Crise habitacional na ALEMANHA deixa universitários sem ter onde morar

As constantes intervenções do governo alemão na economia do país criaram um cenário de escassez de imóveis, que tem impactado, principalmente, os estudantes universitários.

Já faz algum tempo que a Alemanha vem sofrendo, duramente, com o problema da carência de moradias e habitação em geral. Embora todos os grupos sociais tenham problemas por conta disso, os principais impactados, especialmente nas grandes cidades alemãs, têm sido mesmo os estudantes universitários. Atualmente, o número de jovens que cursam o ensino superior e que não têm onde morar para estudar está na casa das dezenas de milhares.

Conforme o semestre de inverno nas universidades se aproxima, essa escassez se torna mais evidente. Alunos alemães (e estrangeiros) de primeira graduação e de especializações têm cada vez mais dificuldade em encontrar um leito numa casa de estudantes - algo conhecido, em outras partes do mundo, como “república”. Também o ato de dividir um apartamento com outros estudantes - algo muito recorrente aqui no Brasil - tem sido um grande desafio para os alemães.

Mas o problema não se restringe, apenas, à disponibilidade de leitos e de apartamentos nas grandes cidades. O fato é que os preços do aluguel são cada vez mais altos, uma vez que a demanda por moradia apenas aumenta, mas a oferta de novos imóveis está estagnada há um bom tempo. Em Munique, por exemplo, a estimativa é de que os estudantes universitários gastem, em média, 720 euros com aluguel - algo perto dos R$ 4 mil. E isso porque não estamos falando de moradias de luxo: em muitos casos, trata-se de uma cama ou um sofá para dormir!

O Instituto de Pesquisa Eduard Pestel realizou um estudo no começo do ano, no qual se constatou que a Alemanha possui um déficit de moradias equivalente a mais de 700 mil apartamentos. Também foi observado, em todas as cidades investigadas, um súbito aumento nos preços nos últimos anos. E isso é observado, especialmente, nas cidades universitárias - onde o número de jovens cursando o ensino superior não para de crescer.

É por isso que algumas organizações de estudantes e outras entidades filantrópicas têm trabalhado, na tentativa de mitigar esse problema. Por exemplo: a Associação Estudantil da cidade de Göttingen alugou um hotel para oferecer estadia, a preços reduzidos, para alunos que cursam suas primeiras semanas de estudos. Já a Associação Estudantil da Alemanha dispõe de 1700 dormitórios espalhados pelo país, contando ao todo com quase 200 mil vagas a serem ofertadas para os alunos. Ainda assim, existem 32 mil estudantes em sua lista de espera, procurando um leito para dormir. Os menos afortunados precisam recorrer a outras opções, como dormir em barracas de camping, por preços mais reduzidos.

Na capital Berlim, as casas de estudantes possuem uma lista de espera que chega a atingir 3 semestres! Por isso, para muitos alunos universitários, a alternativa é morar em cidades mais distantes, e se conformar com o deslocamento mais demorado. Para os estrangeiros, esse desafio se torna ainda pior. Pessoas jovens que vêm de outros países para estudar na Alemanha dificilmente conseguem comprovar renda ou encontrar um fiador para alugar um apartamento. Nesses casos, morar nas cidades universitárias se torna praticamente impossível.

Mas o que realmente agrava esse quadro deprimente é que os estudantes não estão sozinhos nessa. Eles competem por moradias mais baratas com outros grupos sociais: idosos, famílias jovens, pessoas com menor poder aquisitivo, refugiados, dentre outros. Acontece que a oferta de novos imóveis não consegue acompanhar o aumento da quantidade de pessoas buscando essas moradias. E você já sabe o que acontece quando a demanda começa a superar a oferta: os preços tendem a subir.

Muitos são os fatores que causaram esse cenário. Em primeiro lugar, é preciso mencionar o fato de que o ensino superior, como um todo, está deixando de ser viável - inclusive em um país rico, como a Alemanha. Já falamos sobre essa realidade aqui no Brasil, recentemente, no vídeo: “Pesquisa do IBGE conclui que estudar não garante renda maior no BRASIL” - link na descrição. Na maioria dos casos, o custo de se fazer um curso superior, de perder anos importantes de sua vida numa universidade e de gastar muita grana alugando uma casa para estudar, acaba se revertendo em dinheiro desperdiçado.

Na Alemanha, o número de estudantes universitários aumentou em 1 milhão nos últimos 15 anos. Agora, são quase 3 milhões de estudantes cursando o ensino superior por lá. Será que existe absorção no mercado alemão para tanta gente com diploma na mão? Talvez, a economia do país esteja apenas dando um recado para os estudantes. Ninguém se esforça para dar moradia para essas pessoas, porque sabem que esse investimento não vai ter retorno no longo prazo. Mas o debate segue adiante.

O grande problema dessa história, de fato, é realmente a interferência do estado na economia alemã. Por décadas a fio, uma série de medidas desastradas, tomadas tanto a nível nacional, quanto municipal, levaram ao atual estado caótico. Nós também já falamos sobre esse caso no vídeo “Congelamento de aluguéis e estatização de apartamentos: Uma tragédia anunciada” - link na descrição. Olhando em retrospecto, já podemos afirmar: parece que acertamos mais uma previsão.

Os últimos anos foram de uma brutal intervenção do estado no mercado imobiliário, especialmente nas grandes cidades. Por exemplo: a citada Berlim já chegou a fazer um referendo que, ainda que não fosse vinculante, trazia a ideia de que imóveis fossem desapropriados na cidade, para servirem à questão imobiliária. Num cenário desses, quem seria maluco de investir seus recursos ampliando a oferta de apartamentos e outras moradias? Afinal, amanhã ou depois, o governo pode simplesmente tomar tudo isso do cidadão!

Além disso, por diversas oportunidades, foram realizados controles de preços dos aluguéis nas grandes cidades, uma medida sabidamente desastrosa. Isso se soma, ainda, às burocráticas restrições para construções de imóveis, que precisam atender a uma série de requisitos que tornam qualquer investimento imobiliário algo muito mais caro do que deveria ser. Esse conjunto de fatores tira dos investidores o incentivo para colocar mais dinheiro nesse mercado. Afinal de contas, com o controle nos preços do aluguel, os proprietários sequer podem repassar os custos para os seus inquilinos!

De forma geral, portanto, as inúmeras restrições e entraves fazem com que a oferta de novos imóveis seja cada vez menor. Porém, como vimos, a quantidade de pessoas que buscam uma casa ou apartamento para alugar cresce cada vez mais. Temos, então, uma maior demanda, para uma oferta igual ou até mesmo menor, o que invariavelmente vai levar a preços cada vez mais altos. E se o proprietário não puder passar o preço adiante, então ele terá um incentivo a menos para colocar seu imóvel para aluguel. Teremos, então, uma oferta ainda menor, agravando um problema que já é crítico.

Por outro lado, se realmente houvesse plena liberdade econômica na Alemanha, o próprio mercado se encarregaria de resolver esse problema. Preços mais altos atrairiam novos ofertantes. Mais dinheiro seria destinado, pelos investidores, para a construção de apartamentos para aluguel, principalmente nas grandes cidades. Outros espaços existentes poderiam também ser adequados para oferecer leitos a preços mais baixos que uma casa completa. Novos imóveis seriam construídos, com características mais voltadas para os públicos que mais os demandam - como os universitários.

Com o tempo, esse cenário levaria a um equilíbrio entre oferta e demanda. Ou seja, os preços, no geral, tenderiam a diminuir, e a escassez de imóveis seria reduzida nesse processo. Em outras palavras: a solução para os preços altos é, em todos os casos, os próprios preços altos. Isso, é claro, se o mercado for deixado livre para agir e sanar os problemas, da forma mais eficiente e econômica possível.

Porém, muita gente não vê a coisa dessa forma. Não são poucos os que acham que a solução para esse problema reside - acredite ou não - em mais intervenção estatal. Por exemplo: Thomas Schmidt, encarregado de assuntos sociais do Comitê Geral Estudantil - isso soa bem socialista, não é mesmo ? - clama por mais intervenções. O sujeito diz que o governo precisa prover mais financiamento para construção de imóveis voltados aos estudantes, além de impor uma nova imposição de um teto para os aluguéis na cidade. Vai dar certo sim, amiguinho - pode confiar!

O atual problema habitacional na Alemanha decorre de uma série de fatores que possuem, em sua origem, a mesma praga: a ação estatal. Portanto, a única solução para essa crise é tirar o estado da equação, e deixar que o mercado resolva essa situação da melhor forma possível. Infelizmente, é muito difícil ver políticos admitindo os erros de suas políticas intervencionistas e voltando atrás, então não podemos esperar muito do governo alemão. Enfim, enquanto as diversas instâncias do governo alemão continuarem intervindo na economia do país, o cenário só vai se agravar e mais pessoas ficarão sem ter condição de comprar uma casa ou pagar aluguel. E veremos, com mais frequência, universitários alemães e estrangeiros sem ter onde morar.

Referências:

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-58728481

https://www.youtube.com/watch?v=tvcoSQwpVco