Cidade mais violenta do Brasil tem eleições norte coreanas.

Assim é a festa da demogracinha. Quando só há um candidato, quem precisa de oposição?

No Brasil, a democracia se revela uma promessa frequentemente não cumprida, especialmente em cidades do interior, onde vemos caricaturas grotescas do que deveria ser um processo democrático. A "demogracinha" de fachada que tantos ainda defendem como o ápice da participação cidadã, na verdade, camufla um regime de coerção e dominação onde as massas são mantidas em um ciclo vicioso de submissão. São João do Jaguaribe, no Ceará, oferece um retrato preciso de como o poder político é manipulado por elites locais, utilizando métodos que são resquícios de práticas coronelistas tão associadas à República Velha. Esse cenário se torna ainda mais alarmante quando percebemos que, em locais onde a segurança é uma preocupação constante, as eleições se desenrolam sem contestação, transformando o ato de votar em um mero formalismo, uma encenação para os incautos.
Em um país onde a política se tornou um jogo de interesses corporativos e o cidadão comum é meramente um joguete nas mãos dos que detêm poder, as eleições servem para pouco mais do que legitimar a perpetuação desse status quo. Pequenas cidades do interior são aquelas que mais sofrem com essa cruel realidade, testemunham resultados eleitorais quase norte coreanos, tamanha é a margem de vantagem que certos partidos ou candidatos detêm, tornado a concorrência uma ilusão. Um exemplo emblemático dessa distorção pode ser observado em São João do Jaguaribe, que nessas eleições de 2024, reelegeu o prefeito Raimundo como único candidato, obtendo 100% dos votos válidos. É ainda notável a baixa taxa de participação nesse pleito, com 9,86% de votos em branco ou nulos e 17,18% abstenções, ou seja, quase 30% dos eleitores decidiram não votar. São João do Jaguaribe é uma cidade assolada pela violência, com a maior taxa média de mortes violentas do país entre 2019 e 2021. O prefeito de uma cidade como essa ser o único candidato e ainda se reeleger com uma baixa taxa de participação, já diz muito sobre o estado da "democracia" em muitas regiões brasileiras.
Com 4.528 votos, Raimundo Cesar garantiu sua continuidade no poder sem oposição, tendo um patrimônio declarado de R$ 892.707,12, ostenta uma superioridade que não apenas transcende seu cargo. Ele também reflete a essência de um sistema político que privilegia a perpetuação de uma elite parasita e corporativista às custas do pagador de impostos. Raimundo e seu vice, Dalenio Augusto, do PSD, integram uma coligação que luta com garras e dentes pela continuidade dessa estrutura de poder. Está bem claro que as eleições na cidade cearense não foram eventos democráticos, mas sim um reflexo das tradições de coronelismo que moldam a política local de forma opressiva e sutil.
Neste contexto, o controle sobre o eleitorado se dá por métodos que variam de ameaças explícitas a coerções insidiosas, utilizando milícias e práticas que forçam a população a seguir as diretrizes impostas pelos que detêm o poder. Essas dinâmicas ecoam uma história marcada por interesses escusos, onde a democracia é moldada pela vontade de poucos em detrimento da liberdade de muitos. O coronelismo, que se desenvolveu a partir do final do século XIX, permitiu que os "coronéis", líderes locais que utilizavam sua influência, conseguissem garantir a submissão de seus eleitores. Tudo isso sob a fachada de um ambiente que deveria ser pautado na “demogracinha”.
A dinâmica de poder que emerge desse contexto é profundamente perversa: o eleitor, em vez de ser o tão prometido agente de mudança, transforma-se em um peão nas mãos de seus opressores, forçado a seguir o fluxo em troca de segurança ou recursos básicos. A violência em regiões como essa não é meramente um subproduto do ambiente; é um mecanismo que reforça o controle estatal. Tema esse que exploramos em nosso outro vídeo, “Ladrões roubam itens da equipe de segurança de Lula em SP”. Em locais onde a corrupção é endêmica, as promessas eleitorais se tornam mais ilusórias que o normal, pois a prioridade é sempre a manutenção do status quo. As eleições se transformam em uma performance teatral, onde a falta de alternativas viáveis garante que a mesma liderança permaneça, mesmo em meio ao clamor popular por mudanças genuínas.
Ao examinar o voto de cabresto, é importante reconhecer que ele não é um fenômeno isolado, mas parte de uma estrutura de interesses que permeia vários aspectos da vida política e social. Essa prática, que remonta ao coronelismo, se adapta aos tempos modernos, mas não perde sua essência. Os métodos podem ter mudado, mas o objetivo persiste: controlar o eleitorado e silenciar qualquer dissidência, frequentemente facilitado por um sistema que marginaliza as vozes divergentes e impede que novas lideranças emerjam.
A influência de interesses corporativistas na política é outro aspecto que merece uma análise mais profunda. A política local, em muitos casos, é dominada por uma elite que usa sua riqueza e poder para moldar as decisões em seu favor. Em um contexto em que a segurança e a justiça são aparelhadas e corruptas, a sensação de impunidade toma conta. A população se vê encurralada entre a necessidade de sobreviver e a imposição de um sistema que não a representa, tornando o empreendedorismo e a autossuficiência as únicas saídas viáveis para muitos cidadãos - isso quando elas conseguem empreender. Esses indivíduos percebem que a solução para seus problemas não virá das urnas, mas sim de suas próprias iniciativas: é o trabalho honesto, o esforço, a criatividade e a competência que trazem possibilidades de mudança real.
Além disso, em muitos casos, uma versão "light" do sistema de castas norte-coreano pode ser observada. Embora as realidades sejam diferentes, a lógica de classificar cidadãos em hierarquias que definem seu valor e direitos se repete de maneiras diversas no Brasil. Assim como na Coreia do Norte, onde os mais recompensados são aqueles mais se subservientes ao líder supremo, os políticos que distribuem migalhas para se perpetuarem no poder não são uma novidade. As regiões que votam conforme as expectativas da elite são as mais privilegiadas. Muitas vezes, os benefícios que a elite oferece a eleitores comportados são a mera garantia de que esses não serão mortos ou, no máximo, extorquidos pela máfia local. Deu para entender que não há diferença entre o modus operandi do estado brasileiro e de qualquer outro tipo de facção criminosa?
Sem dúvidas, as novas tecnologias trouxeram novos desafios, mas também possibilidades de fortalecimentos das redes de resistência. Com a disseminação de informação descentralizada e o aumento da consciência sobre as mentiras e manipulações da elite estatal, mais e mais pessoas passam a questionar o sistema e a exigir mudanças verdadeiras. A internet e as redes sociais proporcionaram plataformas para vozes que anteriormente não eram ouvidas, o que apesar de ainda incipiente, começa a criar um ambiente de contestação ao status quo.
Nesse sentido, é importante que essa mobilização se mantenha e seja dirigida, pois a luta contra o coronelismo, o voto de cabresto e o Estado que os perpetua é uma luta pela liberdade e pela autonomia individual. A definição de democracia não é relativa ou limitada à realização de eleições; ela se manifesta na capacidade de cada cidadão em expor suas opiniões e participar ativamente da política. Como libertários, sabemos que a democracia é um sistema fadado ao fracasso e não representa os indivíduos. No entanto, não há dúvida de que esse é um modelo muito menos pior do que o autoritarismo presente em países como Cuba, Venezuela, China e Rússia.
A superação do estado depende da consciência de que a liberdade real deve surgir a partir da compreensão profunda das liberdades individuais inalienáveis ao ser humano: o direito natural. O empoderamento dos cidadãos passa pela conscientização e pela luta contra as entidades que deslegitimam seus direitos como indivíduos livres. A busca por alternativas ao sistema atual deve ser uma prioridade. A criação de iniciativas locais de fortalecimento e crescimento paralelo ao Estado, criação de redes de apoio mútuo e incentivo ao empreendedorismo são formas de resistência ao leviatã de Brasília. A transformação não virá de cima para baixo; ela deve ser organizada de baixo para cima, se tornando uma cultura coletiva. Afinal, não dá para esperar nada de uma elite espúria e insensível que apenas deseja expropriar mais nosso dinheiro a fazer populismo para se perpetuar no poder.
O papel da educação real sobre alternativas ao sistema estatal é fundamental nesse processo. A conscientização sobre seus verdadeiros direitos, a história do coronelismo e as práticas de controle social deve ser disseminada, criando uma base sólida para a construção de uma nova forma de participação política. Lembrem-se de que estamos falando de uma população carente e, muitas vezes, analfabeta, mas com pleno acesso aos meios digitais, fazendo da informação descentralizada uma arma vital nesse processo.
A realidade exposta em São João do Jaguaribe não é meramente uma anomalia, mas um reflexo contundente de como estruturas de poder, enraizadas em práticas autoritárias e clientelistas, se tornaram o selo de qualidade da “demogracinha” brasileira. A impunidade e a corrupção, que permeiam a política nacional, ilustram a ineficácia do Estado como agente de suposta proteção e promoção da liberdade. Em vez de ser um facilitador do bem-estar, o governo transforma-se em um predador, exercendo controle sobre o indivíduo e minando sua autonomia. Neste contexto, o verdadeiro desafio reside na possibilidade de um despertar coletivo, onde os cidadãos tomem consciência de sua condição e desafiem a narrativa dominante que legitima a violência e a coerção como instrumentos de poder.
Um mundo onde a propriedade privada e as trocas voluntárias são respeitadas representa a alternativa viável a esse ciclo vicioso. Ao abolir a coerção estatal e as estruturas de dominação, a sociedade poderia se reconstruir sobre os pilares que verdadeiramente a farão prosperar, trazendo a verdadeira independência das comunidades. A descentralização do poder e a promoção de mercados livres não apenas possibilitam a verdadeira expressão do desejo popular, mas também criam um ambiente propício para que os cidadãos se tornem protagonistas de suas próprias vidas. Somente assim se tornarão livres da manipulação e das amarras impostas por elites interesseiras.
A libertação das amarras do autoritarismo exige uma visão radical que desafie a normalização da violência política e a cultura do medo. É imperativo que os indivíduos se unam em torno da defesa de suas liberdades inalienáveis, recusando-se a ser tratados como peças em um tabuleiro de xadrez por aqueles que se perpetuam no poder. A desobediência civil, a resistência pacífica e a busca por soluções baseadas na cooperação voluntária emergem como instrumentos cruciais nessa luta.
A situação de São João do Jaguaribe, nos chama a reimaginar um futuro onde o governo não é o arbítrio da liberdade, mas sim uma mera passagem nos livros de história. A possibilidade de uma sociedade mais justa e livre não está apenas ao nosso alcance; ela é um direito inalienável que todos devemos lutar para concretizar. O que está em jogo é mais do que a política de uma cidadezinha de interior, mas a própria essência do que significa ser humano, a liberdade.

Referências:

https://www.opovo.com.br/noticias/politica/eleicoes/2024/10/08/na-cidade-cearense-mais-violenta-do-pais-todos-os-candidatos-sao-do-mesmo-partido-e-so-1-nao-entrou.html
https://pt.wikipedia.org/wiki/Voto_de_cabresto
https://pt.wikipedia.org/wiki/Coronelismo