Escola da Tailândia tem muito a ensinar ao MEC e seu fracassado ENEM

Escola Mecchai Pattana, na Tailândia, modelo educacional revolucionário, que promove a liberdade dos estudantes e transforma o conceito tradicional de ensino.

Não é de hoje que há um crescente desinteresse entre os mais jovens em relação a escola e ao ensino básico. Esse ano tivemos uma grande queda nas inscrições para o ENEM, que precisou ter suas inscrições prorrogadas no fim do mes de junho, e a queda já acumula mais de 45% nos últimos 10 anos. Isso evidencia as falhas do sistema estatal de educação brasileiro.

O MEC, com seu padrão centralizador e estatista, tem se mostrado ineficaz em melhorar a educação no país. Como libertários, somos obrigados a reconhecer que a qualidade educacional emerge da liberdade e da diversidade de métodos, como exemplificado pela Escola Bamboo na Tailândia. Essa escola oferece uma abordagem alternativa que capacita os alunos a serem protagonistas de sua própria educação, em contraste com o sistema rigidamente controlado do MEC.

A Chamada Mecchai Pattana, também conhecida como Escola Bamboo, entrega um sistema de educação onde os alunos assumem responsabilidades que normalmente seriam de adultos. A escola tem 10 subcomitês, e os alunos podem escolher em quais participar. Entre os comitês estão o de disciplina, cultivo de hortaliças, admissões e compras.

A Escola Bamboo foi fundada pelo ativista social e político Mechai Viravaidya, conhecido na Tailândia como o "Capitão Camisinha", pois nos anos 1970, ele promoveu em uma grande campanha uso de preservativos em meio a altas taxas de natalidade e ao surgimento da AIDS.

Antes de prosseguirmos, é importante introduzir um pouco da história política da Tailândia. A história do comunismo na Tailândia é marcada por uma longa insurgência que durou de 1965 a 1983. O Partido Comunista da Tailândia (CPT) foi fundado no final da década de 1920 e se alinhou ideologicamente com o Maoísmo, recebendo apoio da China e do Vietnã durante a Guerra Fria. Nos anos 1960, o CPT começou a organizar células locais e treinar voluntários em técnicas de guerrilha. Em 1965, a insurgência comunista se intensificou, com militantes atacando forças de segurança tailandesas e expandindo suas operações para várias regiões do norte e nordeste do país.

Durante a década de 1970, a insurgência atingiu seu auge, especialmente após o massacre na Universidade Thammasat em 1976, que aumentou o apoio ao CPT entre estudantes e intelectuais. Apesar do apoio da logísitico da China e Vietnã e do aumento de capital em geral, o governo Tailandês conseguiu reprimir usando de extrema violência. Com a repressão do governo e a falta de apoio externo o CPT abandonou a luta armada, em 1983.

A trajetória do comunismo na Tailândia é um reflexo das complexas dinâmicas políticas e sociais do Sudeste Asiático durante a Guerra Fria, influenciada por fatores internos e externos, incluindo as políticas anticomunistas do governo tailandês e a geopolítica regional. Agora, 41 anos depois, a Tailândia tem demonstrado que a ação humana e o espírito empreendedor são forças motrizes na reconstrução de um país. Iniciativas privadas e comunitárias têm sido essenciais para superar os legados negativos do comunismo, mostrando que não é apenas o governo, mas as pessoas que impulsionam a verdadeira mudança.

A Tailândia também enfrenta desafios econômicos e sociais que impactam o desenvolvimento e crescimento do país a décadas. A dívida das famílias, desigualdades de renda e mudanças na dinâmica econômica global afetam a capacidade do país de sustentar seus programas de saúde pública, incluindo os relacionados ao HIV/AIDS. Diante desses cenários difíceis, a Mechai Viravaidya Foundation foi fundada.

Mechai Viravaidya, o homem por traz da escola, começou a trabalhar em 1966 com planejamento familiar, enfatizando o uso de preservativos. Em 1973, ele deixou o serviço público e fundou uma organização sem fins lucrativos, a Associação de Desenvolvimento Populacional e Comunitário (PDA), para continuar seus esforços em melhorar a vida dos pobres rurais. Ele utilizou eventos como concursos de soprar preservativos para crianças, incentivou taxistas a distribuir preservativos para seus clientes e fundou uma cadeia de restaurantes chamada Cabbages and Condoms, onde preservativos eram entregues aos clientes junto com a conta. Ele conseguiu iniciar uma grande e bem-sucedida campanha de educação sobre a AIDS e atuou até 1992.

Ele fundou a escola Mecchai Pattana há 15 anos com o objetivo de formar indivíduos "bons, decentes, honestos, dispostos a compartilhar e que saibam resolver problemas". Ele continua envolvido com a escola e, através de uma instituição beneficente, fornece os fundos necessários para seu funcionamento.

Esta escola é uma das mais sustentáveis do mundo já que eles possuem a maior cúpula de bambu do mundo, reciclam seus resíduos, utilizam células solares, têm sua própria fazenda entre outras coisas. Estudar nesta escola é viver o livre mercado puro e simples. Nela os alunos e pais podem pagar as mensalidades por meio de escambo ao plantar árvores. Ao longo dos anos, mais de 1,2 milhão de árvores foram plantadas pela Escola Bamboo.

A cúpula de bambus, que dá nome a escola, tem 30 metros de diâmetro e é a maior cúpula do mundo feita de bambu. Até mesmo cada sala de aula é feita de bambu. As placas solares, quando combinadas, reduzem pelo menos 800 dólares das contas de eletricidade. Os alunos aprendem sobre energia solar e aprendem a cuidar da própria área.

Eles ensinam tudo sobre agricultura e também como ser responsáveis com o meio ambiente. O fato de o mundo estar tão confuso os obriga a ensinar não apenas na teoria, mas em questões práticas, realizando atividades ambientais ativamente na escola.

Toda semana, os alunos trazem o que aprenderam em sala de aula e se juntam aos pais para retribuir à comunidade. A cada cem baht doados, aproximadamente 15 reais, uma árvore é plantada pela escola. Além de plantar árvores, todos os alunos praticam agricultura orgânica todos os dias.

As benfeitorias da escola não se resumem a propriedade dela, a Mecchai Pattana faz questão de aplicar seus conhecimentos em agricultura e meio ambiente para ajudar templos, comunidades e até hospitais. Em uma entrevista, Mechai Viravaidya afirmou que há uma grande necessidade nas áreas rurais de aumentar a renda. Muito do desenvolvimento econômico que ocorreu na Tailândia está concentrado em Bangkok.

Uma escola deve ser um centro de aprendizagem ao longo da vida para todos, deve ser um lugar para avançar e se desenvolver no futuro. Não há um lugar melhor para ajudar as crianças ou a comunidade do que uma escola. A escola é o lugar perfeito para que cada aluno possa desenvolver suas habilidades de maior aptidão e sua forma individual de aprendizado.

Na Escola Bamboo os estudantes administram a escola por meio de subcomitês, que tomam decisões sobre diversas áreas, como disciplina, orçamento e admissões. Essas decisões são aprovadas pela direção da escola, garantindo que os alunos tenham voz em questões que os afetam diretamente. A escola, embora tenha a obrigação de seguir o currículo nacional e realizar exames nacionais, é radical em outros aspectos. Uma aluna do subcomitê de auditoria, que revisa as compras feitas pelo subcomitê de compras, explicou que o trabalho lhe ensinou contabilidade e aprimorou suas habilidades de liderança. O subcomitê de admissões também se destaca, avaliando candidatos e destacando a motivação deles para aprender e experimentar coisas novas.

A escola não cobra matrícula e acolhe muitos alunos de famílias de baixa renda e até mesmo "sem nacionalidade", como Kim, que se sente bem-vinda e desenvolve habilidades para a vida e carreira. As decisões dos subcomitês passam pelo Conselho Estudantil e pela direção da escola. Decisões sérias, como suspensões ou expulsões, são tomadas com orientação dos professores.

A escola Bamboo recebeu atenção internacional, inclusive da ONU e do ex-primeiro-ministro tailandês Prayut Chan-o-cha. A escola funciona como duas câmaras legislativas, com alunos tomando decisões e a administração garantindo sua execução. O senso de responsabilidade e a ideia de que o trabalho torna as pessoas melhores são motivadores para os alunos da escola Bamboo.

Um dos mais antigos pensadores anti governo, Max Stirner, em sua obra "O Falso Princípio da Nossa Educação", critica veementemente o sistema educacional estatal, argumentando que ele sufoca a individualidade e a criatividade dos alunos ao impor um modelo padronizado e autoritário de ensino. Stirner defende que a verdadeira educação deve ser livre de qualquer controle estatal, permitindo que os indivíduos aprendam e ensinem de acordo com seus interesses e necessidades pessoais.

Para o autor, a educação deve ser um processo emancipador que valorize a individualidade e a autoexpressão, permitindo que cada pessoa desenvolva plenamente seu potencial único sem as amarras de um currículo centralizado e coercitivo. Stirner foi colega de Karl Marx e Engels em seu período de estudante universitário e a sua vida acadêmica se resumia em refutar os dois de todas as formas possíveis.

Reconstruir um país após a devastação causada por um regime comunista apresenta inúmeros desafios. O colapso de um sistema centralizado e repressivo muitas vezes deixa a sociedade fragmentada, com instituições enfraquecidas e uma economia em ruínas. A transição para um modelo de livre mercado exige não apenas reformas estruturais, mas também uma mudança de mentalidade entre a população, que deve aprender a navegar em um ambiente de competição e inovação.

A ação humana, aliada ao livre mercado na educação, é a chave para essa transformação. Pessoas como Mechai Viravaidya demonstram que iniciativas locais e comunitárias podem ter um impacto significativo na revitalização social de um local. Projetos que incentivam a responsabilidade individual, a sustentabilidade e o engajamento comunitário criam uma base sólida para o desenvolvimento. A educação desempenha um papel fundamental nesse processo, capacitando indivíduos a participar ativamente da economia e da sociedade de forma informada e crítica. Ao investir na formação de cidadãos conscientes e responsáveis, não apenas se promove o crescimento econômico, mas também se constrói uma sociedade mais justa e resiliente.

Referências:

- [Mechai Viravaidya - Wikipedia](https://en.wikipedia.org/wiki/Mechai_Viravaidya)
- [Communist insurgency in Thailand - Wikipedia](https://en.wikipedia.org/wiki/Communist_insurgency_in_Thailand)
- [The Hmong and the Communist Party of Thailand](https://www.cambridge.org/core/journals/trans-trans-regional-and-national-studies-of-southeast-asia/article/abs/hmong-and-the-communist-party-of-thailand-a-transnational-transcultural-and-genderrelationstransforming-experience/9B935CC284B517C82B23B642EB15B5EF)
- [Mechai Viravaidya on YouTube](https://www.youtube.com/watch?v=EHu6fBnTS4o)
- [Communist Party of Thailand - Britannica](https://www.britannica.com/topic/Communist-Party-of-Thailand)