04 Nov. 2023
Escritor: Historiador Libertario
Revisor: KoreaComK
Narrador: KoreaComK
Produtor: Historiador Libertario

Os Piratas Edelweiss, a juventude que desafiou o Terceiro Reich

Conhecemos bem a brutalidade desumana dos nacional-socialistas alemães, mas apesar do rigoroso sistema de doutrinação nas escolas, alguns jovens se rebelaram contra o regime. Foi no final da década de 1930, quando o governo estava consolidado e parecia ser invencível, que surgiu o primeiro grupo de piratas Edelweiss, no oeste da Alemanha. Esse nome remete às flores agarradas nos penhascos dos Alpes austríacos. Os jovens que integravam estes grupos eram adolescentes que tinham entre 14 e 18 anos. Eram totalmente opostos ao que pregava a rigorosa organização alemã, a Juventude Bigodista, que era uma instituição de natureza paramilitar com membros doutrinados pelo dogma de superioridade racial e segregação de gênero.

O objetivo principal da Juventude Bigodista era puramente doutrinário e de futuramente criar homens e mulheres a serviço do estado e da máquina de guerra alemã. Nessa associação, que era compulsória para os jovens, as crianças e adolescentes aprendiam sobre artes e esportes. No entanto, de forma enviesada e com censura, sendo usados como instrumentos do estado. A insatisfação daqueles que amam a liberdade fez surgir grupos de dissidência. A verdade é que caso alguns desses jovens se recusassem a participar da instituição, o governo imporia sérias restrições às suas famílias, e ninguém queria isso. Assim, cerca de 90% das crianças teriam entrado em algum momento na Juventude do Bigodinho.

Felizmente, alguns adolescentes rebeldes, que seriam vistos como inimigos do estado, romperam suas ligações com o governo, tanto política e filosoficamente, quanto culturalmente, tornando-se dissidentes. Esses Piratas Edelweiss gostavam de romper alguns padrões, por isso, deixavam os cabelos crescerem e adoravam escutar música americana, como o jazz. Isso era uma forma rebeldia contra as imposições sociais. Pouco depois, o regime iria determinar que todos aqueles ouvindo certas músicas estrangeiras deveriam ser vistos como suspeitos, e espancados sem misericórdia.

Havia subgrupos de Piratas como os Navajos, localizados em Colônia, os Piratas Kittelbach de Oberhausen e Düsseldorf e também o grupo de Essen. Nas palavras de um oficial nacional-socialista, “toda criança sabe quem são os Piratas Kittelbach. Eles estão em todos os locais; há mais deles do que os membros da Juventude Bigodista. Eles espancam as patrulhas. Nunca aceitam um não como resposta”.

Durante os momentos de dificuldade da Segunda Guerra Mundial, muitos membros dos grupos piratas rebeldes apoiaram os exércitos aliados e colaboravam com os alemães que desertavam do exército. Eles também prestavam ajuda aos fugitivos dos campos de concentração e demais vítimas do regime. Uma das táticas de resistência desses jovens alemães era coletar folhetos de propaganda anti-nacional-socialista, que eram lançados pelas aeronaves aliadas, e os distribuíam pelos correios. Eles pichavam em muros “Abaixo Bigodinho”, “Fim da brutalidade alemã”, entre outras coisas. Claro, se esses jovens da resistência contra a tirania do Bigodinho fossem pegos, a consequência era brutal, e implicava em morte certa. Alguns deles foram enviados para reformatórios, hospitais psiquiátricos ou mesmo condenados a fazerem trabalho forçado. Outros não escaparam dos métodos de tortura ou sentenças de morte.

Esses rebeldes frequentemente se reuniam em esquinas pouco movimentadas para realizar suas reuniões sigilosas, faziam acampamentos e caminhadas, o que representava um desafio às restrições de circulação imposta pela ditadura. Gostavam da liberdade, negavam a rigidez do regime desumano que castrava o espírito livre, e foram construindo sua subcultura com suas músicas e estilos de vida. Tinham como slogan a frase: “Guerra Eterna contra a Juventude Bigodista”. Realmente, numa sociedade onde a propaganda era constante, poderosa e manipuladora, esses jovens tinham um espírito livre e não se deixaram levar pelas mentiras do regime, o que era difícil. Imagina viver numa época onde não havia internet e divergência de ideias, onde todo o sistema de ensino, imprensa, literatura eram estritamente controlados por uma ditadura de partido único? E que tivesse poucos aliados do seu lado, e um exército de milhões de pessoas contra você?

Apesar de ser formado por rapazes e moças jovens, os grupos piratas tinham uma estrutura organizada e só foram crescendo com o desenrolar da guerra. Algumas estimativas sugerem que no fim da guerra, havia cerca de 3 mil Piratas Edelweiss situados em Colônia, além de outras centenas em outras cidades. Esses rebeldes que buscavam seu próprio caminho não estavam aliados e dependentes de nenhuma organização política ou religiosa.

Uma historiadora do Centro de Documentação sobre o nacional-socialismo em Colônia, Nicola Wenge, revelou que esses grupos de jovens, em suas palavras, “criaram sua própria subcultura nas regiões do Reno e do Ruhr, ao usar determinado estilo de roupas, cantar suas baladas românticas e, mais tarde, canções anti-nacional-socialistas”. Esses jovens geralmente levavam seus instrumentos musicais como gaita e violão para se divertirem em suas viagens, que eram feitas na natureza por meninos e meninas, ao contrário da segregação que havia na juventude bigodista. Wenge ainda acrescenta que “por esta razão, eram perseguidos pela Juventude de Hitler, pela polícia comum e pela Gestapo. Até mesmo a justiça os tratava como criminosos e delinquentes sexuais”. Para Sally Rogow, do Centro de Educação do Holocausto de Vancouver, os Piratas Edelweiss foram, em suas palavras, “um dos maiores grupos de jovens que se recusaram a participar de atividades de jovens alemães”.

Mas antes da guerra e dos problemas que o governo alemão enfrentaria com as dificuldades impostas pelo conflito, a resposta dos nacional-socialistas aos grupos de piratas foi mais leve. Esses jovens rebeldes eram vistos desde o início como irritantes, mas não estavam inclusos na política de terror seletivo do regime. No entanto, com o prosseguimento de uma guerra que parecia não ter fim, após reveses sérios aos alemães, as punições a esses jovens foram se tornando mais brutais. Até porque, muitos piratas estavam sabotando o esforço de guerra alemão e prejudicando uma possível vitória destes. Alguns deles roubavam alimentos e mercadorias dos negócios ou dos trens de carga, ou descarrilavam vagões de trem lotados de munições, causando perdas severas às forças militares.

Antes de 1944, os indivíduos identificados pela temida Gestapo como membros de gangues eram geralmente presos e soltos com a cabeça raspada, como uma forma de gerar vergonha perante o público. Alguns desses jovens chegaram a parar em campos de concentração organizados especialmente para os alemães problemáticos ou aqueles detidos temporariamente em prisões regulares. Mas foi em 25 de outubro de 1944 que o terrível chefe da SS e carrasco de Hitler, Heinrich Himmler, impôs uma nova ordem para reprimir totalmente grupos da resistência alemã. Assim, em novembro do mesmo ano, cerca de treze pessoas que pertenciam aos grupos de piratas, como os chefes do Ehrenfelder Gruppe, foram enforcados publicamente em Colônia. Entre os piratas Edelweiss que foram enforcados estavam seis adolescentes, entre eles Bartholomäus Schink, um ex-membro dos Navajos locais.

Infelizmente, a história desses grupos de resistência juvenis é pouco conhecida e divulgada, mas isso está começando a mudar. Nossa missão como libertários é trazer novamente à memória a bravura dessas pessoas que sacrificaram suas preciosas vidas para defender o que era certo. Muitos de fato não compactuavam tanto com a ideologia nacional-socialista e o rigor do regime, que impunha aos alemães várias privações e censuras. Mas quantas pessoas realmente agiram e tiveram coragem de enfrentar a tirania? Esses jovens piratas eram repudiados principalmente por quem deveriam apoiá-los, os outros alemães, garotos e garotas, que eram doutrinados e enganados na Juventude Bigodista, enquanto estavam sendo preparados para morrer pelo ditador.

A guerra criada pelo belicismo expansionista do Bigodinho impôs uma vida de penúria, pobreza, sofrimento e amargura a milhões de alemães que ainda tinham fé no nacional-socialismo. Afinal, não é no coração e mente de todos que vibra os mais belos hinos da liberdade, e se libertar de anos de lavagem cerebral não é fácil. Mas só alguns estão preparados para morrer por isso e se sacrificar para mudar um mundo e deixar um legado grandioso. Com certeza, esses grupos de resistência criado por cidadãos alemães nos mostram como a tirania nacional-socialista foi brutal e não perdoava nem mesmo adolescentes rebeldes. Numa de suas canções, podemos ver o amor que tinham pela liberdade, ao cantarem: “Nossa música está cheia de liberdade, amor e vida. Somos os piratas de Edelweiss”.

Como libertários devemos educar nossos filhos e parentes sobre o legado e a bela história desses corajosos resistentes que deram a vida pela liberdade, para inspirar uma nova geração que enfrentará qualquer tirania. Os jovens piratas não podem ser esquecidos, pois ao estudar esse período obscuro que os alemães viveram, temos a falsa impressão que todos os jovens eram massa de manobra, que não tinham pensamento crítico.

Enfim, não podemos nunca culpar todos os alemães, afinal, os erros e os crimes cometidos naquele período precisam ser individualizados. Muitos homens sob o regime do Bigodinho decidiram por livre e espontânea vontade servir ao exército nacional-socialista e outros grupos paramilitares mais cruéis como a SS, e cometiam crimes sem pensar. Tantos outros alemães trabalharam na cruel e desumana burocracia que era apenas uma engrenagem sem alma da opressão do estado. A lei da violência, injustiça e tirania era cumprida sem hesitação. Outros tantos foram obedientes guardas de campos de concentração, e apenas cumpriam ordens sem questionar, mas os jovens piratas, esses, sim, merecem o devido reconhecimento e respeito por toda a eternidade.

Além desses bravos, o grupo Rosa Branca dos irmãos Scholl nos traz inspiração e nos prova que nem todos são apáticos à tirania e às injustiças impostas pelas mentiras dos governos. Deixamos como recomendação o vídeo já lançado aqui no canal “Os irmãos que desafiaram Bigodinho”, para conhecer um grupo de homens e mulheres que deram a vida pela liberdade.

Referências:

Visão Libertária – Os irmãos que desafiaram Hilter: https://youtu.be/LC8uzUDTGM8 https://www.youtube.com/watch?v=Bkz5o15eakY https://youtu.be/N6I01zk37Vc https://cwblacks.wordpress.com/tag/os-piratas-edelweiss/ https://pt.wikipedia.org/wiki/Piratas_de_Edelweiss https://pt-contrainfo.espiv.net/2011/09/22/alemanha-os-piratas-de-edelweiss/ https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/vitrine/historia-os-adolescentes-que-tentaram-derrubar-hitler.phtml

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