa do status quo contrasta com uma discussão interna que continua a existir, sobre se a independência seria a melhor opção para a ilha. Mesmo com essa limitação, a ilha caribenha ainda apresenta índices socioeconômicos muito superiores às regiões mais ricas da Venezuela. Não restam dúvidas de que a população de Porto Rico prefere ser administrada por Washington ao invés de por Caracas.
Não importa a posição do povo porto-riquenho em relação à independência ou à conversão em estado dos Estados Unidos, as ameaças proferidas por Maduro foram interpretadas como uma violação da vontade popular e do status de Porto Rico como uma parte integral dos Estados Unidos. Maduro, ao propor que o Brasil apoiaria uma intervenção militar em Porto Rico, arriscou-se em uma área perigosa. A presença de tropas brasileiras, uma referência ao Batalhão General Abreu e Lima, não apenas coloca o Brasil em uma posição desconfortável, mas também poderia implicar uma complicação diplomática de grandes proporções. A relação entre Brasil e Estados Unidos, que já não é simples devido a questões políticas ligadas ao governo do amor, se veria ainda mais tensionada se o país fosse colocado no centro de uma ameaça direta aos interesses norte-americanos.
O governo do asno de nove cascos, que até então se alinhava com o regime de Maduro, pode se ver envolvido em um conflito que ultrapassa suas fronteiras, colocando o Brasil à mercê de pressões internacionais. O suporte implícito do Brasil ao regime de Maduro, evidenciado pela presença de diplomatas brasileiros na posse do presidente da Venezuela, já havia provocado especulações acerca da posição do Brasil na geopolítica da América Latina. Com as ameaças de Maduro e a referência clara à mobilização de tropas brasileiras, a nação poderia ser vítima de campanhas de desinformação, o que poderia intensificar a desconfiança entre os Estados Unidos e o Brasil. A reafirmação da soberania brasileira e a sua declaração de neutralidade, vem se provando cada dia mais necessária no âmbito diplomático, mas infelizmente, não podemos ser otimistas quanto a isso tendo em vista o posicionamento do governo brasileiro.
A conjuntura interna da Venezuela, caracterizada por uma severa falta de alimentos, repressão política intensa e um aumento na popularidade da oposição, também pode ter influenciado as declarações de Maduro. Em um sistema autocrático à beira do desmoronamento, a necessidade de desviar o foco da crise interna e estabelecer um adversário externo é uma tática frequente para conquistar apoio popular e preservar a coesão nacional. Em regimes autocráticos, o uso de retórica bélica e a criação de um adversário externo não são táticas inéditas. A história está cheia de exemplos de líderes que, em momentos de desespero político, recorreram à guerra ou à ameaça de guerra para se manter no poder. Idi Amin, ditador de Uganda, é um exemplo dessa estratégia: em 1978, ele invadiu a Tanzânia com o objetivo de desviar a atenção da crise interna e consolidar seu regime, porém, acabou sendo derrotado e derrubado do poder. Outro exemplo foi o da ditadura militar na Argentina, que tentou invadir as Ilhas Falklands em 1982, com a esperança de que uma vitória militar restabelecesse a confiança do povo no governo. No entanto, essa tática fracassou completamente, levando à queda do regime.
Na sua retórica acerca da anexação da Guiana e agora de Porto Rico, Maduro parece seguir esse padrão, confiando numa vitória política que ele acredita poder fortalecer sua posição interna. A situação atual da Venezuela e as ações de Maduro indicam que o regime está à beira do colapso. A tentativa de provocar uma guerra contra seus vizinhos, seja através da Guiana ou de Porto Rico, é uma jogada desesperada para unir a população sob uma bandeira nacionalista e distrair o povo dos graves problemas internos. Não obstante, a situação geopolítica atual, que inclui a guerra na Ucrânia e as alianças de Putin, pode ter influenciado essa retórica. A Rússia, desesperada por uma vitória na guerra, pode ver uma oportunidade em criar novos focos de tensão, e é possível que tenha tentado convencer Maduro a tomar uma atitude ousada, como invadir a Guiana, com a promessa de apoio militar.
No entanto, a realidade é que tanto a Venezuela quanto o Brasil estão longe de ter a capacidade de enfrentar diretamente os Estados Unidos e a OTAN em um conflito de grandes proporções. As provocações de Maduro, embora preocupantes, são, em grande parte, uma forma de blefe político, uma tentativa de manter o regime de pé através da retórica e da distração. A história demonstra que esse tipo de movimento raramente termina bem para os ditadores que recorrem a ele. O regime de Idi Amin foi derrotado, a ditadura argentina foi destituída após a derrota nas Falklands, e a Venezuela, ao que tudo indica, está trilhando um caminho semelhante. O colapso de um regime autocrático pode ser violento e imprevisível, mas as probabilidades de sucesso de tais estratégias são mínimas. Maduro, ao tentar mobilizar sua base através de ameaças externas, está apenas acelerando a decadência de um regime que já está no ponto de ruptura.
O que se vê hoje na Venezuela é um líder desesperado, tentando manter uma fachada de força enquanto seu governo se desintegra diante dos olhos do mundo. A retórica belicista, como a que vimos nas últimas semanas, é um reflexo da falência de um regime obsoleto lutando a todo custo pela sua própria existência. O que observamos aqui, é uma guerra informacional sendo lutada antes de qualquer conflito armado. Estados no mundo todo sempre tiveram o monopólio sobre a informação sendo reforçado pela estrutura hierárquica central da mídia tradicional. Tal poder está em estado de erosão no mundo moderno, graças à internet e o advento da informação descentralizada. Ditaduras como a Venezuela, porém, puderam retardar mais o avanço da informação descentralizada através do controle sobre a internet e a censura em geral. Ao que tudo indica, o controle de Maduro sobre a informação na Venezuela tem diminuído exponencialmente nos últimos anos. A crise inflacionária, sanções econômicas e o crescimento meteórico da oposição são atestados de que seu regime não consegue mais encontrar uma base de apoio na população.
Maduro se vê encurralado, vendo ameaças belicistas como um último trunfo para gerar uma base de apoio em sua população. Como libertários sempre dizemos que a informação descentralizada tornou o estado obsoleto, sendo apenas questão de tempo até que o mesmo deixe de existir. Reconhecemos que mesmo fadado à extinção, o mesmo não vai morrer sem lutar, e geralmente focamos muito na reação burocrática do estado a essa mudança, que ocorrerá com entraves legais e burocracia tentando refrear o avanço da informação descentralizada.
A guerra como resposta do estado a sua iminente queda não é algo que muitos levam em consideração. Governos quando encurralados poderão tomar a radical decisão de se tornarem belicistas, pois nesse ponto os mesmos já não tem nada a perder. Assim como Sun Tzu disse: Quando cercar o inimigo, deixe uma saída para ele, caso contrário, ele lutará até a morte. Não há saída para o estado, sendo assim ele vai lutar até a morte. Portanto, a transição para uma sociedade de leis privadas não será um evento traumático apenas no aspecto econômico, ele será um período com um potencial muito violento. Embora estejamos transacionando para um modelo de sociedade muito superior ao atual, a transição ainda será dolorosa e tomará o mundo todo de assalto. Portanto prepare-se, proteja seu patrimônio com Bitcoin, que além de ser invulnerável às medidas que afetam o valor das moedas FIAT, ele será muito útil quando o sistema financeiro mundial colapsar. Por enquanto podemos ficar tranquilos, sabendo que as ameaças de Maduro não passam de blefes, mas não deixe a aparente sensação de tranquilidade te enganar, os anos à nossa frente serão difíceis.
https://www.terra.com.br/noticias/mundo/maduro-ameaca-libertar-porto-rico-dos-eua-com-ajuda-do-brasil,3a65f24bb48d80062f4cca6cc33f5b65p090bv6q.html
https://pt.wikipedia.org/wiki/Porto_Rico#:~:text=Em%2025%20de%20julho%20de,sob%20o%20Tratado%20de%20Paris.
https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/apos-sugestao-de-invasao-de-maduro-porto-rico-pede-protecao-dos-eua/