Nem mesmo o mais famoso profeta mirim do momento consegue escapar das garras do estado.
O Missionário Miguel Oliveira, como se intitula em suas redes sociais, mais conhecido na internet, contudo, como “Pastor Mirim”, ficou muito famoso, nos últimos tempos. O jovem rapaz, de apenas 15 anos, conquistou a internet - para o bem ou para o mal - com trechos de suas pregações que viralizaram nas redes. O destaque vai para aquele momento de “revelação” em que Miguel exibe seu conhecimento na língua inglesa - ou melhor, a falta deste, - ao pronunciar uma sequência de palavras que soam como “off the king the power the best”.
Ok, você pode questionar os métodos do jovem pregador - ou jovem enganador, se você assim preferir. É fato que todo o discurso do Miguel - desde a forma como ele fala, até mesmo seus gestos e, principalmente, o conteúdo de suas pregações - é bastante apelativo. De maneira geral, o “Pastor Mirim” é uma verdadeira miniatura do arquétipo do “pastor falastrão” - aquela criatura que nasceu no meio gospel brasileiro, e que já faz parte do folclore nacional.
Acontece que, ainda assim, Miguel Oliveira fez sucesso - muito sucesso. O adolescente tem uma quantidade considerável de seguidores - mais de 1 milhão, apenas no Instagram. Esse sucesso todo, sem dúvidas, traz consigo a possibilidade de um considerável retorno financeiro para o garoto. Especula-se que ele receba até R$ 30 mil para pregar em um único evento - embora não seja possível confirmar a veracidade dessa informação. Também não se descarta a possibilidade de que Miguel receba parte das ofertas dos cultos em que participa - prática que também já se tornou comum, entre pregadores famosos. Ou seja: ainda que os detalhes financeiros não sejam conhecidos, não é um absurdo imaginar que Miguel, hoje, ganhe dinheiro. Muito dinheiro.
E, como você bem sabe, quem ganha dinheiro no Brasil acaba incomodando o estado. Por isso, recentemente, o Conselho Tutelar impôs uma série de restrições à atuação do jovem missionário, após convocar os pais do garoto para uma reunião. Você conhece bem esse órgão estatal: é aquela instituição burocrática que faz vistas grossas para crianças fazendo coreografias eróticas com suas mães nas redes sociais ou sendo exploradas por seus pais funkeiros, através de músicas obscenas e falsetes desafinados. Mas, quando o assunto são jovens ganhando dinheiro legitimamente, como o menino sanfoneiro gaúcho de 12 anos que foi impedido de continuar ganhando dinheiro com sua arte, a história é bem diferente.
Pois bem: o missionário Miguel foi proibido, pelo Conselho Tutelar, de fazer suas pregações por tempo indeterminado. Sim, por tempo indeterminado - o que praticamente suspendeu, por completo, sua carreira como evangelizador, ou como celebridade gospel, fica a seu critério. Todos os eventos já agendados precisarão ser cancelados, e Miguel também foi obrigado a se afastar de suas redes sociais. Por fim, o Conselho Tutelar também determinou que o rapaz voltasse às aulas presenciais - porque, com o sucesso obtido e a agenda cheia, Miguel optou por fazer aulas online.
É desnecessário dizer o que esse caso representa, sob o ponto de vista libertário. Estamos, mais uma vez, diante de mais um grave abuso estatal - pra variar. É claro que, já neste momento, alguém pode argumentar: “Mas o Miguel não estava mesmo errado, enganando as pessoas com profecias sem pé nem cabeça e falsas curas?”. Bem, esse tipo de coisa é sim questionável, mas não representa uma violação da ética libertária - e não foi por isso que o estado agiu, pra começo de conversa.
A atuação do Pastor Mirim se encontra em algo que podemos chamar de “zona cinzenta da moralidade”. Você pode, sim, afirmar que as pregações do Miguel não passam de um golpe, de uma indução, de exploração da fé e da credulidade de pessoas emocionalmente vulneráveis - e eu tenderia a concordar com você, nesse ponto. A verdade, contudo, é que ninguém consome os conteúdos produzidos pelo Miguel - seja presencialmente, seja nas redes sociais - por obrigação. Vai aos cultos quem quer, assiste aos vídeos quem quer, faz doação de mil reais via PIX quem quer.
Em resumo: a atuação do missionário/profeta mirim não fere a ética libertária, embora possa, sim, ser moralmente questionável. Saiba, por exemplo, que minha opinião pessoal é de que as pregações do Miguel são qualquer coisa, menos Evangelho de verdade. Mas não são, definitivamente, criminosas.
Já o estado - bem, esse ente sim é antiético. E, no caso do jovem pregador, a coisa não é diferente. Embora a existência de um órgão estatal cujo alegado objetivo é “proteger as crianças” possa enganar algumas pessoas mais sensíveis, o fato é que a ação de algo como um Conselho Tutelar fere a liberdade de indivíduos pacíficos. Entenda: esse tipo de decisão deve competir, em primeiro lugar, à família. Não há nada de absurdamente prejudicial na ação do Miguel - pelo menos, à sua própria vida. Não há provas de que sua carreira como pregador tenha, por exemplo, prejudicado a sua saúde ou o seu desenvolvimento físico.
“Ah, mas ele estava sendo prejudicado quanto aos estudos” - alguém pode afirmar. Contudo, não é isso o que se percebe, na prática. Miguel Oliveira claramente tem um bom domínio da língua portuguesa - embora não se possa dizer o mesmo a respeito do inglês e, principalmente, da língua dos anjos. O garoto é bastante articulado, sabe se expressar bem e sabe expor seus argumentos - muito melhor, diga-se de passagem, que 95% dos jovens de sua idade. Talvez, até mais do que isso.
Em outras palavras: estudar online não tem feito Miguel se tornar mais burro. Aliás, nem mesmo os seguidores mais fiéis do “Profeta Migué” - como o chamam seus detratores - seriam capazes de acreditar que não frequentar o ensino regular brasileiro faz falta para alguém!
Além do mais, sejamos sinceros: não estamos falando de uma criança. Embora a lei estatal dê margem sim para a atuação do Conselho Tutelar, o fato é que Miguel já é bastante grandinho para poder fazer certas escolhas relativas à sua vida - principalmente se elas tiverem potencial para melhorar sua vida futura, como parece ser o caso. Miguel escolheu pregar o Evangelho - ou ganhar uma grana generosa, se você assim preferir. E, ao que tudo indica, ele se deu muito bem em sua escolha.
E ele, certamente, sabe que seu sucesso se assemelha ao sucesso de influencers e músicos do momento - que estouram nas redes sociais para, dali a alguns meses, não serem mais lembrados por ninguém. Por isso, eles precisam aproveitar o hype para levantar uma grana boa e fazer seu pé-de-meia. Se o pregador Miguel for mesmo esperto, certamente ele já está salvando parte de suas rendas como missionário em Bitcoin, para que, num futuro não tão distante assim, nem precise mais trabalhar. Se é que podemos considerar o que ele faz hoje como exatamente um trabalho…
Veja, portanto, que, em primeiro lugar, Miguel Oliveira e sua família não estão cometendo nenhuma violação da ética libertária. Não há indícios de que o rapaz esteja sendo obrigado a fazer o que faz por seus pais. Na verdade, seu pai afirmou, inclusive, ficar preocupado com a rotina “puxada” que o filho tem levado. Da mesma forma, quem frequenta os cultos do Miguel e o segue nas redes sociais o faz porque quer. Se alguém faz uma oferta em dinheiro em troca de milagres e profecias - bem, isso parece não ser muito sensato, mas também é uma escolha pessoal. O sucesso do Miguel, portanto, decorre de escolhas voluntárias, feitas por todos os envolvidos. Onde está o crime, aí?
E, em segundo lugar, Miguel Oliveira deve estar se dando muito bem, financeiramente, nessa história. Novamente: não é possível confirmar os valores que ele, eventualmente, tem recebido - e nem é o objetivo deste vídeo fazê-lo. Porém, num país em que incontáveis jovens de sua idade, ou até menos, ganham rios de dinheiro divulgando cassinos online e esquemas de pirâmide, ou mesmo cantando músicas horrorosas que enaltecem crimes reais e depravação - bem, não parece ser um absurdo ver um adolescente falar de religião. Não há, portanto, nenhum prejuízo ao rapaz nessa história.
Espero que, para o bem da liberdade individual - que, no Brasil, já se tornou praticamente um mito, - Miguel possa voltar a fazer o que gosta - pregar para grandes plateias e fazer seus espetáculos gospel. E também espero, apenas para equilibrar o argumento, que os cristãos brasileiros fiquem mais espertos, para não serem enganados por qualquer engravatado que fala bonito e promete coisas atraentes. Principalmente, se estivermos falando de um adolescente que deveria estar, isso sim, crescendo em sabedoria, graça e estatura, como o Senhor Jesus mesmo fazia, em sua adolescência.
Pois é, meu amigo: esse é o estado! Esse ente parasitário e violento conseguiu me fazer ficar ao lado do pastor mirim! Mas essa é a verdade a respeito do libertarianismo: não se trata de gostar de algo, ou ter preferência por determinada prática. Gostos pessoais, decisões morais, convicções religiosas - tudo isso pertence ao foro íntimo, e não toca o tema principal do que defendemos por aqui. Defender a liberdade do Missionário Miguel e seu direito de pregar para quem quer ouvi-lo não é endossar suas palavras e ações. É colocar, acima de diferenças de pensamento, a liberdade e o direito à autopropriedade, preservando esses fundamentos das garras do estado. Como cristão, portanto, quero que o Evangelho de Cristo prospere. E, como libertário, espero que o Miguelzinho vença essa batalha contra o estado.
https://www.brasilparalelo.com.br/noticias/quem-e-miguel-oliveira-conhecido-como-profeta-mirim-e-se-tornou-alvo-de-polemica-na-internet
https://exatanews.com.br/conselho-tutelar-impede-crianca-de-tocar-sanfona-e-no-caso-mam-pode--710404