Bancos têm lucro recorde no segundo trimestre com queda na inadimplência

Bancos registram lucro recorde no segundo trimestre de 2024. O principal motivo foi a redução da inadimplência. Mas nesse cenário de recessão, o que explica isso?

No começo de agosto saíram os resultados financeiros dos maiores bancos do país. Todos tiveram lucros acima do esperado, com alguns batendo recordes históricos. O Banco Santander teve lucro de 3,3 bilhões, com alta de 44,3% na comparação anual. O Banco Bradesco teve lucro de 4,7 bilhões, uma alta de 4,4% em relação ao mesmo período de 2023. Já o Banco do Brasil teve lucro de 9,5 bilhões, com alta de 8,2%. E finalmente, o Itaú reportou lucro de 10 bilhões, com alta de 15.2%, não só acima do esperado, mas também um recorde histórico.
Claro que cada banco diz que sua eficiente gestão trouxe os resultados. Mas se todos estão tendo resultados extraordinários ao mesmo tempo, provavelmente há algum fator macroeconômico influenciando esse cenário de ganhos. Alguns fatores podem ajudar a explicar o motivo do sucesso dos 4 bancões.
Um possível motivo é o aumento da exportação no período. No primeiro semestre de 2024 o Brasil bateu recorde de exportações, com marca de quase 200 bilhões de dólares. A alta colossal do dólar, que saiu de 5 reais em primeiro de abril, para 5,75 reais em primeiro de agosto, faz com que produtos brasileiros sejam mais atrativos no exterior, aumentando a demanda. As empresas que produzem para exportar podem ter se alavancado mais com bancos para financiar as suas atividades. Desta forma, aumentando o lucro do setor bancário.
Se você vê este recorde de exportações e pensa que está tudo maravilhosamente bem, cuidado com a falácia Keynesiana. Os economistas puxa-sacos do governo idolatram o superávit da balança comercial, isto é, quando o país exporta mais do que importa. Desta forma, o governo tem o incentivo para gastar de forma irresponsável e depois imprimir dinheiro para conter o déficit, desvalorizando a sua moeda. A desvalorização da moeda para eles seria até um bônus, pois aumentaria as exportações. A Escola Austríaca de economia demonstra que o objetivo da exportação é que haja futuras importações. Afinal, o legal de ter dólares é poder comprar coisas do exterior e aumentar nossa riqueza aqui. Num exemplo hipotético, imagina se um país só exportasse e não importasse. Neste caso, haveria uma escassez de produtos no país, privando a população de comprá-los, tendo que arcar com produtos mais caros e em menor quantidade. Nesse cenário, a entrada de capital estrangeiro somente beneficiaria os exportadores. Portanto, não há nada de produtivo em ficar se preocupando em ajustar artificialmente a balança comercial. As importações e exportações vão se ajustar naturalmente com as dinâmicas do mercado se ele for mantido livre e sem intervenção.
Voltando à questão dos lucros dos bancos. De acordo com todos os 4 bancos, um ponto importante para os bons resultados foi a queda na inadimplência. Parece que o brasileiro está dando menos calote nos bancos, o que contribuiu para seus resultados positivos. Segundo o Mapa da Inadimplência do Serasa, a inadimplência no Brasil teve crescimento em março e abril, para depois cair em maio e junho. Mas sabemos que a economia está indo de mal a pior. Por que será que o brasileiro resolveu pagar suas dívidas no segundo trimestre de 2024?
Uma possível explicação para isso é o fim do programa Desenrola, do governo federal. Este programa terminou exatamente em maio, no mês em que a inadimplência começou a cair. O Desenrola é um programa em que o governo ajuda pessoas de baixa renda a pagarem suas dívidas com bancos. O cidadão paga um valor pequeno e o governo completa com o resto. Se olharmos de forma ingênua, parece que o fim do Desenrola deveria aumentar a inadimplência, afinal, o governo estaria ajudando a quitar dívidas. A questão é que a interferência do governo altera a forma que as pessoas se comportam. Então, se existe a probabilidade de o governo pagar as suas dívidas, ninguém vai mais pagar dívidas por conta própria. Todos vão esperar pelo papai Estado os salvar, às custas do resto da população. Desta forma, é possível que quando o governo terminou o programa Desenrola, todos que tinham dívida perceberam que agora não haveria escapatória, senão pagar o que se deve. O resultado foi a queda na inadimplência.
Aliás, outro efeito que acontece quando os governos bancam dívidas da população, é que as pessoas pegam mais empréstimos de forma desnecessária, e os bancos também relaxam mais na análise de crédito. Então, enquanto algumas dívidas são quitadas, muitas outras são iniciadas com a esperança da ajuda governamental.
Assim são todas as políticas públicas. Políticos enxergam problemas e criam soluções completamente míopes para resolvê-los. Eles ignoram completamente as consequências que as ações podem causar. Eles não entendem que canetadas não resolvem problemas reais. Para resolver problemas, é preciso encontrar a causa raiz deles. Geralmente a causa é o próprio Estado, devido a uma política idiota, na maioria das vezes.
Por que será que a inadimplência normalmente é grande? Será que os bancos não sabem fazer análise de crédito? Por que será que as pessoas se endividam mais do que conseguem pagar?
Se olharmos o sistema a fundo, veremos que o buraco é mais embaixo. Sempre a inadimplência vai ser alta, assim como o lucro dos grandes bancos. Temos um sistema financeiro corrompido que incentiva a irresponsabilidade financeira das pessoas e empréstimos arriscados para bancos. Tudo começa com os bancos emprestando muito mais dinheiro do que de fato possuem em reserva; isto se chama reserva fracionária. Apesar de ser uma prática comum no mundo todo, ela é por essência fraudulenta. Num livre mercado, um banco que empresta mais do que tem nunca seria confiável e poderia falir rapidamente sem ajuda do governo. Mas, infelizmente, não estamos num livre mercado ainda, mas num mercado controlado por Estados que têm o interesse de sempre injetar dinheiro na economia e aumentar seus indicadores de vaidade.
É claro que mais dia, menos dia, os bancos não vão conseguir pagar tudo o que dizem possuir, e então acontecem as corridas aos bancos. Todos os correntistas saem correndo para sacar o seu dinheiro, pois os últimos a chegarem perderão seus fundos e ficarão chupando os dedos. É nesse momento que chega o papai Estado e injeta dinheiro nos bancos, os salvando da falência.
Como vimos no caso do Desenrola, quando o governo quita dívidas, acontecem efeitos colaterais. Os bancos também entendem que estão salvos da corrida aos bancos, já que existe um fundo garantidor. Dessa forma, o banco se sente incentivado a sair emprestando dinheiro adoidado de forma arriscada. Consequentemente, o consumidor é seduzido com ofertas de crédito e pega dinheiro emprestado sem pensar no amanhã. Por isso que no Brasil acontece essa combinação de bancos lucrando rios de dinheiro e população altamente endividada.
Além do mais, os grandes bancos fazem a festa pela falta de concorrência. Eles podem cobrar altos juros, e a população não tem para onde correr, se quiser crédito. Em teoria, qualquer um poderia criar um banco e começar a concorrer com os bancões. Mas o Estado regula fortemente o setor financeiro, de forma que para os pequenos competidores fica muito difícil cumprir todos os requisitos, por isso temos poucos bancos no Brasil. Com isso, a hegemonia de alguns bancos grandes se perpetua.
O governo também ajuda os bancos com negócios do tipo ganha-ganha-ganha-perde. O governo ganha, o banco ganha, a empreiteira ganha e a sociedade perde. Por exemplo, quando o governo pega empréstimos com os bancos a juros altos para financiar o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que por sua vez empresta a juros baixos para empreiteiras realizarem obras. A empreiteira se deu bem porque pegou empréstimo com juros baixos. O banco se deu bem porque emprestou a juros altos. O governo se deu bem porque agora diz que é o responsável por obras estarem sendo feitas. Repare que ele teve prejuízo, pois emprestou a juros baixos e depois teve que pagar o banco a juros altos. Mas de quem é o prejuízo de verdade? É da população, não é do governo. Os políticos estão felizes porque fizeram uma boa propaganda com a obra, quem tomou no toba foi a população que pagou do seu suado dinheiro para alguma obra inútil.
Enquanto o Estado tiver a possibilidade de imprimir dinheiro ao seu bel-prazer, e controlar o sistema financeiro, os grandes bancos vão continuar lucrando fortunas, enquanto a população continuará tendo que pagar juros altos. Por isso que o Bitcoin é uma tecnologia com grande possibilidade de nos libertar desse sistema perverso. Se ele for amplamente adotado, os governos de todo o mundo vão perder a mamata de imprimir dinheiro e sacanear a população desvalorizando a sua moeda. Também não vão poder prostituir o sistema financeiro incentivando o crédito desenfreado na economia.
Realmente, ser um grande banco no Brasil é um ótimo negócio. Mas se eu fosse um diretor de um banco desses, ficaria bastante atento, pois o Bitcoin é um risco para o sistema.

Referências:

https://www.infomoney.com.br/mercados/banco-do-brasil-bbas3-resultados-segundo-trimestre-2024/
https://www.infomoney.com.br/mercados/santander-brasil-resultados-segundo-trimestre-2024/
https://valorinveste.globo.com/mercados/renda-variavel/empresas/noticia/2024/08/05/lucro-do-bradesco-bbdc3-bbdc4-vem-acima-do-esperado-no-2o-trimestre-hora-de-comprar-acoes.ghtml
https://www.serasa.com.br/limpa-nome-online/blog/mapa-da-inadimplencia-e-renogociacao-de-dividas-no-brasil/
https://www.gov.br/fazenda/pt-br/assuntos/noticias/2024/maio/desenrola-brasil-encerra-com-beneficio-a-mais-de-15-milhoes-de-pessoas-e-reducao-da-inadimplencia-entre-a-populacao-mais-vulneravel-do-pais
https://www.gov.br/secom/pt-br/assuntos/noticias/2024/07/exportacoes-do-agronegocio-brasileiro-atingem-us-15-20-bi-em-junho-e-us-82-39-bi-no-semestre
https://www.gov.br/mdic/pt-br/assuntos/noticias/2024/agosto/exportacoes-brasileiras-batem-recorde-em-julho-e-no-acumulado-do-ano
https://www.exchange-rates.org/pt/historico/usd-brl
https://mises.org.br/article/1087/falando-claramente-sobre-balanca-comercial-investimento-estrangeiro-e-cambio