Mexicanos NÃO QUEREM MAIS ir pros EUA, o que isso significa?

Existem alguns mexicanos que mesmo com a oportunidade de migrar pros Eua preferem continuar em seu país, mas o que isso significa?

A BBC recentemente fez uma matéria sobre os relatos dos mexicanos Vicente Cruz, Damián Palacios e Francisco Máximo. A matéria conta que Vicente é um empreendedor que trabalha em diversas áreas, Damián acabou retornando dos EUA para o México e fundou uma rede de lojas de tortilhas para pagar a faculdade de seus filhos no Texas enquanto que Francisco é apenas um jovem comum que quer comprar um apartamento na capital mexicana.

Todos compartilham do mesmo sentimento de querer permanecer no México, mesmo com a chance de ir atrás do tão sonhado "sonho americano" que dezenas de milhares de imigrantes da América Latina correm atrás todos os anos, sendo que em 2023 o número passou dos 2 milhões de pessoas.

Um dos rapazes, Damián, afirma que "Temos uma moeda forte, muitas oportunidades de crescer e o carinho especial da terra". Embora nós, libertários, discordamos da parte da "moeda forte", o trio faz parte de um grupo de mexicanos que estão desistindo da ideia de sair do país pelo movimento coletivo e querendo ficar no México pelos seus próprios benefícios pessoais. Grupo esse que vem crescendo nos últimos anos.

Isso é algo surpreendente tendo em vista a imigração histórica de mexicanos para o vizinho do norte. Cerca de 40 milhões dos 300 milhões de habitantes dos EUA tem descendência familiar mexicana, dados esses vindos do próprio governo mexicano.

Mas em 2023, o Laboratório do Projeto de Opinião Pública da América Latina (Lapop) afirmou que o México é o país cujos habitantes têm a menor intenção de migrar em toda a região. E os números vêm baixando nos últimos cinco anos. Os números mostram que em 2018 e 2019, 19% das pessoas pesquisadas pretendiam emigrar do país, enquanto apenas 14% mantiveram essa intenção em 2023.

Pode parecer uma diferença pequena de porcentagem, mas pense que os números anuais de imigração chegam aos milhões, e uma pequena parcela disso pode afetar totalmente a economia de um local que receberá esse montante em massa. Uma pequena cidade perto da fronteira com 50 mil habitantes vai ter uma grande mudança social ao receber 10 mil imigrantes de uma cultura diferente da sua, e assim por diante.

Ariel Ruiz Soto, do Instituto de Política de Migração dos Estados Unidos, chegou a afirmar em uma reportagem: "Ainda existe uma quantidade considerável de mexicanos que continuam emigrando, sobretudo para os Estados Unidos, mas é visível que a migração está mudando e que a estabilidade da economia e o fortalecimento do peso mexicano podem ser fatores que influenciam esta tendência".

E de fato, embora a estabilidade no México ainda não seja alta e muito menos os cartéis mexicanos tenham deixado de existir, com quase 19 candidatos tendo sido mortos nas últimas eleições mexicanas, o país ainda está prosperando bem economicamente em comparação com o resto da América Latina nos últimos anos, devido principalmente a um controle maior de gastos e à preocupação em comparação com o vizinho do norte.

É óbvio que alguém que mora em um país dominado pelo crime ao lado de outro país com uma boa economia vai querer se mudar para lá buscando melhores condições, mas isso não é algo padrão para todas as pessoas, pois existem casos específicos em que isso não compensa.

O próprio Damián Palacios, que mencionamos anteriormente, acabou abrindo uma rede de tortilhas no México e faturou muito com isso, talvez mais do que se tivesse aberto nos Estados Unidos, devido ao gosto da população local. Existem oportunidades de negócios em todo lugar onde há pessoas, sejam poucas ou muitas.

O câmbio está cotado a cerca de 18 pesos mexicanos por dólar (dois anos atrás, estava a 20); o PIB cresceu mais de 3% em 2023, sendo um dos quatro maiores aumentos da região e tornando o México a segunda maior economia da América Latina, atrás somente do Brasil.

O próprio Banco Mundial afirmou uma vez que "ao longo das três últimas décadas, o México teve desempenho abaixo do esperado em termos de crescimento, inclusão e redução da pobreza, em comparação com países similares".

Além disso, as pessoas pobres e de classe média que moram ou imigram para os Estados Unidos falam que o "sonho americano" é algo muito mais idealista do que real, com o poder de compra e a meritocracia de ganhar muito se esforçando bastante não sendo algo alcançável. Embora seja importante lembrar que o valor de algo não se dá pelo esforço, mas sim pelo que é útil e como a sociedade vê valor no que é produzido e mede seu preço conforme a demanda e a produção desse item.

Antes, os Estados Unidos eram vistos como um refúgio para as pessoas de países do terceiro mundo junto da Europa, que ofereciam mais qualidade de vida e estabilidade econômica e política. Porém nos últimos anos isso tem diminuído cada vez mais, com os próprios cidadãos desses países relatando a piora do poder de compra junto ao resto do mundo.

Mas ao contrário do que os que idolatram as ditaduras ao redor do mundo dizem, isso não mostra um "colapso do império americano", já que países opostos como Rússia e China também estão com índices de piora na situação interna faz tempo, com a Rússia envolvida em uma guerra que enfraquece sua economia e a isola do resto do mundo.

A China também está com sua população prestes a decair devido às décadas da política de "filho único" que ficou em vigor por tanto tempo. Além disso, as empresas do ramo imobiliário estão quebrando no país junto de outras indústrias que fabricam estoques gigantes que ninguém compra e dão prejuízo, como as indústrias de bicicletas e carros elétricos.

O que temos não é uma queda do mundo ocidental liderado pela Europa e Estados Unidos, muito menos uma "ordem multipolar" que Putin tanto prega, pois não temos várias potências emergindo, mas sim todos os estados perdendo espaço para o setor privado por sua própria ineficiência.

As economias ao redor do mundo estão sendo afetadas pelas intervenções estatais e por ignorarem os princípios econômicos da escola austríaca de economia. A intervenção governamental tende a distorcer os mercados, interferindo na alocação eficiente de recursos e no funcionamento natural das forças de oferta e demanda. Os fundamentos da escola austríaca já nos alertaram a décadas sobre a importância da liberdade econômica e do respeito aos direitos de propriedade privada. O tempo está provando que estas são as únicas condições para um desenvolvimento econômico saudável.

O movimento desses mexicanos que permanecem no México e até dos mexicanos que vão para os Estados Unidos é um reflexo natural do mercado! As pessoas naturalmente buscam ir para lugares com mais oportunidades para viver bem, porque alguém que pode ter uma vida tranquila em uma cidade segura iria querer continuar vivendo em um lugar com guerra e miséria? Não atoa, todas essas ditaduras ao redor do mundo sofrem com a população fugindo de seus países.

Mas também existem pessoas que veem oportunidades melhores em lugares não tão populares e pequenos, que normalmente têm pouca concorrência e um mercado mais fácil, garantindo que a alocação de recursos sempre existirá para todos os lugares sem precisar de um comando centralizado para isso.

Embora o México possa estar numa situação de pequeno crescimento, ainda não podemos ter certeza alguma sobre o futuro do país ou de qualquer outro da América Latina, que, diferente dos outros, não possui reserva de valor e nem uma economia historicamente forte. Então, o que nos resta como indivíduos não é esperar sentados para que o governo resolva magicamente as coisas, mas sim buscar trabalhar para melhorar nossa própria vida, com ou sem o estado atrapalhando nesse processo.

Referências:

https://www.bbc.com/portuguese/articles/c255y295n8lo