Pesquisa mostra que americanos rejeitam a Constituição e preferem a violência

Independentemente da sociedade e do tempo histórico, quando a justiça está morta, e a população não é ouvida, a violência toma o seu lugar.

Uma pesquisa feita nos Estados Unidos mostrou que os americanos perderam a fé no sistema constitucional do país, aceitando a violência como solução justificada para silenciar aqueles com pontos de vista opostos. Muitos questionam, inclusive, se o sistema democrático é realmente sustentável para o governo. A perda da fé na constituição e na fidelidade das entidades governamentais mostra uma das maiores crises que a nação americana enfrenta desde sua fundação.

A pesquisa foi conduzida pelo Centro de Política da Universidade da Virgínia e confirma a realidade de que os Estados Unidos está em uma guerra interna. 52% dos que votaram no Biden acreditam que os republicanos são uma ameaça aos próprios americanos, enquanto 47% dos que votaram no Trump possuem essa mesma visão dos democratas. Além disso, 41% do que votaram no velho cheirador de cangotes disseram que a violência é justificada quando usada para impedir os republicanos de alcançarem seus objetivos, enquanto 38% dos apoiadores do cara laranja e topete amarelo concordam com o uso da violência para pararem os democratas.

Analisando os dados, não é surpresa nenhuma ver que os americanos realmente perderam a fé na democracia. 31% dos trumpistas e 24% dos bidenistas concordam que o governo deveria explorar formas alternativas de governo, que no caso seria um tipo de totalitarismo. A fé no governo é a única coisa que mantém o estado e suas entidades de pé. Sem ela, a constituição e as autoridades simplesmente não possuem poder e valor. Mas se você pensa que isso está acontecendo somente agora, está muito enganado. A muito tempo vem-se observando essa perda de fé no sistema atual, que é alimentada principalmente pelas elites intelectuais e políticas do país.

Além disso, as pessoas são bombardeadas constantemente com comentaristas e jornalistas dizendo que a Constituição dos Estados Unidos é um lixo, salientando que a sociedade deveria simplesmente descartá-la. Essa fala por exemplo é de uma comentarista da MSNBC. Entretanto, ela não é a única a tecer duros comentários sobre o assunto. Dois professores de direito, um de Harvard e outro da Universidade de Yale, organizações renomadas e conhecidas pelo alto nível de pessoas que formam, escreveram uma coluna no New York Times, intitulada: “A Constituição está quebrada e não deve ser consertada”. No texto, ambos apelam aos leitores que as leis magnas devem ser radicalmente alteradas, com o objetivo de recuperar os Estados Unidos do constitucionalismo. Uma professora da Faculdade de Direito da Universidade de Georgetown disse a MSNBC que os americanos tornaram-se escravos da constituição, sendo ela um problema para o país.

Essas pessoas podem parecer radicais para alguns, mas são apenas um exemplo do que se tornou a regra nas universidades, que está sendo amplamente abraçada pela mídia. Para eles, o problema não é apenas a constituição, mas o constitucionalismo como um todo. Agora, radicais mesmo, são aqueles que acham que as principais proteções e instituições deveriam ser apenas ignoradas. Um professor e cientista político da Universidade de São Francisco, disse em uma carta aberta ao presidente caduco para desafiar as decisões do STF americano caso as considere erradas em nome de um constitucionalismo popular. Para ele, a constituição deve ser praticada com liberdade de escolha de seu conteúdo, visando a conveniência e a oportunidade de sua prática. Assim sendo, se esse modelo for seguido, a constituição torna-se apenas um calhamaço de regras que podem ou não ser aceitas, de acordo com o que o governante acha que deve ser.

Mas não são apenas os doutos que contribuem com essa crise de fé na sopa de letrinhas mor da sociedade. A Deputada Alexandria Ocasio-Cortez a deputada dos democratas, questiona a necessidade de um STF. A Senadora Elizabeth Warren, também do partido de esquerda do Old Neck-Sniffer Biden, apelou para a capitulação do STF americano. Charles Schumer, senador, (adivinha de qual partido) também é contra a necessidade dessa tal Suprema Corte.

Mas não é só a esquerda que está dando uma camaçada de pau na Suprema Corte Americana. O próprio Trump denunciou severamente os seus oponentes políticos como traidores e inimigos do povo. Ele, recentemente, disse: “Se você for atrás de mim, eu irei atrás de você”! Com políticos, professores de universidades, funcionários de alto escalão e a mídia utilizando uma retórica para colocar como o inimigo do povo a Constituição, não é de se imaginar que a própria nação a veja como um problema e um erro.

Para aqueles que não a conhecem, a Constituição Americana foi escrita por James Madison, o quarto presidente dos Estados Unidos. Para muitos, ela é um pacto, não entre os cidadãos e o seu governo, mas entre os indivíduos. Um compromisso promove a defesa dos direitos por parte de cada cidadão, apesar das diferenças. Madison, sabia que as facções e partidos seriam um perigo, por isso, trouxe elas a luz, para que possam ser abordadas e discutidas. Ele sabia que se deixasse as incompatibilidades entre as pessoas na escuridão, cedo ou tarde, o solo americano estaria tão destruído como as ruas de Paris, devido as revoltas e conflitos entre as partes rivais. Por isso, a constituição americana não esconde aquilo que os separa, pelo contrário, permite que todos possam se expressar.

Esse ódio pela Constituição e Suprema Corte advém da população não se ver representada, e perceber cada vez mais que as leis são para o povo, e que os asseclas do governo são imunes à elas. Além disso, o judiciário legislar a bel prazer, ignorando a partição em três poderes, alterando aquilo que está escrito nas leis que regem o país, automaticamente, inflamam os nervos dos indivíduos. É o que temos aqui no Brasil. A esquerda reclama das canetadas do governo. Logicamente, bem menos do que a direita, por motivos óbvios. Mesmo assim, muitos ainda pensam que alguém deve tomar o poder e resolver o problema de uma vez, utilizando a violência contra o outro lado.

Isso apenas mostra uma coisa que estamos cansados de falar: a constituição é apenas uma mera sopa de letrinhas escritas em um guardanapo requintado, que ninguém aceitou seguir, mas que todo mundo é obrigado. Isso não faz o menor sentido, e vai de encontro com os três direitos dos indivíduos, a sua vida, liberdade e propriedade. A constituição, realmente não deveria existir. Ela deveria ser trocada por algo que realmente faz sentido, as leis privadas, que já são definidas, aceitas e seguidas pelas pessoas, em um ambiente limitado e fechado.

Perceba, antes de comprar um produto na Shein, Mercado Livre ou Shopee, é necessário que aceite os termos de uso do site. Assim como as políticas de comunidade quando usa o Twitter, Facebook ou Instagram. Caso faça algo contra as regras, ações são tomadas contra você, visando proteger a comunidade por meio da imposição das regras que foram aceitas ao utilizar o serviço. Isso acontece não apenas em um ambiente virtual, mas em locais físicos também. Ao morar em um condomínio, regras devem ser aceitas e seguidas. Ao adentrar em um ambiente como loja, igreja ou mesmo a casa de uma determinada pessoa, certas normas devem ser cumpridas. Na minha casa, por exemplo, ninguém entra com calçado. As pessoas devem retirá-los próximo a porta. Não quer retirar? Tudo bem. Dentro de casa você não entra.

O problema, portanto, tanto aqui, quanto nos Estados Unidos é este: imposição de regras que ninguém aceitou sob as pessoas que moram dentro de um local delimitado por linhas imaginárias definidas em consenso entre bandidos estacionários. Já imagino os nacionalistas falando: “Ora, se não gosta das leis daqui, pega suas coisas e se mude”. E irei pra onde? Em todos os lugares serei obrigado a estar sob um certo calhamaço de regras que não concordo, pois todos os locais possuem uma Constituição ou algo do tipo. Se uma sociedade aceitasse realmente os direitos naturais dos indivíduos, não teriam essas regras esdrúxulas. Teríamos tribunais com regras específicas que iriam interagir entre si para fornecer as leis e regras de convivência que fosse consensuais entre a sociedade que a aceitou. Regras que pessoas de todos os espectros políticos aceitem, garantindo assim a sua continuidade, permanência e aceitação pacífica. Diferente do que temos nos dias de hoje, no qual sociedades estão se tornando bárbaras, querendo sangue e morte, devido a não concordarem com o que foi escrito por um burocrata qualquer.

Referências:

https://centerforpolitics.org/crystalball/wp-content/uploads/2023/10/VoV-Presentation-FINAL.pdf

https://jonathanturley.org/2023/10/23/americas-crisis-of-faith-new-poll-reveals-more-americans-are-rejecting-the-constitution-and-embracing-violence/

https://archive.is/Z8V5t

https://www.foxnews.com/politics/aoc-backs-court-packing-push

https://jonathanturley.org/2021/12/16/destroying-the-court-to-save-it-warren-calls-for-packing-the-supreme-court-with-a-liberal-majority/