A Globo Precisa Aprender

E a Globo veio mais uma vez para mostrar que o fundo do poço é eufemismo!

Já não é de hoje que a Rede Globo vem perdendo audiência consistentemente. A cada dia, a emissora sai mais da rotina da maioria da população - mas ela não vai deixar ir barato, se puder. Uma prova disso é o esforço colossal que ela faz para manter a novela Fuzuê na boca do povo, investindo rios de dinheiro em anúncios e outros meios de mitigar os danos.

A atual novela das sete, Fuzuê, é o lançamento deste ano para ocupar parte do quadro noturno da Globo. Ela é escrita por Gustavo Reiz, autor de "Os Ricos Também Choram," "Belaventura" e do sucesso "Escrava Mãe". A novela também conta com atrizes reconhecidas nos papéis principais. Nomes como Marina Ruy Barbosa, Lília Cabral e Olívia Araújo chamam a atenção no elenco.

Já o enredo conta a história de uma voluntária humilde, uma busca ao tesouro escondido, e o vilão é um malvado casal empresário. Não é preciso dizer que foi um fiasco histórico de recepção da audiência por diversos motivos, tanto de trama quanto de personagens chamativos.

Inicialmente, a recepção foi positiva, com comentários e análises espalhadas nas redes. Mas, conforme mais se afastava do dia da estreia, o número de interações caía junto. Os comentários na internet foram diminuindo quanto mais capítulos são transmitidos, antes de estabilizar numa média baixa. Tal situação causou comoção nos bastidores, com movimentações internas para entender o que houve e como resolver.

No IBOPE, o índice que representa quantos espectadores uma transmissão possui, a novela mediu 24,3 pontos na estreia, no que deveria ser o início da recuperação da emissora - o que foi superior às três últimas estreias, desde 2020. A visão interna era de um futuro brilhante, com críticas altamente positivas, as quais indicavam que havia sido um sucesso.

Em um horário dos mais valiosos, isso é um bom sinal, porém foi trocado por um sinal bem mais preocupante. Porquanto, em 23 de setembro deste ano, a novela conseguiu a proeza de marcar menos de 18 pontos no pico e bem menos na mínima. Para comparação, esse número está mais perto do maior fracasso do horário, a novela "Geração Brasil," de 2014, do que da novela anterior.

Desde então, a novela das sete não conseguiu se recuperar. Nem mesmo a colunista do jornal O Globo, Patrícia Kogut, pôde fugir de expressar sua opinião, inicialmente elogiando pela ousadia da novela. Entretanto, a verdade é que a emissora já estuda acelerar a trama com medo do fracasso, com mudanças de postura em vários personagens. Além disso, já trouxeram reforços de direção para tentar corrigir a lambança feita, numa contenção do desastre.

Segundo dados do Google Trends, uma ferramenta de análise de quantas vezes um termo foi procurado, o nome da novela Fuzuê possui taxas de pesquisas aproximadas a zero, um número incomparável à estreia - ainda mais considerando que, oficialmente, a emissora nega que exista uma crise nos bastidores da novela das sete. A falta de relevância da novela é escancarada, e nem mesmo nas ruas a novela é comentada.

No desespero, os autores fizeram coisas inimagináveis para a emissora. Eles precisaram fazer o personagem Merreca, interpretado por Ruan Aguiar, deixar aos poucos a bandidagem, devido aos apelos populares. Os espectadores não gostavam de algumas características anteriores do personagem.

Porém esses problemas não são só dessa novela. Todos os últimos lançamentos da Globo não alcançaram o mesmo destaque do período de auge, anterior ao do lockdown. O que eles não entendem é que não é com mais marketing e mudanças simples que irão resolver a queda do IBOPE da novela. Não, não entra na mente dessa grande mídia que com as informações descentralizadas outras alternativas nasceram.

Novelas de vários países são lançadas direto para Youtube ou canais gratuitos alternativos, gratuitamente. Sites fornecem milhares de conteúdos com apenas alguns cliques. E isso sem tentar passar uma moral retorcida, visões políticas ou não seguindo a vontade popular. Como um estatista diria, são verdadeiramente democráticos e não forçando apenas um conteúdo para todos verem.

Principalmente porque, hoje em dia, a tendência está favorecendo produções de menores custos e não com esses atores renomados com cachês astronômicos. Justamente por isso, a onda de remakes e relançamentos de novelas vem sendo a solução adotada pela Globo para cortar custos. Contudo, nem os "especialistas" conseguem predizer o quão daninho será ao mercado de atuação brasileiro.

A novela "Pantanal", que fez sucesso no passado e atualmente, não foi a única escolha a ressurgir nos últimos anos. Obras que marcaram gerações são resgatadas, puxando o saudosismo como arma, porém nem assim os números vêm melhorando o suficiente. É como se uma construtora vivesse reciclando modelos antigos de residência: pode funcionar no curto prazo, no entanto, logo seria ultrapassada e esquecida.

Essa quantia anormal de relançamentos ilustra bem a crise que a televisão aberta passa como um todo diante do avanço dos streamings. A grande mídia não para de buscar meios de parar o movimento natural de migração dos espectadores.

Por causa disso, a Rede Globo aposta forte no próprio streaming para concorrer e manter o espaço dela na mídia e jantares do povo brasileiro. Outros ataques aos streamings são feitos todos os dias, como medidas desesperadas de uma rede decadente. As tentativas de atacar um espantalho, com o controle de fake news e a procura por leis monopolistas em parceria com o Estado, deixam claro que a descentralização está minando o alcance da emissora.

Isto é positivo, haja vista que é o mercado se regulando normalmente. Mas as tentativas de resistir não acabarão em um único dia, já que seguem tendo apoio de leis financiadas por imposto como a lei Rouanet e outros projetos pagos com o dinheiro dos contribuintes que, muitas vezes, discordariam. As ideias passadas nas novelas e propagandas não abarcam o desejo do espectador, que deixa de se sentir interessado nessas obras.

A indústria televisiva enfrenta desafios sem precedentes com a mudança de paradigma no consumo de entretenimento. A preferência crescente por produções de menor custo e a crescente concorrência dos serviços de streaming estão forçando a Rede Globo a se adaptar e a repensar sua estratégia. Embora a aposta em remakes e relançamentos de novelas busque uma saída para os custos elevados, os resultados até agora têm sido insuficientes para conter a queda da audiência. O cenário atual sugere que a mídia tradicional está em um momento de transição, e a busca por alternativas é fundamental para sobreviver nesse ambiente em constante evolução. A descentralização e a diversificação de conteúdo oferecem novas oportunidades, e a resposta da emissora dependerá da sua capacidade de se adaptar a esse novo panorama e atender às demandas do público. O que a Globo irá fazer?

Referências:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Fuzuê#
https://veja.abril.com.br/coluna/tela-plana/a-tabua-de-salvacao-da-globo-para-tirar-fuzue-do-limbo-no-ibope
https://veja.abril.com.br/coluna/veja-gente/a-solucao-da-tv-globo-para-a-grande-crise-sem-precedentes-que-enfrenta
https://www.marcoaureliodeca.com.br/2023/08/14/com-queda-na-audiencia-rede-globo-e-afiliadas-iniciam-campanha-em-busca-de-espectadores/