A polonesa que SALVOU 2500 CRIANÇAS do HOLOCAUSTO

Nos tempos de crise moral, guerras e perseguições injustas, algumas pessoas de espírito nobre se destacam e mudam a vida de outras milhares. Este é o caso da polonesa Irena Sendler, uma mulher que salvou judeus no Gueto de Varsóvia.

A heroína se chamava Irena Sendler, e nasceu em 15 de fevereiro de 1910 na Polônia. Sendo filha única, a sua família sempre manteve boas relações com a comunidade judaica de onde moravam. Seu pai foi um médico e professor de medicina chamado Stanislaw Kryzanowski, sua mãe se chamava Janina Karolina Sendler. Sua família tinha uma tradição de atuar em atividades médicas e educacionais, e esses valores e ensinamentos foram fundamentais para moldar o caráter e a visão da vida da futura mulher que arriscaria a vida para salvar milhares de pessoas.

Após a invasão alemã da Polônia, em setembro de 1939, e a rápida vitória do então poderoso exército nazista, juntamente com o auxílio das forças soviéticas do leste do território, rapidamente o exército polonês teve que se render. Durante essa cruel ocupação, quando os alemães começaram a perseguir judeus e a implementar suas leis de segregação racial, a jovem Irena atuava como assistente social na Polônia, na cidade de Varsóvia. Ela trabalhava com enfermeiras, e ajudava a preparar refeições para os mais pobres num país destruído pela guerra.

Sem se preocupar com religião, nacionalidade ou mesmo a condição financeira da pessoa, Irena fora ensinada pelos seus pais que essas características pouco importavam na hora de salvar vidas. Ela consegue manter seu emprego durante a ocupação, e com a construção do terrível Gueto de Varsóvia, em 1940, consegue autorização para frequentar o local para verificar se as pessoas que viviam no gueto tinham contraído tifo. Logo, o Gueto ficaria superpopuloso e com péssima condição de vida e higiene, as pessoas confinadas lá dentro passariam por fome e todo tipo de sofrimento que se possa imaginar. As deportações em massa eram comuns, e o destino eram os desumanos campos de extermínios. Mas o medo dos alemães era que as doenças, como o Tifo, se tornassem uma epidemia que também os atingisse.

Devido às injustiças e brutalidades da ocupação alemã, tão logo surgiriam movimentos de resistência, e na Polônia surgiram os maiores grupos anti-nazistas dentre os diversos países ocupados pelas forças do Terceiro Reich. A jovem Irena filiou-se à Zegota, que foi um conselho oficial polonês para resgatar judeus. Assim, ela conseguiu se tornar líder de uma divisão que cuidava de crianças, cujo codinome era Jolanta.

Como uma tática de infiltração nos Guetos, Irena colocava em seu braço a faixa com a estrela de Davi, tanto para mostrar solidariedade aos judeus quanto para não atrair a atenção dos soldados alemães. Dessa forma, ela conseguiu resgatar várias crianças desses locais e fornecia a elas identidades falsificadas, uma forma de impedir que fossem segregadas e fossem vítimas da terrível perseguição nazista. Entre os destinos dessas vulneráveis crianças judias estavam casas de famílias interessadas em adotá-las, além de orfanatos e alguns conventos católicos. Mas Irena também guardava listas com as identidades verdadeiras dessas crianças, para devolvê-las a suas famílias biológicas, caso os alemães fossem derrotados e a Polônia se libertasse dessa ocupação.

Tudo o que Irena e outros heróis fizeram naquele período sombrio representava um verdadeiro risco de vida, e caso as autoridades alemãs identificassem os membros da resistência polonesa, a prisão e até a morte eram certas. Num dos piores anos da guerra e da ocupação alemã, em 1943, a polícia secreta nazista, a Gestapo, já vinha investigando as atividades de Irena e outros colaboradores, foi quando a prenderam. A corajosa mulher, mesmo sob violenta tortura, não revelou nada do que vinha fazendo, não citando nem mesmo um único nome dos pequenos que ela salvara. A consequência de sua valentia e por ter desrespeitado as ilegítimas leis do governo alemão, foi que ela seria condenada à morte por fuzilamento.

Algo inesperado iria acontecer no dia de sua execução, que permitiria que sua vida fosse salva por muito pouco. Segundo relatos, um dos guardas teria sido subornado pela Zegota, e alegando uma desculpa de que precisava fazer novas perguntas à Irena, mandou-a fugir do local. Assim, a jovem polonesa passa a ser dada como morta, mas sob uma nova identidade, ao invés de fugir para longe, ela continuou o trabalho de salvar as crianças do terror nazista.

Felizmente, após várias derrotas, sobretudo na cidade soviética de Stalingrado e no Norte da África, os exércitos alemães estavam ficando sem recursos e com baixa moral. As dificuldades e a sensação de derrotismo só cresciam, ainda mais com a entrada dos americanos na guerra. A Polônia foi libertada pelo exército soviético em fins de janeiro de 1945, e quando a guerra terminou na Europa alguns meses depois da libertação polonesa, a jovem Irena continuou trabalhando como ativista. Claro, nem tudo são flores com o fim do conflito, afinal, o povo polonês seria agora vítima de outra tirania, não muito diferente da nazista, sob o comando de Josef Stalin. A opressão comunista, a censura e a pobreza iriam reinar em território polonês e as coisas não melhoraram muito. Novas políticas autoritárias foram implementadas e a Polônia viveu separada do mundo pela Cortina de Ferro. Isso, no entanto, é assunto para outro vídeo.

A atuação corajosa e nobre de Irena iriam continuar em segredo após algumas décadas, sobretudo fora da Polônia. O regime comunista que imperou no território polonês sequer reconheceu publicamente as realizações dessa mulher, e ela passaria por um período de marginalização. Mas foi em 1965 que ela recebeu a honra de ‘Justa Entre as Nações’, pelo Instituto Yad Vashem, em Israel. Esse título é dado àqueles indivíduos que, mesmo não sendo judeus, arriscaram suas vidas para salvar os judeus durante o Holocausto.

No final do século XX, especialmente na década de 90, um grupo de estudantes americanos descobriu informações sobre o trabalho de Sendler, que se tornaria um projeto sob o nome de “Life in a Jar” (Vida em um Pote), que tinha como objetivo destacar seus atos heroicos. Esse trabalho de várias jovens americanas trouxe de volta o nome de Irena e sua história para o conhecimento de muitos ocidentais. Alguns anos depois, em 2007, ela foi indicada para o Prêmio Nobel da Paz, e isso a fez receber enorme atenção da comunidade internacional, fazendo seu caso repercutir em vários locais. Apesar de não ter recebido o prêmio, que de fato ela merecia, sua bela história se tornou uma fonte de inspiração para milhares de pessoas em todo o mundo. Em 2008, já com seus 98 anos de idade, ela acabou falecendo no dia 12 de maio, mas a polonesa deixou a todos nós belas lições de compaixão, coragem e amor à liberdade alheia.

Ela teria afirmado, lembrando das suas ações no Gueto de Varsóvia:
"Fui criada para acreditar que uma pessoa deve ser resgatada quando se afogar, independentemente da religião e nacionalidade. O termo 'herói' me irrita muito - o oposto é verdadeiro - continuo a ter dores de consciência que eu fiz tão pouco."

Analisando o caso de resistência e bravura da polonesa sob a ótica libertária, alguns podem argumentar que do ponto de vista ético, ela não tinha obrigação de fazer o que fez. Ela poderia viver sua vida quieta, segura e não se arriscar tanto, afinal, ela não estaria fazendo mal a ninguém, apenas evitando correr risco de vida. De fato, ela não era nazista e nem colaboradora do regime, além de não ter culpa do que estava acontecendo – tanto da guerra quanto das perseguições. Mas devemos admitir que suas ações exigiram muita coragem e ela poderia ser morta a qualquer momento, e tudo isso porque ela fora ensina pelo seu pai que aquilo era o certo a se fazer, a vida alheia importava.

A grande lição que podemos adquirir com sua história é que se quisermos viver numa sociedade mais livre e virtuosa, todos temos a responsabilidade de agir corretamente, lutar pela justiça mesmo que não sejamos a vítima do momento. Nossas ações ecoam na eternidade e com certeza as milhares de pessoas salvas por Irena não teriam toda uma história de vida e uma oportunidade de transformar positivamente o mundo, sem a coragem dessa mulher. Imagine, por exemplo, se uma das pessoas que ela salvou se tornou um brilhante médico, ou um empresário que além de empregar pessoas e gerar valor no mercado, pratica filantropia? Esses são questionamentos que não podemos perder de vista – todo ser humano inocente importa. Não podemos negar que as ações que fazemos longe dos holofotes mostram nosso verdadeiro caráter, e se quisermos que alguém se sacrifique por nós, por que não podemos fazer o mesmo?

O caso dessa heroína nos prova que uma única pessoa pode fazer diferença na vida de muita gente, e como basta ter virtudes e valores morais para você mudar o mundo para melhor. Sua história nos mostra também que todos temos escolhas e responsabilidades por nossos atos, e que não há desculpas para omissões ou acreditar que o crime quando normalizado pode ser algo moral. Seu legado revela que apesar da humanidade ter passado por momentos sombrios, e ainda passa, a coragem e a desobediência a leis injustas são uma forma de resistir à tirania e lutar por liberdade. Não à toa, essa nobre mulher seria reconhecida como ‘O Anjo de Varsóvia’. Para maratonar o nosso conteúdo e ver vídeos semelhantes, deixamos como recomendação os vídeos “O ANJO de BUDAPESTE que SALVOU MILHARES de pessoas”, e “BONS HOMENS não seguem LEIS MÁS: A história do PIANISTA”, links disponíveis na descrição.

Enfim, é de grande valor refletir sobre a seguinte declaração atribuída a Irena Sendler:
"Após a Segunda Guerra Mundial, parecia que a humanidade entendeu algo, e nada disso aconteceria novamente. A humanidade não entendeu nada. Guerras religiosas, tribais, nacionais, continuam. O mundo continua a estar em um mar de sangue. O mundo pode ser melhor se houver amor, tolerância e humildade."

Referências:

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-de-irena-sendler-polonesa-que-salvou-mais-de-2500-criancas-judias-do-holocausto.phtml
https://frasesinspiradoras.net/irena-sendler/frase/965998

Visão Libertária - BONS HOMENS não seguem LEIS MÁS: A história do PIANISTA:
https://youtu.be/warctEJzKKY
Visão Libertária - O ANJO de BUDAPESTE que SALVOU MILHARES de pessoas:
https://youtu.be/2PYx6vdZNZo

A História de Irena Sendler:
https://www.youtube.com/watch?v=ReFfugp6eMg