Empregos que exigem CURSO SUPERIOR no Brasil estão DESAPARECENDO

Todo mundo já tinha percebido isso; só que, agora, nós temos dados para fundamentar essa percepção.

Um estudo divulgado recentemente pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas - o FGV-Ibre - deu a entender que os empregos que exigem curso superior estão com os dias contados no Brasil. O estudo usou, como base, os dados oficiais sobre empregabilidade do CAGED (o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do Ministério do Trabalho e Emprego), referentes ao mês de novembro de 2023 - que são os dados mais atuais.

De forma geral, as informações do CAGED permitem averiguar o saldo líquido de empregos formais no país, em determinado período. Como o nome sugere, esse cadastro estatal relaciona a quantidade de pessoas admitidas (ou seja, contratadas) e demitidas, em determinado período de tempo. Se a diferença entre o total de admissões e demissões for positiva, isso significa que novas vagas de emprego foram criadas no país, naquele período. E, de forma geral, o desemprego continua diminuindo no Brasil - ainda que num ritmo mais lento.

Pois bem: de acordo com os dados constantes no CAGED de novembro passado, o saldo de vagas criadas em todo o Brasil, nesse mês, foi de 130 mil. Isso representa um crescimento de 1,8% no total de novos postos de trabalho criados, em comparação com o mês de novembro do ano anterior. E, ainda conforme as informações do referido cadastro, a maior parte dessas vagas se direcionou aos setores do comércio e dos serviços - geralmente, empregos de menor qualificação e tipicamente temporários. Muito disso se deve à chegada da Black Friday e do Natal do ano passado - quando vagas do tipo costumam mesmo ser criadas.

Contudo, o estudo da FGV também concluiu que essa realidade não se aplica a empregos que exigem qualificação acadêmica - ou seja, que demandam ensino superior completo. Nesse mesmo período, o número de vagas criadas para áreas que exigem grau superior de ensino foi de apenas mil. Sim, apenas mil novas vagas para diplomados em universidade foram criadas em novembro de 2023. Isso representa uma queda de 74% em relação à criação de vagas qualificadas nesse mesmo mês, no ano de 2022.

Pare para pensar nesse número: existem, atualmente, mais de 5 mil municípios no Brasil. Ou seja: no mês de novembro de 2023, foi aberta 1 mísera vaga de emprego para pessoas com curso superior para cada 5 cidades brasileiras! Se extrapolarmos esse número para todos os meses do ano, vamos perceber que cada município brasileiro criou apenas 2 vagas de trabalho com curso superior durante o ano inteiro. Compare esses números com, por exemplo, a quantidade de brasileiros formados no ensino superior em 2018 - mais de 1 milhão, - e você vai perceber que a conta simplesmente não fecha.

Lembrando, mais uma vez, que os números apurados junto ao CAGED se referem às “vagas líquidas” criadas: o total de admissões menos o total de demissões naquele período. Ou seja, tem muita gente ainda sendo contratada; só que o número de demissões também é alto. Isso representa ainda outro problema: o fenômeno do aumento do turnover (ou seja, da rotatividade) entre pessoas com alto nível de qualificação. Esse fenômeno, como era de se esperar, se reflete também nos salários.

O estudo do FGV-Ibre percebeu que, em novembro passado, houve também uma redução nos salários de contratação. O salário médio para admissão nesse período foi de R$ 2.022; mas o de demissão foi de R$ 2.133. Ou seja, as empresas estão trocando trabalhadores mais caros por trabalhadores mais baratos. Mais uma vez, esse cenário acaba impactando nas perspectivas de jovens trabalhadores formados no Ensino Superior. Aliás, nós já abordamos esse tema, de forma específica, no vídeo: “Estudar NÃO GARANTE RENDA maior no BRASIL” - link na descrição.

Mas, afinal de contas, o que explica esse número decepcionante? Bem, é preciso frisar que, como você certamente já percebeu, os dados do CAGED se referem apenas a empregos formais - e isso pode mascarar muita coisa. Pode ser que, de fato, estejamos presenciando o fenômeno da “pejotização”, chegando a cada vez mais gente. Muitas pessoas profissionalmente qualificadas estão migrando para o trabalho como Pessoas Jurídicas, ao invés de passar pelo regime da CLT. Isso porque trabalhar como PJ garante uma tributação menor, principalmente no que se refere ao imposto de renda - cuja tabela nunca foi corretamente atualizada. Esse tipo de situação, obviamente, engana o CAGED.

Só que a coisa vai além: o modelo antigo de estudos já demonstra não ser adequado ao atual cenário profissional. Afinal de contas, estamos, atualmente, na era da tecnologia avançada e da informação. Nesse cenário, tudo leva a crer que um curso superior formal - pelo menos na maioria dos casos - não faz tanto sentido assim. Pense, apenas, que passar quatro anos ou mais da fase mais produtiva de sua vida, gastando tempo e dinheiro, para estudar algo que já estará defasado, quando de sua colação de grau, não parece ser a melhor estratégia profissional.

A verdade é que o mercado de trabalho, hoje em dia, é muito mais dinâmico, e possui exigências novas e ainda maiores. E o ensino formal e mecânico das faculdades não é mais capaz de atender a essas necessidades. O resultado prático disso é o que temos visto no Brasil: uma verdadeira multidão de alunos formados, comprometidos com o pagamento de um financiamento estudantil, e sem conseguir trabalhar na área. Aí, só sobra o desemprego, ou procurar um trabalho que não exige toda essa qualificação.

Dados do fim de 2021 demonstram que metade dos motoristas de Uber no Brasil possuem curso superior completo. Agora, considerando pesquisas relativas ao ano de 2022, constatamos que 30% dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos não estavam empregados naquela época. Já entre os formados, o número dos que não conseguiam uma colocação no mercado de trabalho, ou que estavam subutilizados, chegava a 40%!

E é claro que, como sempre acontece em cenários de distorções econômicas, o estado tem muita culpa nessa história. O governo brasileiro, por anos a fio, tem incentivado o ingresso em uma faculdade, para inflar os números da educação, com finalidades eleitoreiras. Programas estatais como o ProUNI, o FIES, a construção de mais universidades públicas, bem como ministros afirmando publicamente que o “Brasil precisa de engenheiros”, contribuíram muito para o agravamento desse problema. É fato que não há absorção no mercado para tantos diplomas; mas o governo não se importa com isso. Nós também tratamos desse tema, de forma detalhada, no vídeo: “Como o estado deixa jovens bacharéis sem perspectiva” - link na descrição.

Contudo, embora a pesquisa do FGV-Ibre seja muito elucidativa, ela ainda comete alguns equívocos que precisam ser esclarecidos. No texto dessa pesquisa, afirma-se que as vagas de emprego foram criadas apenas para trabalhos “pouco qualificados”. Ora, isso não existe mais - essa é uma definição que já ficou no passado! Os empregos não são mais motivados pela formação acadêmica, exceto nas áreas em que a lei estatal o exige. Portanto, não existe mais essa definição acadêmica de “pouco” ou “muito qualificado”, em relação à vaga de trabalho. A coisa é bastante simples de entender: ou você, o trabalhador, é que é qualificado o suficiente para aquela vaga, ou não.

Os requisitos profissionais dos novos tempos são completamente diferentes. Hoje, o indivíduo que quiser entrar no mercado de trabalho precisa ter qualidades como capacidade de adaptação às mudanças tecnológicas, alto grau de maleabilidade, senso de improviso, e por aí vai. O ensino, em si, pode ser até mesmo disponibilizado pelas empresas - até porque, conforme já foi referido, a velocidade atual em que a informação circula torna conhecimentos acadêmicos obsoletos em pouco tempo. Não importa mais o quanto você sabe, mas sim o quanto você é capaz de aprender.

Fora isso, também estamos vivenciando um cenário de descentralização das próprias empresas e negócios. É cada vez mais comum vermos indivíduos trabalhando por conta própria, atuando como freelancers em organizações, ou sendo sua própria organização. É por isso que o mercado dos youtubers, influencers, divulgadores e outros, relacionados à tecnologia e às redes sociais, cresce de forma tão considerável. Não é preciso ter um diploma para exercer essas funções; mas, ainda assim, esse trabalho tem sido bastante valorizado pelo mercado.

O mais óbvio de toda essa história, porém, é que esse cenário de avanços tecnológicos e dos novos modelos de emprego entra em conflito a engessada lei trabalhista brasileira, remetendo à época da Primeira Revolução Industrial. De fato, a CLT é um verdadeiro freio de mão, brecando o desenvolvimento do Brasil. A existência de algo como o CAGED, que mede o trabalho formal, é uma prova cabal dessa afirmação. Trabalho formal, vagas para curso superior, exigência de diploma, carteira assinada - tudo isso já está no fim, está no estertor de sua existência. Só o estado brasileiro e sua velha e retrógrada elite é que ainda não perceberam essa realidade inegável.

Referências:

https://tecnoblog.net/noticias/2021/12/15/uber-quase-50-dos-motoristas-e-entregadores-tem-ensino-superior-no-brasil/

https://jornaltribuna.com.br/2023/03/o-desemprego-entre-jovens-recem-formados-atinge-niveis-alarmantes/

http://portal.mec.gov.br/component/tags/tag/32044-censo-da-educacao-superior

“Como o estado deixa jovens bacharéis sem perspectiva”
https://www.youtube.com/watch?v=sYzVdFoyJcE&pp=ygUadmlzw6NvIGxpYmVydMOhcmlhIGRpcGxvbWE%3D

“Estudar NÃO GARANTE RENDA maior no BRASIL”
https://www.youtube.com/watch?v=DrdTl5WSYU4&pp=ygUadmlzw6NvIGxpYmVydMOhcmlhIGRpcGxvbWE%3D