Arqueólogo britânico critica ‘Sapiens’ como sendo um livro repleto de erros

Discordar do Libertarianismo, tudo bem, mas dizer que é uma ideia ingênua, chega a ser uma afronta.

Muitos leitores elogiaram bastante o livro Sapiens, de Yuval Noah Harari, talvez por citar as descobertas feitas em Göbekli Tepe, sua opinião sobre a Revolução agrícola ou pela sua forma descontraída de narrar a história. Realmente, são textos bem escritos, empolgantes de se ler, algo não muito encontrado em obras de cunho histórico.

Por se tratar de relatos que envolvem o desenvolvimento humano, citando fatos históricos, descobertas e pesquisas científicas, a princípio parece ser um compêndio completo sobre o desenvolvimento da humanidade, narrando acontecimentos desde a pré-história até a contemporaneidade.

Talvez o leitor, que não tenha muito conhecimento histórico e político, ávido por contemplar a opinião de alguém influente, possa se encantar com as ideias de Harari. Mas não é o que acontece com pessoas estudadas, com apreço pela leitura e pela busca por informações sobre como surgiram e se desenvolveram as sociedades, assim como pessoas que tenham conhecimentos em ecologia ou arqueologia.

A narrativa contida no livro levanta muita dúvida acerca de fatos e cronologia dos acontecimentos e, pasmem, não é difícil encontrar informações para se contrapor a “fatos” descritos no livro, bastando aliar curiosidade e uma busca simples em qualquer mecanismo de busca.

Dentre tantas críticas, destaca-se as dos escritores David Graeber e David Wengrow, em sua obra: Livro “O Despertar de Tudo”. Nela o autor faz duras críticas a best-sellers, incluindo ‘Sapiens’, do qual são levantadas uma série de exageros e meias verdades, na visão de Graeber e Wengrow.

As críticas são feitas a partir dos apontamentos de Harari, de como as sociedades evoluíram, incertezas sobre como foram feitos avanços e ao fato de citar, no livro, que um dos fatores da evolução humana é o fato de acreditarmos em coisas abstratas.

Em entrevista, o autor Wengrow, enfatiza a necessidade de historiadores se empenharem em rever escritos antigos, filtrar as narrativas, adaptar estas informações com descobertas recentes para, então, escreverem algo significativo. Certamente é um indicativo sobre as aberrações que Harari coloca em seu livro e vende como verdades absolutas.

Em vários capítulos de Sapiens, observam-se trocadilhos e piadas, proferidas pelo autor, em tese para dar um ar de descontração à leitura. Talvez, isso tenha agradado uma parcela significativa dos leitores não muito preocupados em investigar os fatos descritos, confiando no trabalho de um doutor em história. Afinal, atribui-se a um pesquisador seriedade e imparcialidade em um trabalho de pesquisa bibliográfica, uma vez que servirá de fonte de consulta para tantos outros que tiverem contato com sua obra.

O fato é que Harari não é arqueologista, mas o leitor não tem esta informação. Não que para investigar e redigir sobre fatos necessite-se dessa formação em si, mas afirmar fatos sem os apontamentos e vender como verdades e ainda querer dissuadir incautos, soa como as ideias marxistas de incutir no subconsciente aquilo que se quer que as pessoas passem a pensar como sendo uma possibilidade real.

Mas aos olhos atentos de historiadores e arqueólogos, não passaram despercebidos os exageros e meias verdades de alguém que narra a história de forma enviesada e em muitas situações, referenciando a si mesmo, o que por si só, já denota uma profunda demonstração de querer plantar narrativa.

Encontramos pela internet, uma série de artigos concordando com a visão de Graeber e Wengrow, dentre as quais destaca-se “Sapiens não é uma breve história da humanidade”, no site "arqueologiaeprehistoria.com" publicado por Victor Guida, no qual o autor critica com evidências, as posições não tão bem acertadas de Harari, enfatizando que ao invés de contar a história da humanidade, o livro, sim, a distorce.

Segundo evidencia com referências, o artigo de Victor, aponta erros históricos de Harari, cometidos por desconhecimento ou distorções de fatos comentados, mas não aprofundados, dando uma narrativa enviesada, demonstrando uma profunda admiração às práticas colonizadoras europeias.

Graeber e Wengrow fazem comentários sobre o livre mercado, deixando clara sua posição contrária ao socialismo, sistema este que por si só demonstra sua não eficácia social. Não cita diretamente a opinião de Harari , que desfere duras críticas infundadas ao Libertarianismo no capítulo "O culto ao livre mercado".

Harari chega a ser ofensivo e leviano à ideologia libertária quando diz no capítulo 16: "...em sua forma extrema, a crença no livre mercado é tão ingênua quanto a crença no Papai Noel. Simplesmente não existe um mercado completamente isento de interesses políticos."

Para quem não tem nenhuma opinião formada sobre sistemas de governo, e se encanta com uma obra como a de Harari, certamente irá concordar com suas falas. Mas para quem é Libertário, fica claro suas opiniões centralizadas, enviesadas, alternando entre capitalismo e socialismo, deixando o leitor em dúvida quanto à sua posição de criticar ou elogiar uma ou outra visão econômica.

Além de depreciar as ideias libertárias, o autor direciona o leitor ao seu propósito capitalista/colonizador levando o público sem opinião a valorizar algo dito por um “estudioso”, em detrimento a um ideal com fortes argumentos.

Harari coloca as ideias libertárias como algo incapaz de resolver problemas graves da sociedade humana. Um libertário compreende que não é utopia, embora a humanidade precise de muito empenho e vontade de mudar e proceder uma considerável alteração no paradigma social atual.

A discussão não gira em torno de estarmos certos ou errados, e sim de se colocar a inteligência a favor do desenvolvimento. Algo que não é nem de longe vislumbrado nas sociedades atuais, cujo direcionamento é manter uma cultura de chegar ao poder, não querer mais sair e tentar eliminar todos os que pensam o contrário.

Ingênuo, é o indivíduo que ainda acha que um monte de engravatados reunidos em um determinado local vai se preocupar com a maioria, uma vez que a história mostra que toda vez que agrupamentos políticos se alternam no poder, o único objetivo é continuar lá, tentando a todo custo se manter e derrubar opiniões contrária.

A narrativa contida em Sapiens, de tentar menosprezar o libertarianismo, não se sustenta, assim como outros argumentos de cunho enviesado do autor ao colonialismo europeu. Fato que fica bem explícito em alguns capítulos do referido livro, ao enaltecer tal prática, algumas vezes de forma direta e em outras de forma subliminar.

De certa forma, vai funcionar até com efeito contrário, para mentes brilhantes e descontentes com tantos desvios e posições, que perguntarão: por que será que Harari, com tanto conhecimento histórico não percebeu que ao invés de enaltecer grupos preocupados apenas com seus bolsos, deveria defender uma ideologia que prega liberdade de mercado?

Espera-se que sua tentativa de depreciar o libertarianismo, tenha efeito contrário, a ponto de se arrepender de ter citado a ideia em sua obra e feito uma relativa propaganda. Seria bem interessante saber que muitos despertaram para a causa libertária a partir de perceber a gafe do autor.

Já que o livro virou um best seller, espera-se que seus erros grosseiros levem os leitores a se indagar a respeito do que o autor menosprezou e a se questionar sobre sua posição dúbia entre capitalismo e comunismo. Assim, despertando a curiosidade em avaliar o que vem a ser a posição de quem defende o livre mercado e a liberdade de escolher o que deve fazer com seus recursos. Ao invés de somente serem roubados pelo estado, que usurpa seus salários dizendo que vai retribuir em saúde, lazer, segurança e tantas outras promessas não cumpridas.


Referências:

https://arqueologiaeprehistoria.com/2023/03/12/sapiens-nao-e-uma-breve-historia-da-humanidade/